Religiosos lefebvrianos disseram ontem que as iniciativas do papa Bento 16 para combater a “crise da Igreja” provocada pelos casos de pedofilia são “bastante tímidas”, mesmo que contrariem “profundamente o mundo revolucionário e de esquerda”.
A afirmação partiu do Superior-geral da Fraternidade São Pio 10, Dom Bernard Fellay, um dos bispos ordenados por Marcel Lefebvre — religioso excomungado por se opor às mudanças aprovadas pelo Concílio Vaticano 2º. Ultraconservadores, os lefebvrianos mantêm divergências com a Santa Sé desde os anos 1960.
“A situação da Igreja assemelha-se cada vez mais a um mar agitado em todos os sentidos”, observou Fellay, assinalando que “do [Concílio] Vaticano 2º em diante, uma onda parece querer afundar tudo, deixando só um monte de ruínas, um deserto espiritual”.
Todavia, explicou ele, depois da ascensão de Joseph Ratzinger ao Trono de Pedro, “surgiu uma nova onda” de “reformas ou restaurações”, frente às quais se multiplicam ataques “surpreendentes pela sua violência e particularmente bem orquestrados”.
“Se considerarmos as amargas e duras censuras que os progressistas dirigem a Bento 16, é claro que eles percebem na pessoa do atual Papa uma das causas mais vigorosas deste início de renovação”, continuou ele.
Como exemplo das mudanças trazidas pelo chefe de Estado do Vaticano, o lefebvriano citou o posicionamento sobre o preservativo, a retomada das missas em latim e o Ano Sacerdotal, mas também a carta de Bento 16 aos católicos irlandeses, na qual ele comenta os casos de abuso registrados neste país.
Para Fellay, estes são exemplos da “pequena onda contrária”, oportuna mas “ainda insuficiente para deter a decadência e a crise da Igreja”.
Os ultraconservadores criticam sobretudo “um certo número de atos que se colocam na triste linha de seu predecessor [João Paulo 2º, 1978-2005], como visitas à sinagoga e ao templo protestante”. Iniciativas que, para os lefebvrianos, são suficientes para fazer soar “a hora do chamado às armas” “nos ambientes modernistas”.
Fellay foi um dos quatro bispos lefebvrianos que tiveram sua excomunhão revogada por Bento 16 em janeiro de 2009. O episódio incomodou a comunidade judaica, já que um dos religiosos aceitos novamente pelo Vaticano, o inglês Richard Williamson, havia contestado a existência do Holocausto.
Fonte: Folha Online