Kaká é entrevistado no programa "Grande Círculo", exibido no SporTV em 29 de dezembro 2018
Kaká é entrevistado no programa "Grande Círculo", exibido no SporTV em 29 de dezembro 2018

Ao ser entrevistado no programa “Grande Círculo”, que foi ao ar neste sábado, 29 de dezembro, no SporTV, Kaká fez um balanço de sua carreira, um ano depois de ter anunciado sua aposentadoria.

Sabatinado por Milton Leite, Cleber Machado, Caio Ribeiro, Maurício Noriega, Barbara Coelho, Tino Marcos e André Rizek, o último brasileiro a ter sido eleito o melhor jogador do mundo (em 2007) falou também sobre os clubes por onde passou, seleção brasileira e sua religião.

O anúncio de que casaria viagem

– Hoje, eu faria diferente. Tem algumas coisas que hoje, principalmente com rede social, com essas plataformas em que você é o comunicador e acaba atingindo um número grande de pessoas, a gente deve realmente manter a privacidade. Não me arrependo da forma como cheguei ao meu casamento [virgem], mas hoje é uma coisa que eu me resguardaria um pouco mais, para me preservar de especulação ou brincadeiras, coisas que realmente são desnecessárias.

A chegada ao topo

– Eu não esperava, realmente. Porque quando eu saio do São Paulo, o presidente na época, Paulo Amaral, me falou: “Você sabe quem está na sua posição lá no Milan?” Eu falei: “Sei”. Eram o Rivaldo e o Rui Costa. Mas eu cheguei no Milan e o [técnico Carlo] Ancelotti preferiu que eu ficasse no Milan já no primeiro ano. E aí cheguei, fui tendo as oportunidades e as coisas foram acontecendo numa velocidade que eu também não esperava. Cheguei, no primeiro jogo contra o Ancona já fui titular. Joguei a maioria dos jogos naquele ano, o Milan ganhou o Scudetto, eu fui escolhido um dos melhores da liga. Foi tudo mais rápido que eu imaginava.

A maior glória

– Copa do Mundo de 2002. Mesmo tendo jogado só 23 minutos contra a Costa Rica. Até brinco que é o número da minha camisa. Mas a conquista da Copa do Mundo é muito grande, é muito legal. Depois joguei mais duas Copas, briguei para ir para uma quarta. É muito difícil chegar para disputar uma Copa. A cada quatro anos, você não sabe em que condições vai chegar. Mesmo tendo participado pouco, com 20 anos, poder dizer que eu fui campeão do mundo com a seleção…

O que faltou na carreira

– Cheguei muito mais longe do que eu poderia imaginar. Na minha ideia, na minha cabeça, eu queria ser jogador profissional do São Paulo e vestir a camisa da seleção uma vez que fosse. Eu nunca sonhei em ser o melhor jogador do mundo, por exemplo, mas as coisas foram acontecendo e chegou um momento que dava para sonhar. Sou muito feliz, muito grato com a minha carreira. Se eu pudesse planejar como seria a carreira ideal, eu tiraria algumas lesões, principalmente joelho e quadril, e colocaria alguns anos na Premier League, jogando por lá.

A Copa de 2006

– Todos os jogadores daquela seleção eram protagonistas em seus clubes, e tinha tudo para aquela seleção chegar mais longe. Pelo menos a disputar a final. A França era excelente também, Zidane foi um dos protagonistas daquele Mundial. Mas eu acho que aquela seleção poderia ter feito um pouco mais. […] No seu momento, pode ter faltado alguém que falasse [sobre a bagunça]. O difícil nessa situação especifica é quando você esta naquela situação especifica, você enxergar realmente que está toda essa bagunça. Depois, anos na frente, a gente consegue analisar melhor. Na hora, de dentro, é mais difícil de analisar, porque você está envolvido com aquele momento de Copa do Mundo.

A Copa de 2010

– 2010 é detalhe de jogo. Você pega os dois gols aqui. O primeiro o Júlio César [tromba] com Felipe Melo, dois do mesmo time, isso é muito detalhe de jogo. Porque o primeiro tempo foi excelente, gol do Robinho, eu bati uma bola, chapada ali, que o goleiro defende, mais uma duas ou três oportunidades que a gente teve. Aí no segundo tempo, dois detalhes de bola parada. É muito difícil falar o que faltou. É jogo também. […] Aquela seleção ganhou tudo o que disputou naquele período, menos a Copa do Mundo. Num ciclo de quatro anos, ganhou as Eliminatórias se classificando lá na Argentina. Ganhou a Copa América, ganhou a Copa das Confederações… Tudo que podia ganhar, ganhou. E na Copa, perde no detalhe do jogo. E eu trago isso para essa Copa agora. A seleção se preparou da forma que deveria se preparar, fez tudo o que devia, e aí a gente viu uma aula numas quartas de final, Brasil e Bélgica, dos dois treinadores, nível técnico altíssimo. E aí é jogo. Bola do Thiago bate na trave e sai. Bola do Kompany bate no Fernandinho e entra.

Copa de 2014

– Uma das receitas que eu aprendi no futebol é que misturar experiência e juventude. Onde eu passei que teve essa mescla, deu muito certo e funcionou muito bem. Isso principalmente nos meus primeiros anos de Milan. Quando eu chego lá com Cafu, Maldini, Schevchenko, uma galera que já era experiente, conquistadora… E eu chego moleque. Quando você não tem em casa alguém que corta suas asinhas quando você quer crescer demais, é o cara que corta ali no vestiário. Então é fundamental ter essa mistura. E aí, falar se faltou isso ou não, acho que com certeza poderia ter ajudado ter um jogador mais experiente nessa situação.

Religião

– Eu sempre falei da minha fé, sempre foi público, porque eu não conseguia separar o Kaká pessoal do Kaká profissional. Isso acabou sendo uma grande virtude para mim. Porque as pessoas que me veem aqui, falando, vão saber que é a mesma pessoa que está ali atrás fora das câmeras. Isso acabou me ajudando muito. Sempre tive algumas oposições, algumas críticas em relação a isso. A escolha que eu fizesse, eu seria criticado por algumas pessoas. E aí, por que eu quero ser criticado? É a escolha que a gente tem que fazer. A crítica vai vir de qualquer jeito. Ou porque é festeiro, ou porque não sai nunca. E nesse caso valeu a pena, porque era quem eu era, quem eu sou. E para mim sempre foi muito fácil falar sobre isso, porque é o que eu realmente sou. E quanto aprendi escolher pelo que eu queria ser criticado, ajudou bastante.

Futuro

– Hoje, olhando de fora, a minha primeira opção é ser um diretor esportivo, então estou me preparando. Eu quero através do futebol aprender sobre outras áreas. Hoje eu faço um curso de gestão no esporte da FGV, fiz um curso de negócios do esporte nos Estados Unidos, eu quero através do esporte ampliar para outras áreas. Finanças, marketing, tudo mais, através daquilo que eu realmente entendo que é o jogo. Para depois poder decidir como que eu vou voltar. Um dia quero voltar para o jogo, do fim de semana. Hoje eu estou em volta do futebol, evento, patrocinador. Mas um dia eu quero ir para o jogo mesmo, ou como treinador ou como diretor. Treinador não é minha primeira opção, mas não descarto também, daqui a dois ou três anos. Hoje vendo meu filho jogar, me dá um coceirinha de dar uns palpites.

Morar no Brasil

– Eu fiquei 14 anos fora. Essa volta para mim está sendo muito boa. Eu não me sinto inseguro, sei dos problemas de segurança que tem no nosso país. Mas não me sinto inseguro de parar num farol e achar que vai acontecer um assalto. Isso, claro, não estou desmerecendo o problema de violência que a gente tem no Brasil. Nós temos que aprender a potencializar o que tem de bom no país. Morando fora, eu vi que os países do primeiro mundo tem muitas coisas ruins também, mas eles sabem muito valorizar o que têm de bom. Que sirva de exemplo para a gente valorizar o que tem de bom, sem nunca esquecer daquilo que precisamos melhorar.

Fonte: Globo Esporte

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