A equipe do Museu de Arqueologia da USP concluiu a primeira fase dos trabalhos de investigação dos corpos mumificados encontrados No Mosteiro de São Bento, no bairro da Luz, no centro.
No local ficava a antiga sacristia da igreja de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, o primeiro santo brasileiro, e até 1822 funcionou o cemitério das Irmãs Concepcionistas. A investigação revelou a forma como elas viviam no século XVIII e XIX. Os corpos foram descobertos em fevereiro em bom estado de conservação, durante um trabalho para eliminar os cupins que infestavam o lugar. As múmias não podem ser visitadas.
Já se sabia que a sala onde os corpos foram achados tinha sido parte de um cemitério para monjas que viviam ali na clausura, mas ninguém esperava encontrar corpos preservados. Primeiro foram encontrados dois corpos, lado a lado. O primeiro com as mãos sobre o peito e o segundo com a cabeça encostada nos ombros. Em seguida, mais um corpo foi encontrado. Hoje, depois de sete meses de trabalho da equipe de arqueólogos, os arqueólogos continuam à procura de mais corpos. Até agora, foram achados objetos como parte de um rosário, gravetos e argamassa, que ajudam a mostrar como era a vida do paulistano. Para os arqueólogos, as algumas monjas não tinham dentes, o que indica que sofreram de doenças periodontais. Havia também alterações na coluna vertebral.
Segundo Sérgio Monteiro da Silva, um dos sete pesquisadores que fazem o trabalho de investigação, a análise dos ossos mostra ausência de dentes e alterações na coluna vertebral. A falta de dentes, diz o pesquisador, não indica necessariamente que elas passaram fome, mas que tiveram doença periodontal.
Os registros dos livros secretos das irmãs que viveram até 1822 ali mostram que elas foram contaminadas por doenças da época, como a febre amarela, apesar de viveram na clausura. Um dos motivos seria o fato de elas prestarem atendimento às pessoas doentes e carentes que procuravam o Mosteiro da Luz em busca de auxílio. Nas fichas com informações sobre o cotidiano das freiras há registros de que a morte da maioria delas teve como causas mais freqüentes parada cardíaca, paralisia cerebral, câncer, varíola (bexiga). É isso que a equipe de arqueólogos vai investigar agora, principalmente com análise dos ossos.
Durante os primeiros 48 anos de existência do Mosteiro da Luz, as freiras que ali morriam eram enterradas dentro da primeira igreja que foi erguida no local. Com a morte do Frei Galvão, em 1822, foi construído um cemitério em uma área externa do mosteiro. A partir desta data, as irmãs começaram a ser enterradas lá. Em 1970, o Museu de Arte Sacra de São Paulo se instalou dentro do mosteiro, em uma área ao lado do cemitério. Como as irmãs vivem em recolhimento absoluto, nunca mais puderam participar dos cortejos nos enterros, para não terem contato com o público do Museu. O primeiro enterro após a chegada do museu foi em 1973.
O Mosteiro da Luz, onde hoje é o Museu de Arte Sacra, foi fundado em 1774 por Frei Galvão, que foi canonizado pelo Papa no ano passado. As obras de arte do museu podem ser vistas de terça a domingo, das 11h às 19h. A entrada custa R$ 4. A igreja do Mosteiro da Luz abre todos os dias, das 6h30m às 17h30m.
Fonte: O Globo