As tensões aumentam e a violência continua. Fundamentalistas islâmicos ao redor do mundo atacam embaixadas dos Estados Unidos; cristãos e civis sofrem em consequência a um filme divulgado no Youtube que contraria os preceitos do Islã. 51 pessoas já morreram
Um oficial iraniano disse esta segunda-feira (24), que o Irã deve boicotar o Oscar 2013 e não indicará nenhuma produção para concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro. A ação se dá em consequência ao vídeo anti-Islã, feito nos Estados Unidos e publicado no Youtube, que denigre o profeta Maomé e provocou diversos protestos e revoltas pelo mundo (Leia mais em Protestos no Oriente Médio seguem marcados de violência e revolta).
Javad Shamaghdari, chefe da agência de cinema controlada pelo governo, disse que o Irã deve “evitar” o festival de Hollywood. Ele é citado pela agência de notícias semi-oficial Mehr como responsável por incentivar o comitê encarregado de selecionar o filme que deve concorrer a dar um passo atrás e não participar do evento.
Para a categoria de melhor filme estrangeiro, a comissão já havia escolhido a produção “Ye Habbeh Ghand” ou “Um Cubo de Açúcar”, um filme sobre um casamento em família que acaba se transformando em um funeral, quando um parente do noivo morre.
A indicação oficial ao Oscar deve passar pela aprovação do governo, que ainda não apoiou a seleção.
Shamaghdari disse que o Oscar deve ser boicotado até que os organizadores denunciem o filme anti-Islã, intitulado “Inocência de Muçulmanos” (tradução livre), que incitou a indignação de islâmicos em todo o mundo. Pelo menos 51 pessoas, incluindo o embaixador dos Estados Unidos na Líbia, foram mortas em violência ligada a protestos contra o vídeo, que também renovou o debate sobre a liberdade de expressão nos EUA e na Europa.
No passado, Shamaghdari foi conhecido por seus apelos para “privar” festivais ocidentais de filmes feitos pela indústria de cinema do Irã.
Em fevereiro desse ano, o diretor iraniano Asghar Farhadi ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro por “A Separação” – primeiro prêmio nesse nível recebido pelo Irã.
Oficiais de Teerã celebraram a conquista do Oscar, especialmente por Farhadi ter concorrido com um filme israelense e outros três países na categoria de língua estrangeira, descrevendo-o como uma conquista para a cultura iraniana e um golpe para a forte influência de Israel na América.
Agora, porém, iranianos linha-dura também se ofenderam com a escolha do filme para 2013, pela exposição de problemas na sociedade iraniana, através da história de um casamento que foi arruinado por uma tragédia.
Autoridades do Irã sempre tiveram uma relação difícil com os cineastas e clérigos influentes do país. Por diversas vezes o cinema nacional foi tido como dominado pelo Ocidente, contaminado por valores liberais e dissidentes políticos.
[b]Fonte: Missão Portas Abertas[/b]