Representantes de comunidades judaicas na Itália criticaram neste sábado a decisão de Bento 16 de promulgar o Decreto das Virtudes de Pio 12, e lembraram que o papa Eugenio Pacelli é acusado de ter se omitido diante do genocídio durante a Segunda Guerra Mundial.

“Se a decisão implicasse um julgamento definitivo e unilateral da atuação histórica de Pio 12, reiteraríamos que a nossa avaliação ainda é crítica”, diz uma nota assinada pelo rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, pelo presidente da União das Comunidades Judaicas italianas, Renzo Gattegna, e pelo presidente da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Pacifici.

No texto, os judeus reiteram não terem o poder de “interferir de forma alguma nas decisões internas da Igreja, que tem o direito de liberdade de expressão religiosa”, mas recordam que a “comissão conjunta de historiadores do mundo judeu e do Vaticano ainda esperam pelo acesso aos arquivos daquele período”.

Os arquivos em discussão são os documentos particulares de Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli (nome de batismo de Pio 12), principalmente os que remetem à época de 1939. Para a comunidade judaica, é essencial analisar as informações arquivadas do período.

“Não esqueçamos também das deportações de judeus da Itália e, em particular, o trem de 1021 deportados, que partiu em 16 de outubro de 1943 em direção a Auschwitz [campo de concentração nazista], no silêncio de Pio 12”, continua a nota.

Por outro lado, a declaração enfatiza que o mundo judeu “continua reconhecendo as pessoas e as instituições da Igreja que atuaram para salvar os perseguidos”.

O pontificado de Pio 12 teve início em março de 1939 e foi encerrado em outubro de 1958. Ainda hoje, sua atuação durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) ante a perseguição de judeus praticada pelo regime nazista é alvo de intensas controvérsias.

Hoje, ao receber uma delegação da Congregação para as Causas dos Santos, Bento 16 firmou diversos decretos, entre eles o que reconhece as virtudes heróicas de Pio 12, o que o eleva ao título de “venerável”.

Este é o penúltimo passo da última fase do processo de beatificação, que inclui ainda a comprovação de um milagre por intercessão do venerável à proclamação como beato.

João Paulo 2º e Pio 12 mais perto da canonização

O papa Bento 16 assinou neste sábado decretos que reconhecem as “virtudes heróicas” dos papas João Paulo 2º e Pio 12 colocando, assim, os dois pontífices mais perto da canonização.

O reconhecimento das virtudes heroicas abre caminho para a beatificação e, posterirmente, a canonização, que é quando o papa declara que um beato é santo.

Com a medida do Vaticano, os dois papas terão agora o título de “veneráveis”.

João Paulo 2º, papa que antecedeu Bento 16, morreu em 2005 depois de 27 anos de pontificado.

Muitos reconhecem o esforço de João Paulo 2º pelo fim do comunismo na Europa, especialmente na Polônia, sua terra natal.

Para o processo de beatificação, é necessário o reconhecimento de um milagre, o que se espera que ocorra no próximo ano.

No caso de João Paulo 2º, o milagre seria a cura de uma freira francesa com mal de Parkinson. Caso Bento 16 aprove esse milagre, João Paulo 2º poderá ser beatificado, o último passo antes da canonização.

Fonte: Folha Online e BBC Brasil

Comentários