Na semana passada, o Jornal Nacional apresentou uma série especial de reportagens sobre a ação social de algumas denominações evangélicas. Na terça feira a série mostrou o trabalho das Assembléias de Deus e presbiterianos, na quarta, os metodistas, na quinta, os batistas e adventistas e na sexta, os luteranos.
Assembléia de Deus e Presbiteriana (terça-feira, 26 de maio)
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a população brasileira cresceu 15,5% entre os dois últimos censos, o número de evangélicos dobrou. Hoje, são cerca de 15% dos brasileiros. Como a maioria católica inclui 73% da população, as obras da Igreja Católica são mais conhecidas.
Nesta semana, o Jornal Nacional mostra o trabalho que os evangélicos estão fazendo não só em cidades grandes como o Rio de Janeiro, mas também em comunidades menores, do interior do país, apoiando populações que frequentemente são esquecidas pelo poder público.
A harmonia dos sons vale por uma prece.
“O instrumento, a música e o canto têm uma ligação muito íntima com Deus”, afirma o músico Gilberto Oliveira.
Diante da orquestra em um templo da Assembleia de Deus, como ficar de braços cruzados? A Assembleia de Deus é uma igreja brasileira, criada no início do século 20 em Belém do Pará, que tem hoje 8,4 milhões de fiéis espalhados pelo país.
São evangélicos de ramo pentecostal, que acreditam no poder do Espírito Santo e usa a música como oração. Música cheia de fervor.
A Sinfonia da Fé tem origem em um projeto que ajuda crianças, jovens e adultos. Gilberto achava que seria técnico em química. Hoje, toca no culto e também na Orquestra Municipal do Rio de Janeiro.
“Quando a gente está fazendo música, a gente já sente na pele. Às vezes, a gente fica arrepiado. Quando a gente faz a coisa para Deus e dá aquele arrepio, Meu Deus do céu. Esse, Deus recebeu”, explica o músico.
Nas oficinas da igreja, ele se descobriu como músico de talento. Uma atividade mantida com uma parte do dízimo, das doações que vem dos fiéis.
“As pessoas costumam ouvir que a igreja só existe para pegar dinheiro do povo, para enganá-lo. Os pastores são tidos como charlatões, pegadores de dinheiro. Mas ninguém vê os acontecimentos sociais que a igreja promove”, afirma Nelson dos Anjos, pastor da Assembleia de Deus.
A origem das igrejas evangélicas está no distante Século 16, na decisão de homens como o monge Martinho Lutero e o teólogo João Calvino, em romper com a Igreja Católica.
O primeiro por não concordar com o pagamento das indulgências, a possibilidade que existia, na época, de comprar o perdão divino. O segundo por querer uma grande reforma na organização dos ritos católicos.
O movimento é conhecido como Protestantismo, de onde derivam a imensa maioria dos evangélicos de hoje.
“Com o Lutero, você vai ter toda uma nova teologia muito calcada na interpretação, na leitura da Bíblia. Você tem que assumir para você que está tudo ali na Bíblia. As suas orientações estão na Bíblia para a sua vida”, declara a socióloga Maria das Dores Machado.
E está lá escrito: a missão dos cristãos é divulgar a palavra de Deus mundo afora. Os presbiterianos foram para Dourados, no Mato Grosso do Sul, em 1928, para levar o Evangelho, com autorização da Funai, para a maior aldeia do Brasil.
A Igreja Presbiteriana tem origem no Século 16, está no Brasil desde 1859 e tem hoje 980 mil fiéis. É conhecida por reforçar os valores éticos e morais. Na missão Caiuá, um hospital só para eles. Também uma escola, com ênfase evangélica.
Em meio à disputa por terras na região que já dura décadas, o preconceito afastou brancos e índios e dividiu a tribo. Hoje, são dois caciques e nenhum pajé, o líder espiritual. O último morreu há cinco anos. Os chocalhos sagrados dos rituais criaram teias de aranha.
Agora, as doenças são tratadas só no hospital da missão. Na cidade, os índios ainda não são bem recebidos.
“A discriminação e o preconceito são muito fortes”, afirma uma índia.
Na escola indígena, os mais velhos tentam não deixar a cultura morrer. Na escola da missão, as aulas dos brancos funcionam como reforço, como ferramenta para entender e transitar no mundo dos brancos.
“Quando você pode ensinar uma criancinha que está ao seu lado, quando você pode curar a ferida de alguém está sofrendo no hospital. Todos esses gestos não são simplesmente de um profissional que está fazendo, mas alguém que tem o ideal de servir e que gostaria, através daquele gesto, alcançar a grandeza e o amor de Deus no seu coração”, afirma Benjamim Bernardes, reverendo da Igreja Presbiteriana.
O reverendo Benjamim sabe que, para tudo isso dar certo, uma barreira tem que cair. Afinal, são evangélicos americanos, de língua inglesa, no Brasil da língua portuguesa, trabalhando com índios que falam o caiuá.
Um dos maiores desafios dos missionários foi tentar entender a língua dos índios para poder falar de igual para igual com eles. Mas os religiosos foram além. Conseguiram registrar pela primeira vez, por escrito, a gramática da língua kaiwá.
Ainda produziram um livro. De texto estranho, sagrado. É a Bíblia feita para os índios e escrita na língua deles.
“Deus me chamou para isso”, conta a missionária inglesa Audrey Taylor.
É o trabalho de uma vida. Audrey começou decifrando gestos e ruídos. Agora, divulga o Evangelho sem precisar de tradução simultânea.
“Eles têm mais valor do que eles pensavam que tinham. A língua está escrita e Deus falou com eles através da Bíblia, na própria língua”, esclarece Audrey.
“Eu gostei da parte onde diz que Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca. Assim como ele amou a ovelha perdida, ele ama a todos igualmente. A missão trouxe uma nova realidade para uma comunidade indígena, uma outra vida”, revela o índio caiuá Natanael Cárceres.
Ensinar, aprender, proteger e ajudar. Na missão evangélica encravada no cerrado, são os próprios índios os primeiros a reconhecer:
“Foi Deus que mandou a missão, tanto os caciques, os rezadores falam disso também. Se não fosse Deus, o caiuá estaria reduzido, muito reduzido, porque nós íamos morrer tudo”, avalia a índia caiuá Valdelice Veron.
“Todos nós podemos fazer algo, por mais simples que seja, desde que haja no nosso coração o desejo sincero de poder servir ao próximo”, conclui Benjamim Bernardes.
Metodista (quarta-feira, 27 de maio)
Evangélicos da Igreja Metodista trabalham nos subterrâneos de São Paulo para melhorar a vida de moradores de rua. A prefeitura de São Paulo estima que 12 mil pessoas vivam nas ruas da cidade, em uma espécie de prisão a céu aberto.
Eles estão lá, mas pouca gente vê ou quer ver. Vidas estacionadas nas calçadas, presas no beco escuro da indiferença.
“A cidade trata como quem não tem mais chance. Eles olham e falam: ‘Aquele não tem mais jeito’”.
É um caminho que parece não ter volta. Viver na rua transforma a vida das pessoas por fora e também por dentro.
Sensações de raiva, angustia, fome, medo vão se multiplicando. A prefeitura de São Paulo estima que 12 mil pessoas vivam dessa forma, numa espécie de prisão a céu aberto, nas ruas da cidade.
Pois quis a ironia que justamente no bairro da Liberdade, uma porta aberta para dentro de um viaduto se transformasse numa saída, numa chance para quem não tem mais nada.
A escada leva para uma espécie de oásis urbano, repleto de desencontros. “Meu nome é Edileusa Maria de Lima”. “Sou aqui de São Paulo e quero que minha família venha me procurar”. “Estou procurando um primo meu de Minas Gerais”.
Uma chuveirada que revigora. Um tanque para lavar as roupas. Um ferro para passar. Um lugar para trocar a dureza do cimento pelo conforto de um travesseiro.
“Por enquanto, o meu endereço é o armário 59 e daqui a pouco pode ser uma outra coisa melhor. Esse barulho da rua é um terror”, disse o auxiliar de serviços gerais Paulo César Oliveira.
“Quando a pessoa está perdida, ela precisa de um gesto, de alguém que estenda a mão, que demonstre o amor de Cristo de forma prática. É essa fé que nos faz olhar para essa pessoa e entender que ele foi criado a imagem e semelhança de Deus. Se não fosse a fé, não estaríamos aqui”, declarou Marcos Antonio Garcia, pastor da Igreja Metodista.
Esta é fé dos evangélicos da Igreja Metodista, fundada em Londres, no século XVIII. Ela chegou ao Brasil em 1835 e hoje tem 341 mil fiéis. Os Metodistas são conhecidos por serem missionários, por considerarem que o mundo é a sua paróquia e por não perderem a esperança nas pessoas.
“A fé em ação transforma muita coisa, essa é uma crença de quem está nesses trabalhos e essa é uma crença importante porque acaba tendo uma interferência na vida dos indivíduos”, explicou a antropóloga Christina Vital da Cunha, do Instituto de Estudos da Religião.
Quem acreditaria no vigia Antônio José de Souza, afundado nas drogas, alcoólatra, abandonado pela família, mendigando nas ruas uma chance de sobreviver?
“Eu falei assim: ‘Eu posso entrar para tomar um copo de água?’. E ele carinhosamente abriu a porta. Nessa hora, o chão parece que se abre. Essa porta aqui foi o começo de uma vida”.
Antônio foi recebido no abrigo pelo ex-capitão Luiz Pereira de Souza. Condenado a 43 anos de cadeia por assassinato. Diz que conheceu a fé na prisão.
“Dia 15 de dezembro de 95 entrei em pânico e disse que não ficaria mais um dia. Eu lembro da data, porque nesse dia eu tive uma experiência com Deus, em que eu vi Jesus me abraçando e ali pude mudar a minha vida”.
Sem esperar, ganhou um indulto depois de cumprir 14 anos de pena.
“Quando eu vi o documento, estava lá: ex-sentenciado Luis Wilson Pereira de Souza está perdoado de todo o restante da sua pena, pode ir para casa. Nessa hora, desabei, comecei a chorar, e só falava uma coisa: ‘Deus é fiel, Deus é fiel, Deus é fiel’”.
De ex-detento, o antigo capitão passou a ser salvador de almas. Luis deu a Antônio o conforto e a chance de que ele precisava. Mudança iluminada: do esquecimento das ruas para uma vida intensa.
Neste mesmo templo, o ex-mendigo se casou com Tereza, também moradora de rua. Tiveram uma filha, conseguiu trabalho e uma vaga no hotel social da prefeitura. A improvável família sabe exatamente que nome dar para o que lhes aconteceu. “Nós três aqui somos um milagre”, afirmou Antônio.
São 38 anos vivendo na rua. Bastaram três conhecendo a compaixão dos metodistas para que Antônio e Tereza recuperassem a dignidade.
“Eu cheguei a dormir na 23 de maio, naqueles buracos que tem na 23. Hoje, eu moro na Brigadeiro Luis Antonio, Bela Vista”.
Batistas e Adventistas (quinta-feira, 28 de maio)
O que pode acontecer quando alguém decide, simplesmente, ajudar? Estender a mão para quem precisa.
Jovens demais para ter lembranças que só existem em sonhos. O da menina, esta noite, foi com a mãe, com quem não pode mais morar. “A mãe de verdade é bem melhor do que o sonho, porque ela é real. Não estou com ela porque a gente não se deu bem”, a menina conta.
Em uma rua especial, onde casas em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, moram meninos e meninas que foram retirados da guarda dos pais por ordem da Justiça. Crianças que viviam largadas nas ruas, pedindo dinheiro nos sinais de trânsito, sofrendo todo o tipo de violência.
Para dezenas de crianças que pareciam não ter futuro, este é seu novo endereço: a Associação Evangélica Resgate e Ame, que poderia muito bem ser chamada de Rua da Esperança ou da Salvação.
Hoje, o abençoado pão de cada dia vem pelas mãos dos integrantes da Igreja Batista Brasileira, uma das várias igrejas que derivam da Igreja Batista, fundada no século XVII na Inglaterra.
Os Batistas são hoje no Brasil 1,5 milhão de fiéis, que frequentam cultos em 7,5 mil templos.
“A doutrina pentecostal enfatiza e muito essa capacidade dos indivíduos de desenvolver o dom do Espírito Santo”, explica a socióloga Maria das Dores Machado, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
É uma grande família unida pela fé, que tem suas regras. Escola, todos os dias. Depois dos estudos, almoço, aulas de reforço, de música e de dança. Não tinham futuro, hoje sonham até com a universidade.
Simone é uma das poucas mães que aparecem por aqui. A filha dela sabe que a esperança de reunir a família de novo está no abrigo.
“Eu me mantendo aqui dentro. Vai ser melhor para ela, porque quando eu sair, eu vou ajudá-la, porque, se eu não ficar aqui, eu não vou ter futuro. Quero ser advogada, eu quero defender os direitos das pessoas”, revela Bruna Ferreira, de 13 anos.
A rua encantada construída com o cimento da fé no evangelho só existe graças à assistente social Gislaine Monteiro Freitas, coordenadora do REAME.
Vinda também de família muito pobre, começou dando atenção e carinho a crianças de rua em um banco de praça.
“Tudo começou de forma despretensiosa. Apenas uma rua, mas a coisa foi chegando e a gente conseguiu comprar uma rua para as crianças, uma rua sem sofrimento”, afirma Gislaine.
Em uma favela do Rio, seguidores do Evangelho viraram pescadores de crianças mergulhadas na vida violenta do bairro. A função do Centro Adventista de Desenvolvimento Comunitário é ensinar a palavra de Deus e fazer sorrir, por dentro e por fora.
A Igreja Adventista foi criada nos Estados Unidos no século XIX e tem hoje no Brasil 1,2 milhão de fiéis. Guardam o sábado para atividades religiosas e valorizam as coisas da natureza.
Alimento saudável, sem agrotóxico para as crianças, no segundo almoço do dia. Tem jeito de escola, mas o centro mais parece uma grande gincana, que começa aos 7 anos de idade e vai até os 15, com jogos, brincadeiras e música.
Resultado? “Esse lugar é muito gostoso de ficar”, diz uma das crianças.
“Mudou muita coisa em mim. Antigamente, eu não sabia contas na escola e depois que fui aprendendo aqui, estou na sétima série e indo em frente”, conta Vinícius, de 14 anos.
A transformação que acontece na vida de uma criança não é pequena. São mudanças no corpo e na alma. Há cinco anos, quando o projeto começou, a principal resposta para a pergunta ‘o que você quer ser quando crescer?’ era ‘bandido’.
Hoje, bom hoje. “Bombeiro”. “Trabalhar na Aeronáutica”. “Pediatra”. “Médico, para salvar as pessoas da dengue”.
O centro começou com uma sala pequena. Hoje, já são 180 vagas para uma comunidade com sede de oportunidade.
“Para muitos deles, se não fosse essa ação social religiosa evangélica, talvez não tivessem acesso a esses programas e serviços”, explica Gislaine.
Agora outras 500 crianças esperam por uma chance de crescer no rumo do bem, pelas mãos de quem vive na prática os ensinamentos de Jesus.
“No mundo de dimensões tão grandes, a gente vê que a gente pode proporcionar uma perspectiva de vida melhor para uma pessoa fazendo tão pouco. Elas têm certeza de que podem ser alguém melhor. Tem uma passagem em Apocalipse que diz o seguinte: não mais ranger de dentes, não mais pranto, nem dor. Aqui é lugar de gente feliz, lugar de sorrir, lugar de esperança”, conclui Glauciete da Cruz Batista, coordenadora do Centro Adventista.
Luteranos (sexta-feira, 29demaio)
A principal característica da Igreja Luterana é acreditar que a salvação vem apenas pela fé e não como resultado de obras e boas ações. Mas isso não impede a forte ação social no sul do Brasil.
Nesta semana, o Jornal Nacional apresentou uma série especial de reportagens sobre a ação social de algumas das dezenas de igrejas evangélicas presentes no Brasil.
Nesta sexta, na reportagem que encerra a série, Flávio Fachel e William Torgano mostram a atuação dos luteranos no Rio Grande do Sul com descendentes de europeus, de negros, escravos e de índios guaranis.
Uma bênção que ecoa há 15 décadas numa região de pequenas propriedades em São Lourenço do Sul, a 200 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Eles são descendentes dos pomeranos, povo agricultor que vivia da própria terra na Europa, na região onde agora é a Alemanha.
Hoje, a lavoura no Brasil multiplica sorrisos. Mas nem sempre foi assim. A mesma terra que hoje vê prosperidade já foi testemunha de um modo de produção que empurrou os descendentes dos imigrantes para uma situação de dependência.
Durante quatro gerações, eles plantaram para patrões, venderam para atravessadores, perderam a relação de liberdade que tinham com a terra.
Hoje, 150 anos depois, a fé que os acompanhou nos barcos das grandes travessias do Atlântico, e que nunca foi esquecida, conseguiu começar a mudar essa história.
Uma chegada cheia de esperança nas promessas de terra farta e de felicidade. Nas malas, carregavam o pouco que tinham. Nos corações, traziam uma fé incomum no Evangelho e na Igreja Luterana.
“As primeiras igrejas que chegaram ao Brasil são igrejas que vieram a partir de grupos étnicos que foram trazidos para ocupar o lugar dos escravos. Esses grupos trazem suas crenças, criam as suas comunidades e as igrejas começam a se desenvolver”, explicou Maria das Dores Machado, socióloga da UFRJ.
A Igreja Luterana surgiu no século XVI, na Europa. Chegou ao Brasil com os pomeranos em 1824. Hoje já são 1 milhão de fiéis em todo o país.
Sua principal característica é acreditar que a salvação vem apenas pela fé e não como resultado de obras e boas ações. Mas isso não impede a forte ação social da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Rio Grande do Sul.
“A missão desse serviço foi exatamente de resgatar essa fé e uma fé tem que se articular com a vida das pessoas que se concretiza no jeito de se relacionar com a natureza”, disse Ellemar Wojahn, coordenador da IECLB.
Com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, a igreja, de certa forma, devolveu aos fiéis a capacidade que os antepassados perderam: de sobreviver da terra sem depender de ninguém.
“Foi Deus que fez a natureza, foi Deus que fez em seis dias, no sétimo descansou e a deixou para nós para trabalhar e ganhar o nosso sustento”m afirmou o agricultor Romil Mühlenberg.
Seu Romil vive na terra que já foi de seu pai, do avô e do bisavô. Nunca abandonou a leitura da Bíblia. Na lavoura, o resultado do que está aprendendo com os irmãos luteranos: uma nova forma de produzir, sem agrotóxico. “Se não fosse a igreja, a gente não estava nessa da agroecologia”.
E a produção é vendida direto para o consumidor, na Feira dos Luteranos, no Centro de Pelotas.
Vantagem? O lucro de cada um não é dividido com mais ninguém. Mas o ganho maior para todos eles vem na esperança de ver a família continuar unida na fé e na terra dos antepassados.
“Agora eu sinto orgulho muito grande de estar na lavoura com meus filhos acompanhando. Eu acredito que daqui a 50 anos os meus netos estarão trabalhando aí”, projeta Seu Romil.
“A igreja tem essa pretensão de criar condições para que as famílias tenham possibilidade de ter renda e uma vida digna no meio rural”.
E ainda sobra para ajudar a quem precisa. Depois do culto, moradores pobres da região recebem cestas de alimentos doados pelos agricultores luteranos. “É uma sensação de que Deus está sempre com a gente apoiando, ajudando”, disse a desempregada Santa Janete Maia.
Estar com quem precisa. Os fiéis da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Rio Grande do Sul decidiram também estender a mão para mais gente que depende da terra no estado.
Descendentes de escravos, esquecidos nos quilombos, e os índios guaranis que, depois de perderem as terras, viraram mendigos de beira de estrada. Entre duas comunidades tão diferentes, muitas semelhanças.
“O Brasil tem uma dívida social e a igreja também tem uma dívida social com essas populações tradicionais que foram excluídas e marginalizadas que não têm lugar ainda hoje na sociedade”.
Preocupados com o mais básico – sobreviver – índios e quilombolas foram deixando os costumes para trás. Agora, os luteranos ajudam essas pessoas a se reencontrar com a própria cultura.
Estimulando os mais velhos a ensinar o que sabem aos mais novos. Assentados na reserva, os índios tiveram sorte. Podem agora ensinar às crianças guaranis que seu povo vive da terra. E que apesar do que sofreram com os brancos, continuam de braços abertos a quem quiser vir ajudar.
“Somos da tribo Tekoaporã e convidamos você a nos visitar”, cantam os pequenos guaranis.
Uma lição de amor e solidariedade. “Jesus não perguntou se era difícil, onde estava, como é que era, que cor que tinha. Foi buscar e a gente tem que seguir esse exemplo, estar permanentemente nessa busca da ovelha perdida”, , declarou Rita Sorita, coordenadora da Igreja.
Nota do Jornal Nacional:
Na reportagem de quinta, nós mostramos o trabalho dos batistas com crianças que foram afastadas dos pais pela Justiça e também apresentamos o trecho de uma entrevista com a socióloga Maria das Dores Machado.
Ela observou que a doutrina pentecostal enfatiza a capacidade do indivíduo de desenvolver o dom do Espírito Santo. Só que nós mostramos esse trecho logo depois de explicar as origens da Igreja Batista e aí ficou parecendo que a Igreja Batista seria pentecostal.
Mas isso não é verdade. A socióloga se referia a outras igrejas. Os batistas têm origem na Inglaterra, no século XVII, valorizam o batismo na idade adulta e adotam princípios comuns ao protestantismo.
Veja como entrar em contato com os projetos sociais apresentados na série ‘Os Evangélicos’
Caso você queira saber mais sobre os projetos sociais apresentados na série de reportagem ‘Os Evangélicos’, o site do Jornal Nacional disponibiliza abaixo os contatos:
Projetos apresentados na primeira reportagem:
Missão Evangélica Caiuá, em Dourados (MS)
A missão tem cinco escolas e dois hospitais no meio da mata, um hospital voltado para atender crianças desnutridas. Nas escolas, eles ainda recebem reforço alimentar.
Contatos: reverendo Benjamin Benedito Bernardes – (67) 3421-4197
Presbítero Clineu Aparecido Francisco – (11) 9148-3044
Assembleia de Deus – projeto com músicos (RJ)
A igreja Assembleia de Deus tem um projeto de música completamente voltado para seus fiéis. Todas as igrejas possuem escolas de música, professores, instrumentos e aulas diárias. Boa parte desses alunos acaba integrando o próprio coral da igreja.
Contatos: Ester – (21) 2187-7070 / (21) 8844-0148
Luis Carlos – (21) 9521-0754
Projeto apresentado na segunda reportagem:
Igreja Evangélica Metodista – Projeto Viaduto do Pedroso (SP)
O Viaduto Pedroso foi transformado em um espaço para atender moradores de rua. Por ano, são aproximadamente 19 mil atendimentos. Tem cozinha, dormitórios separados para homens e mulheres, leitos para bebês e suas mamães. Os moradores de rua passam a noite no albergue. Durante o dia, são oferecidos cursos profissionalizantes, como marcenaria, e consultas médicas.
Contatos: Pastora Joana Meireles e Eula Gomes da Silva, secretária da pastora – (11) 2813-8600 / (11) 2813-8630.
Projetos apresentados na terceira reportagem:
Igreja Evangélica Batista – Projeto Reame, em São Gonçalo (RJ)
Crianças encaminhadas pelos conselhos tutelares são acolhidas e, com a ajuda de mães sociais, são levadas para escolas da comunidade, participam de aulas de música e esporte. Médicos e psicólogos voluntários também contribuem.
Contatos: Fernando Brandão – (21) 8702-5971 / (21) 2107-1831.
Gislaine Monteiro Freitas – (21) 2702-0044 / (21) 9912-8598
Centro Adventista de Desenvolvimento Comunitário (Cadec), no Rio de Janeiro
Os trabalhos estão concentrados em quatro áreas: educação, reforço alimentar, geração de renda e inclusão digital. São mais de 500 pessoas atendidas, entre crianças e adultos. O Cadec está numa comunidade de Guaratiba há quatro anos. Todas as atividades são gratuitas.
Contatos: Pastor Jairo – (21) 2199-3551 / (21) 8121-7048
Cadec – (21) 3108 2591
Pastor Walmor – (21) 8214-3797 / (21) 2199-1009
Pastor Artur – (21) 8269-5779 / (21) 2131-7848
Projeto apresentado na quarta reportagem:
Fundação Luterana de Diaconia – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) – São Lourenço do Sul e Pelotas (RS)
Comunidades do Rio Grande do Sul – assentados, indígenas, quilombolas, agricultores familiar – aprendem o cultivo de produtos orgânicos e formam cooperativas para comercializar toda a produção.
Contatos: Susanne Buchweitz – (51) 3225-9066 / (51) 9107-2511
Rocheli Wachholz – (53) 9122-4491 / (53) 3272-3930 / (53) 3027-1895
Fonte: Site do Jornal Nacional