As comunidades eclesiais de base italianas afirmaram que a excomunhão dos médicos que realizaram o aborto da garota brasileira de 9 anos que ficou grávida de gêmeos após ser violentada pelo padrasto demonstram, “mais uma vez, o sentido de distanciamento radical entre a ‘Igreja do Poder’ e os dramas humanos”.
Em nota difundida ontem, as comunidades criticam também o apoio dado por autoridades do Vaticano à decisão do arcebispo de Olinda e Recife (PE), d. José Cardoso Sobrinho, que excomungou a mãe da menina e todos os médicos que participaram do aborto, na última quarta-feira.
A garota foi submetida ao procedimento porque a gravidez, próxima do quarto mês, colocava sua vida em risco.
“O apoio que o Vaticano deu imediatamente ao bispo brasileiro torna evidente o caráter universal deste distanciamento [em relação aos dramas humanos]”, afirma o texto.
O comunicado enfatiza ainda os direitos da mulher envolvidos no caso. “Na América Latina, como na Europa e em todas as partes do mundo, está se consumando uma destrutiva fratura entre os instrumentos religiosos, que estão cada vez mais encharcados de fundamentalismos, e o mundo feminino”, prossegue a nota.
Ontem, o arcebispo pernambucano reiterou que a mãe da menina e todos os médicos envolvidos em seu aborto estavam excomungados, o que na prática impede que um fiel possa receber os sacramentos da igreja, como a comunhão e o casamento.
Hoje, o religioso considerou que todas as pessoas punidas podem ser perdoadas caso mostrem arrependimento.
Ele também afirmou que o padrasto da menina, que confessou ter abusado dela e de sua irmã mais velha, de 14 anos, não sofrerá a mesma punição porque o estupro não figura entre os crimes considerados gravíssimos pela Igreja Católica.
Em entrevista ao jornal italiano La Stampa, o cardeal Giovanni Battista Re, presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, criticou a realização do aborto e defendeu a medida adotada por d. José Cardoso.
“É preciso proteger a vida”, disse o religioso, para quem “os ataques à igreja brasileira são injustificados”. Em sua opinião, “a excomunhão é justa porque a operação [do aborto] é a supressão de uma vida inocente.”
Ele afirmou ainda que este “é um caso triste, mas o verdadeiro problema é que os dois gêmeos concebidos eram pessoas inocentes, que tinham o direito de viver”.
Ao falar sobre o caso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou ontem a decisão do arcebispo pernambucano como “conservadora” e afirmou que a medicina estava “mais correta” que a igreja.
Em resposta, d. José Cardoso disse que o presidente demonstrou não conhecer as leis da igreja e recomendou que ele procurasse orientação teológica.
A menina teve alta ontem e já deixou o hospital. O padrasto está preso em Pesqueira, cidade vizinha de Alagoinha, onde a família vivia.
Arcebispo diz que médicos que fizeram aborto podem voltar à igreja após arrependimento
O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, voltou a afirmar neste sábado que os excomungados no caso do aborto da menina de nove anos –a mãe e os médicos que realizaram o procedimento–, ocorrido na quarta-feira, podem deixar essa condição após se arrependerem e serem absolvidos em confissão.
O religioso fez a declaração depois da missa de abertura da Campanha da Fraternidade, na Basílica do Carmo, em Recife (PE), que foi celebrada pelo presidente da regional da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Antônio Muniz, arcebispo de Maceió, pela manhã.
De acordo com dom José, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que declarou ontem em Vitória (ES) lamentar o posicionamento “conservador” do religioso, deveria procurar assessoria teológica para falar com mais propriedade sobre o tema.
Ontem, dom José declarou à reportagem que o aborto é mais grave que o estupro, e por isso a Igreja Católica condena o primeiro caso com a excomunhão automática.
Após a missa, cerca de 300 pessoas seguiram em passeata pelas ruas do centro pela abertura da campanha da CNBB, que tem como tema este ano “A Paz é Fruto da Justiça”.
A menina de nove anos, que estava com cerca de quatro meses de gravidez de gêmeos, está em um abrigo em local não divulgado com a mãe. O padrasto dela confessou na semana passada ter abusado sexualmente da menina e da irmã dela, de 14 anos, havia cerca de três anos, em Alagoinha (230 km de Recife). Ele está preso desde o dia 27 em Pesqueira, cidade vizinha ao município.
Arcebispo diz que Lula deveria procurar teólogos para se expressar com conhecimento
O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, rebateu hoje as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre sua decisão de excomungar os envolvidos –a mãe e os médicos que realizaram o procedimento– no aborto da menina de nove anos.
O arcebispo disse que Lula deveria procurar assessoria teológica para falar com mais propriedade sobre o tema.
Lula disse que o arcebispo foi conservador e defendeu os médicos. “Não é possível permitir que uma menina estuprada pelo padrasto tenha esse filho. Até porque a menina corria risco de morte. Nesse aspecto, a medicina está mais correta que a igreja”, disse o presidente.
Dom José Cardoso Sobrinho voltou a afirmar neste sábado que os excomungados podem deixar essa condição após se arrependerem e serem absolvidos em confissão.
Ontem, dom José declarou à reportagem que o aborto é mais grave que o estupro, e por isso a Igreja Católica condena o primeiro caso com a excomunhão automática.
A menina de nove anos, que estava com cerca de quatro meses de gravidez de gêmeos, está em um abrigo em local não divulgado com a mãe. O padrasto dela confessou na semana passada ter abusado sexualmente da menina e da irmã dela, de 14 anos, havia cerca de três anos, em Alagoinha (230 km de Recife). Ele está preso desde o dia 27 em Pesqueira, cidade vizinha ao município.
Fonte: Ansa e Folha Online