A Igreja Universal afirma que vai recorrer da decisão da Justiça que deu o direito a um motorista de receber de volta R$ 2 mil de uma doação feita à igreja. “A assessoria jurídica da instituição está providenciando as medidas necessárias”, informou em nota.
O que era para ser apenas um ato de fé se transformou agora num pesadelo para o motorista Luciano Rodrigo Spadacio, de 28 anos, morador de Sud Menucci, a 560 quilômetros de São Paulo.
– Teria sido melhor se isso tivesse acontecido com outra pessoa – afirmou.
Há dez anos, ele vendeu o único bem que tinha – um Del Rey – e entregou todo o dinheiro, cerca de R$ 2,6 mil, para um pastor da igreja Universal, com a promessa de que mudaria de vida. Em decisão inédita, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a Universal a devolver todo o dinheiro ao fiel, acrescido de juros.
O TJ concluiu que Luciano foi induzido ao erro. O motorista entregou dois cheques ao pastor, na época. Ele conseguiu sustar um, no valor de R$ 600, mas o primeiro, de R$ 2 mil, chegou a ser resgatado.
Na época, Luciano morava com os pais no município de General Salgado, no interior de São Paulo.
– Vendi o carro porque realmente acreditava naquilo.
O motorista ia aos cultos da Universal quatro vezes por semana. Hoje, ele diz que não segue nenhuma outra religião.
– Depois disso, minha fé diminuiu – afirma.
Luciano disse que o dinheiro não vai mudar em nada a sua vida financeira, apesar das dívidas que têm.
– Me diz, quem não tem uma dívida? Mas não sei se vou ficar com os R$ 2 mil. Acho que vou comprar tudo em cesta básica.
Hoje, ele trabalha como motorista de uma destilaria em Sud Menucci e mora em uma república com o filho de quatro anos, deixado pela mãe. Por mês, ele ganha pouco mais de R$ 1,5 mil.
O ex-fiel explicou que foram os pais que o pressionaram a entrar com uma ação contra a igreja Universal do Reino de Deus.
– Eles sempre foram contra. Quando ficaram sabendo disseram que era um absurdo.
Quando ocorreu o fato, o motorista disse que era uma pessoa que “vivia a fé da igreja” e que o valor doado não importava.
– Na época, teria dado mais, se pudesse. Eu realmente acreditava que poderia mudar de vida – acrescentou.
De acordo com a decisão judicial, o fiel foi convencido a fazer o que não queria, com a promessa de que sua situação financeira melhoraria se entregasse o que tinha à igreja. Segundo o advogado de Luciano, ele deve receber o dinheiro dentro de dois meses.
Fonte: O Globo