A Igreja Universal do Reino de Deus inaugura neste domingo o Templo Maior, localizado na Avenida Epitácio Pessoa. O novo espaço religioso vem chamando a atenção do arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto (foto), que enviou nota à imprensa sobre o assunto.
Para ele, “a proliferação desse e de outros grupos congêneres deve-se às promessas propaladas por seus líderes, induzindo o povo de boa fé a alcançar a prosperidade material em formas imediatistas”.
Ele lembra que os bispos mantêm plantões de atendimentos, “atraem pessoas que buscam respostas para os seus problemas emocionais e financeiros, como num pronto-socorro espiritual”.
Dom Aldo diz que “independentemente da confissão religiosa particular, evangélica, católica, espírita ou livre-pensadora, as pessoas acumuladas de problemas são orientadas a freqüentar sessões de doutrinação, curas, exorcismos e ‘descarregos’.”
Ele questiona como templos suntuosos são construídos em breve espaço de tempo. “Por certo, rola muita grana nas mãos dos ‘servos e obreiros’. Episódios ligados à corrupção política e a escândalos financeiros foram fartamente comentados através da mídia. Quem não se lembra das malas cheias de dinheiro em mãos de ‘pastores’?”
Segundo Dom Aldo, “a mercantilização da fé, altamente rentável, é um fenômeno moderno. A fé tornou-se um insumo negociável barganhada por prosperidade material. Daí a expectativa de curas, libertação de doenças, resolução para encrencas sentimentais, explorando superstições, vinculando-as aos símbolos religiosos, atraindo pessoas não esclarecidas”.
O pastor Fausto Oliveira, que se pronunciou com relação às palavras de Dom Aldo sobre Templo Maior, disse que lamenta a posição do arcebispo da Paraíba. “Espero que essa seja uma opinião isolada de Dom Aldo. Inclusive, tenho familiares na Igreja Católica e recebi vários telefonemas de pessoas indignadas com o que ele fala da Universal”, disse.
Fausto Oliveira afirma que não quer polemizar, mas alfineta dizendo que “talvez, o arcebispo tenha se equivocado e soltado a nota precipitadamente. Não quero crer que seja ciúme ou até inveja porque ele não tem um ambiente climatizado para mais de cinco mil pessoas, na Epitácio Pessoa”.
Com relação ao valor, ele disse que isso só interessa aos fiéis. “A gente sempre informa, através de boletins, todo o dinheiro arrecadado e para onde ele será destinado. E as pessoas ficam sabendo de tudo. Agora, quem não deveria falar nada era Dom Aldo, que, ele sim, tem um passado negro no Ceará, inclusive, saiu em toda a imprensa”, disse.
Leia, na íntegra, a nota abaixo:
A fé mercantilizada
Inaugura-se na capital paraibana mais um dos suntuosos templos da autodenominada “Igreja universal do reino de Deus”. A proliferação desse e de outros grupos congêneres deve-se às promessas propaladas por seus líderes, induzindo o povo de boa fé a alcançar a prosperidade material em formas imediatistas. Mantendo plantões de atendimentos, atraem pessoas que buscam respostas para os seus problemas emocionais e financeiros, como num pronto-socorro espiritual. Independente da confissão religiosa particular, evangélica, católica, espírita ou livre-pensadora, as pessoas acumuladas de problemas são orientadas a freqüentar sessões de doutrinação, curas, exorcismos e “descarregos”. Seguidamente, poderão adquirir artigos que atraem graças celestiais, encontrados como ofertas do dia nas tais sessões, ou no shopping da igreja. Devem depositar sua confiança nas dádivas celestiais estando de posse desses objetos que chamam prosperidade material.
Diante de prementes carências, pessoas não esclarecidas, sem acompanhamento em uma comunidade de fé e vida, em breve tempo, tornam-se adeptas desses grupos religiosos, submetendo-se à expulsão das maldições e desgraças que atrasam suas vidas. São, porém, induzidas a contribuir com coletas. Essa condição é inegociável, demonstrando assim, sua confiança em “Deus”. Ora, quando sofremos, nossa tendência é buscar soluções milagrosas, mesmo sabendo que podemos ser explorados.
Como explicar que templos suntuosos são construídos em tão breve espaço de tempo? Por certo rola muita grana nas mãos dos “servos e obreiros”. Episódios ligados à corrupção política e a escândalos financeiros foram fartamente comentados através da mídia. Quem não se lembra das malas cheias de dinheiro em mãos de “pastores”?
Interpretamos o aumento de certos grupos religiosos, primeiramente, pela ausência ou omissão, junto a pessoas e locais de carência, tanto da Igreja Católica, quanto de outras confissões evangélicas, de tradição protestante. Há situações de sofrimentos que incluem a falta de assistência e serviços sociais, especialmente nas áreas da saúde e da capacitação para o trabalho.
A mercantilização da fé, altamente rentável, é um fenômeno moderno. A fé tornou-se um insumo negociável barganhada por prosperidade material. Daí a expectativa de curas, libertação de doenças, resolução para encrencas sentimentais, explorando superstições, vinculando-as aos símbolos religiosos, atraindo pessoas não esclarecidas.
A história traz tristes exemplos de comercialização da fé, usando o nome de Deus em vão, defendendo ideologias, privilégios, poderes temporais. Sempre surge um “bezerro de ouro” em torno do qual o povo se consola com pão e circo. A sina do “deus dinheiro” acompanha as ambições humanas. A fé mercantilizada gera muita grana, ostentando força e poder, atraindo os que estão à procura de realização pessoal. Os que se “enricaram” com malas cheias de dinheiro foram absolvidos. O deus dinheiro é poderoso… Mas Jesus Cristo condena o acúmulo financeiro quando este não gera vida e rompe a comunhão solidária e fraterna. (Leia Lucas, capítulo 16).
Fonte: WSCOM e O Norte online