Foi Karl Marx quem afirmou que “a Religião é o ópio do povo”. Em outras palavras, o filósofo alemão quis dizer que a Igreja tem servido como válvula de escape de uma sociedade oprimida, que busca na fé a esperança de dias melhores.
No sul da Flórida, região onde os indocumentados – como em toda a América – estão sofrendo com a legislação cada vez mais severa e que particularmente passa por grave crise financeira, as igrejas, especialmente evangélicas, experimentam um crescimento no número de membros de um ano para cá.`
Na comunidade brasileira não é diferente e algumas denominações chegaram a aumentar em mais de 100% a sua congregação de fiéis: pessoas que, em muitos casos, recorrem aos templos motivadas pelo desespero. As igrejas, por sua vez, têm procurado cumprir a sua missão e representam o ponto de apoio dos imigrantes nos Estados Unidos. “Na hora do aperto e sem ter a quem apelar, muitos recorrem a Deus”, admite o pastor Moisés Monteiro, da New Life Brazilian Christian Church.
A igreja, que fica em Pompano Beach há 14 anos, possui atualmente 500 membros, sendo que pelo menos metade deles chegou de um ano para cá, justamente quando a situação para os imigrantes começou a complicar. Moisés ressalta que, além do conforto espiritual, a Igreja funciona como um centro de informação e atendimento para os estrangeiros: “Ajudamos a comunidade através do banco de empregos, mantimentos para famílias carentes, exames médicos gratuitos e até suporte financeiro para quem precisa”.
O pastor ressalta ainda que esta estretégia funciona desde a época de Cristo: “O povo de Israel ia até Jesus quando tinha fome, pois sabia que Ele podia multiplicar os alimentos. É o papel da igreja e nisso que podemos fazer a diferença”, lembra o líder, que também é presidente da Associação de Pastores do Sul da Flórida. Ele afirma que a maioria destes neo-cristãos que chegam em momentos de desespero se convertem e continuam fiéis mesmo depois de as dificuldades passarem.
“Apoio moral é o principal”
Do mesmo, a Assembléia de Deus de Pompano Beach (Mission International Ministry) mantém um ministério de ação social, que tenta colaborar com empregos e outras necessidades básicas. Mas o principal, segundo o pastor Pulo Lucas Sacramento, é o apoio moral. “O brasileiro aqui da Flórida, de um modo geral, está longe da família e a igreja funciona com um ponto de encontro social, onde é possível compartilhar das mesmas sensações e experiências. Somos uma grande família”, diz.
Representação política
Ele destaca que a comunidade não tem meios políticos de se fazer representar junto às autoridades norte-americanas, daí a importância da Igreja: “Nossa força está na oração, que é capaz de mudar os rumos de um país como os Estados Unidos”, explica Paulo Lucas. Sua congregação possui hoje mais de 350 membros e vem crescendo muito nos últimos tempos.
Fé circunstancial
Um dos maiores líderes religiosos dos brasileiros do sul da Flórida, o pastor Silair Almeida, da Primeira Igreja Batista, não nega a procura maior pela religião em tempos bicudos, mas enfatiza de que o compromisso com a religião independe da condição da pessoa. “Como disse Habacuque, em sua oração a Deus, ‘ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vida, eu me alegrarei no Senhor’. Ou seja, os membros não podem ser circunstanciais, mas devem ter a convicção que o Pai tem o melhor para todos nós”.
Mesmo assim, Silair e a Primeira Igreja Batista não descuidam do trabalho social junto à comunidade: há o banco de empregos, os conselhos de uma equipe de especialistas em diversas áreas (jurídica, financeira, psicológica etc.) e o projeto cesta básica, que acontece há 15 anos. “Os imigrantes da Flórida sofreram dois baques grandes nos últimos meses e qualquer ajuda é fundamental”, conta Silair, que coordena os trabalhos de uma congregação com mais de dois mil membros regulares. A igreja, inclusive, integra a lista das Top 100 nos Estados Unidos que demonstraram crescimento mais rápido em 2005.
Fonte: AcheiUSA