Padres exigem cheque-caução contra o tradicional atraso da noiva e proíbem até músicas de filmes ou novelas.
Para se casar hoje em uma tradicional igreja católica, não basta à noiva dizer o “sim”. Em alguns casos, é preciso ir a 12 missas, com visto de presença dado pelo padre, pagar multa por atraso e deixar de lado canções hollywoodianas.
Por respeito à religião ou para coibir excessos, ao menos 11 igrejas na capital e no interior, entre as mais procuradas para casamentos, criaram restrições na cerimônia.
Uma máxima entre as paróquias é quebrar uma tradição: o atraso da noiva.
Ao menos três igrejas exigem dinheiro ou cheque-caução. Caso a noiva respeite o horário, o valor é devolvido.
É o caso do Mosteiro de São Bento, no centro da capital, e da catedral e da Nossa Senhora de Fátima (Estigmatinos), em Ribeirão.
Na catedral, a medida parece ter surtido efeito. Segundo o padre Francisco Zanardo Moussa, todos os cheques-caução (de R$ 800) foram devolvidos, porque as noivas foram pontuais.
“Antes, já houve atrasos de até 40 minutos. Prejudica a própria celebração”, diz.
Outras regras são para preservar prédios históricos. “Já tivemos decorador que usou pregos nos bancos centenários para fixar arranjos”, disse a cerimonialista Alessandra Paciullo, responsável pelos eventos no mosteiro.
Velas em arranjos nos corredores foram proibidas na Igreja Matriz do Bom Jesus da Cana Verde, em Batatais, para evitar danos aos quadros de Candido Portinari.
A igreja criou “uma lista enorme de regras”, segundo palavras do próprio padre Pedro Ricardo Bartolomeu.
Uma delas antecede a cerimônia. Além do curso de noivos, o casal deve assistir a 12 missas-o padre carimba o papel ao final. “Uma obrigação do cristão é a missa dominical. Não é exagero, é questão de compromisso.”
Músicas de filmes ou novelas são criticadas. O mosteiro na capital só permite canções sacras ou clássicas.
E o veto vai além. Na Cruz Torta, no Alto de Pinheiros, o padre Renato Cangianelli proibiu a canção “Also Sprach Zarathustra”, mais conhecida pelo filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”.
“Sempre coloco a música aos noivos e pergunto do que se lembram. Todos dizem: macacos.”
Algumas das regras “cortam” o sonho de noivas como de Carla Borges Oliveira, 32, que planejava um número maior de padrinhos (leia texto abaixo).
[b]PROFANO[/b]
Outra tradição, a de jogar arroz nos noivos, é vista como superstição.
“Deve-se separar o sagrado do profano. Além de superstição, é jogar alimento no chão”, afirma o padre André Batista de Oliveira, do Mosteiro de Nossa Senhora do Divino Espírito Santo, de estilo gótico, em Claraval (MG).
A veste sensual das madrinhas já provocou alvoroço na igreja Nossa Senhora do Brasil, uma das “top” paulistanas. “Por causa da moda, as pessoas perdem a noção de que estão em um local religioso”, defende o padre Michelino Roberto.
Para as esquecidas, há echarpes de diferentes cores disponíveis na igreja.
Segundo os religiosos, cabe a cada diocese ou arquidiocese criar regras para casamentos em suas paróquias.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]