O governo israelense afirmou que a morte de oito estudantes atacados por um palestino em uma escola religiosa (seminário judaico) em Jerusalém, nesta quinta-feira, não vai interromper as negociações de paz.
Segundo informações do governo israelense, o atacante palestino foi morto depois de ter aberto fogo com um rifle AK-47 dentro da biblioteca no seminário de Mercaz Harav, no oeste de Jerusalém, onde estavam cerca de 80 pessoas. Ele seria residente da área, conforme testemunhas.
Pelo menos nove pessoas ficaram feridas no ataque. Segundo o canal de TV do grupo libanês Hezbollah, um grupo até então desconhecido, autodenominado Mártires de Imad Mughniyeh e Gaza, assumiu a autoria do ataque. Imad Mughniyeh era um líder do Hezbollah, morto em um ataque com carro-bomba em Damasco, na Síria, no dia 12 de fevereiro.
Micky Rosenfeld, porta-voz da polícia, afirmou que o atirador entrou na escola pela porta principal e seguiu até a biblioteca, onde havia cerca de 80 pessoas. Ele levava uma pistola e um rifle e usou as duas armas no ataque.
David Simchon, chefe da escola, disse que os estudantes se preparavam para a celebração do novo mês do calendário judaico, que inclui a data de Purim. “Nós planejávamos uma festa de Purim esta noite, e em vez disso, tivemos um massacre”, afirmou.
De acordo com o chefe do serviço de resgate Yehuda Meshi Zahav, que entrou na biblioteca logo após o ataque, “todo o edifício parecia um matadouro. O chão estava coberto de sangue. Os estudantes estavam em aula durante o ataque”, afirmou. “O chão ficou repleto de livros sagrados cobertos de sangue.”
O comandante do distrito policial de Jerusalém Aharon Franko disse que “não houve alertas sobre o ataque”. “Um terrorista chegou carregando uma caixa, de onde tirou uma arma e começou o massacre.”
Depois de trocar tiros com um militar e dois policiais, atirador foi morto.
Segundo a polícia, ataques em Jerusalém são raros. Em agosto do ano passado, oito pessoas foram feridas em Jerusalém Oriental quando um palestino abriu fogo contra alguns policiais. Em maio do mesmo ano, três atiradores foram mortos na parte israelense da cidade.
Autoridades de segurança de Israel afirmaram que o atirador da Mercaz Harav era de Jerusalém Oriental, região da cidade de maioria palestina.
Palestinos
O episódio é o mais recente envolvendo o conflito entre palestinos e israelenses. Na semana passada, Israel iniciou uma ofensiva de seis dias que deixou 116 palestinos mortos na Faixa de Gaza.
A TV Al Manar, do grupo radical xiita Hizbollah, anunciou nesta quinta-feira que um grupo até então desconhecido chamado Batalhões de Liberdade da Galiléia-Mártires do Imã Mughniyeh e Gaza é o responsável pelo ataque em Jerusalém.
Apesar de a alegação ter sido feita pela estação de TV do Hizbollah e o grupo levar o nome de um de seus membros recentemente assassinado –Mughniyeh, comandante militar morto em fevereiro na Síria–, não ficou claro qual é a relação entre o Hizbollah e a nova organização.
Após a morte de Mughniyeh, o Hizbollah declarou que retaliaria sua morte com “guerra aberta” contra Israel. O país judeu nega a acusação.
Nesta quinta, o porta-voz Hamas Sami Abu Zuheri disse que o ataque “surge logo depois dos atentados contra Gaza. Esta ação é uma resposta natural”.
Membros do Hamas e do Fatah no campo também comemoraram o ataque, mas não reivindicaram a autoria.
“O massacre de hoje é um momento definitivo”, disse Mark Regev, porta-voz de Israel. “Está claro que aqueles que celebram este derramamento de sangue não só são inimigos de Israel, mas de toda a humanidade.”
Os EUA e Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), condenaram o ataque.
O Ministério de Relações Exteriores de Israel afirmou que as negociaçoes com o líder palestino, Mahmoud Abbas, que condenou o ataque, vão continuar.
No entanto, Israel condenou o grupo palestino rival, Hamas, que considerou o ataque uma “reação natural” às ações militares israelenses na Faixa de Gaza na semana passada, que deixaram mais de 120 palestinos mortos.
“Aqueles que celebram esses assassinatos mostraram ser inimigos não apenas de Israel, mas da paz e da reconciliação”, disse Mark Regev, porta-voz do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert.
ONU
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou o ataque. O Conselho de Segurança, porém, não conseguiu chegar a um acordo sobre uma declaração na noite de quina-feira.
Representantes de diversos países, como a Líbia, queriam que o Conselho de Segurança casasse qualquer condenação das mortes em Jerusalém com uma condenação também contra Israel, por ter provocado a morte de um grande número de civis, incluindo crianças, em Gaza.
O enviado russo, Vitaly Churkin, questionou o quão grave um ataque terrorista deve ser para merecer uma condenação específica, sem entrar em toda a história do conflito entre israelenses e palestinos.
O ataque é considerado o pior ocorrido em Jerusalém nos últimos anos. Segundo o editor de Oriente Médio da BBC, Jeremy Bowen, a escola religiosa pode ter sido escolhida como alvo por estar no centro do movimento que prega a manutenção dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
Muitos dos estudantes no seminário estão em cursos especiais que combinam estudos religiosos com serviço em unidades de combate no Exército israelense, afirma Bowen.
Segundo Bowen, haverá uma resposta israelense a este ataque, e a questão é o quão severa esta resposta será.
Fonte: BBC Brasil