O carro alegórico em que desfilará o Rei Roberto Carlos já está provocando reações da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Antes mesmo de ser concluído no barracão da Beija-Flor de Nilópolis, na Cidade do Samba, o carro alegórico em que desfilará o Rei Roberto Carlos já está provocando reações da Arquidiocese do Rio de Janeiro. A alegoria terá diversas imagens ligadas à Igreja Católica, como face de Jesus Cristo, quatro imagens de Nossa Senhora e anjos que cercarão o carro, já na fase de acabamento. Centenas de crianças desfilarão ao lado de Roberto Carlos, e objetivo é representar o céu. A Arquidiocese pretende visitar o barracão para analisar a obra.
O diretor de Carnaval da Beija-Flor, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, explica que o carro representa a religiosidade do Rei. Ele não acredita que a escola tenha problema. Alega que não tem como falar de Roberto Carlos sem mostrar sua fé. “Não estamos denegrindo qualquer símbolo da Igreja, mas exaltando a fé e a religião presentes no cotidiano do Roberto Carlos, nosso homenageado. Além disso, não representamos Jesus Cristo, mas um ser de luz”, defendeu-se.
Ao saber das imagens católicas no desfile da escola mais vitoriosa dos últimos anos do Carnaval carioca, a Arquidiocese do Rio afirmou que vai procurar a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Ontem à noite, a Liga alegou não ter conhecimento do fato. “Não estou sabendo de nada. No entanto, assim que recebermos qualquer comunicado, tomaremos as providências”, disse, sem entrar em detalhes, o responsável pelo setor de Comunicação da Liesa, Vicente Dattoli.
O procedimento padrão adotado pela Arquidiocese em polêmicas semelhantes ocorridas nos anos anteriores com agremiações foi o envio de representantes até o barracão da agremiação envolvida, fato que deverá se repetir este ano. “Ainda estamos checando melhor os detalhes. Não podemos descartar nada. É provável que haja uma visita ao barracão da Beija-Flor”, informou a assessoria da instituição religiosa.
Além da alegoria, uma ala do desfile fará alusão às aparições de Nossa Senhora. No entanto, Laíla não adiantou como será a fantasia. “Cumprir o que determina o Artigo 208 do Código Penal Brasileiro (… ‘não vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso’)” é o que diz o regulamento da Liesa no Artigo 27, Parágrafo 15. Com o enredo A simplicidade de um rei, a Beija-Flor será a sexta e última escola de samba a desfilar na segunda-feira de Carnaval – dia 7 de março.
O carnavalesco Chico Spinoza criticou a interferência da Igreja. “Classifico como incompatível. O desfile de escola de samba não é lugar de religiosos. Eles têm que se preocupar com o templo deles”, revolta-se. Atualmente ele atua na Tom Maior, escola de samba de São Paulo.
Já o carnavalesco Milton Cunha comentou que prefere não envolver os principais símbolos religiosos da Igreja Católica na que é considerada a maior festa popular do planeta. Para ele, a exibição de corpos e o excesso cometido durante os dias de folia não combinam com a fé. “Acho que o sagrado deve estar separado do profano. Considero complicado demais envolver, por exemplo, imagens de Jesus Cristo e Moisés. Uma boate já me chamou para decorar paredes com santos e não aceitei”, opinou.
A Beija-Flor de Nilópolis já esteve envolvida em polêmica semelhante, no ano de 1989, quando o então carnavalesco Joãosinho Trinta ousou em trazer a imagem do Cristo Redentor como mendigo logo no carro abre-alas. Na ocasião, a escola trazia o enredo Ratos e urubus, larguem minha fantasia.
Uma liminar da Justiça do Rio acabou obrigando a agremiação a cobrir a escultura do Cristo Redentor, que foi para a Marquês de Sapucaí envolta num plástico preto e carregando a faixa com os dizeres “Mesmo proibido, olhai por nós”. A Beija-Flor foi vice-campeã naquele ano e no desfile das campeãs retirou parte do plástico da imagem.
Depois desse caso, houve mais interferências no Carnaval do Rio, o que chegou a revoltar alguns carnavalescos. Em 2000, a Unidos da Tijuca trazia o enredo Terra dos Papagaios… Navegar foi preciso, sobre o descobrimento do Brasil, e Chico Spinoza – então carnavalesco – foi proibido de mostrar na Sapucaí uma cruz e um painel de Nossa Senhora da Boa Esperança. A polícia interveio e a escola desfilou com as alegorias cobertas.
A Unidos do Viradouro teve problemas nos anos de 2004 e 2008. No ano seguinte, a Porto da Pedra recebeu visita de membros da Arquidiocese do Rio pela existência de uma alegoria com a figura de um padre e que retratava a Idade Média, além de citar o período da Inquisição. Após a polêmica, o carro alegórico foi liberado pela Igreja.
[b]Fonte: Terra[/b]