Martelo da justiça
Martelo da justiça

Uma decisão judicial bloqueou pouco mais de R$ 1 milhão em contas da Igreja Universal em meio a um processo movido por três clientes de Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó dos bitcoins”, preso sob a acusação de comandar um bilionário esquema de pirâmide financeira travestido de investimentos em criptomoedas.

Na ação, o advogado das vítimas alega que o grupo religioso recebeu R$ 72 milhões doados pelo ex-garçom ou por sua empresa, a GAS Consultoria — dinheiro que, no entender da defesa, seria oriundo das movimentações criminosas da quadrilha.

A Universal recorreu da medida, alegando que ela “vem causando inúmeros prejuízos”, mas ainda não obteve resposta nos autos do processo. No passado, Glaidson já atuou como pastor da Igreja na Venezuela.

A ação corre na 11ª Vara Cível de Brasília, onde moram os três clientes lesados, que firmaram diversos acordos com o grupo entre outubro de 2020 e agosto de 2021, semanas antes da prisão de Glaidson pela Polícia Federal.

O primeiro deles, um servidor público, relata que investiu R$ 200 mil na GAS, divididos por cinco contratos. A segunda vítima, uma professora, aportou R$ 20 mil no esquema, enquanto a terceira autora da ação, uma aposentada, repassou R$ 120 mil à empresa, em quatro contratos distintos.

Embora o montante entregue pelo trio totalize R$ 340 mil, que se somam a R$ 150 mil pedidos a título de danos morais e a R$ 98 mil de honorários advocatícios, o arresto determinado pelo juiz Ernane Fidelis Filho acabou bloqueando mais de R$ 1 milhão nas contas da Universal.

Na petição inicial, o advogado Luciano Régis inclui a Igreja “no polo passivo da presente demanda” por conta dos R$ 72 milhões recebidos, “em tese, a título de doação”.

O documento, obtido pelo GLOBO, pontua que, ainda que não seja possível fazer juízo sobre um eventual envolvimento do grupo religioso nos crimes da quadrilha, “é fato que, independentemente do envolvimento em atos ilícitos, a serem apurados em juízo adequado, a ré em questão foi beneficiária dos recursos provenientes de possíveis ilícitos”.

A ação lembra também que as investigações identificaram que o templo da Universal em Cabo Frio, na Região dos Lagos, cidade que era base das operações da quadrilha, chegou a receber R$ 15 milhões doados por Glaidson em um único dia.

Em julho de 2021, mês anterior à prisão do ex-garçom, mais R$ 20 milhões foram entregues à Igreja por ele. O texto ressalta, então, que a própria Universal, em uma nota pública na qual reconhecia o recebimento dos valores e dizia ter iniciado um processo contra Glaidson para que ele explicasse a origem do dinheiro, defendia que “tomou esta atitude exatamente porque tem ciência de que um dos alvos destas pirâmides financeiras são as pessoas de boa-fé”.

Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como "Faraó dos bitcoins"
Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como “Faraó dos bitcoins”

“Não é aceitável que perante o público a Igreja Universal do Reino de Deus, por meio dos seus canais de comunicação, afirme que as atividades da GAS são ilícitas e que enganavam as pessoas, mas que no Judiciário ela trave uma briga para ficar com os R$ 72 milhões que pertencem aos investidores da GAS. É preciso ter coerência entre o discurso e as atitudes. Por que não depositam esse valor em juízo, por exemplo?”, disse ao GLOBO o advogado Luciano Régis.

Na última terça-feira, foi a vez de a Universal protocolar um “pedido de reconsideração”. O documento anexado ao processo é assinado por três advogados de São Paulo: Antônio Sérgio Moraes Pitombo, Cláudio Henrique Daólio e Mariana Souza Barros Rezende. No texto, a defesa da Igreja frisa que “jamais participou da relação jurídica contratual” entre os autores da ação e a GAS.

Fonte: Último Segundo

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