Os cidadãos que se opõem à construção da futura grande mesquita de Colônia estão cada vez mais decididos a fazer frente a este projeto. Na quinta-feira, 9 de agosto, eles acompanharam de perto uma reunião do conselho municipal dedicada a este projeto que vem agitando a capital da Renânia, onde está concentrada uma das maiores comunidades turcas da Alemanha.
“Mostremos aos dirigentes da nossa cidade o que nós pensamos do seu prestigioso projeto de multiculturalismo! Vamos acabar de uma vez por todas com essa loucura!”, proclama o Pro-Köln (Em favor de Colônia), o partido de extrema-direita que conta cinco eleitos no conselho municipal. Esta agremiação recebeu o apoio do partido de extrema-direita austríaco FPÖ para conduzir esta campanha.
Além de Colônia, mobilizações desse tipo vêm ocorrendo em Munique e em Berlim. Nos últimos meses, três projetos de construção de mesquitas vêm suscitando os temores, e até mesmo o ódio, de uma boa parte dos moradores das áreas onde elas deverão ser construídas. Os seus comitês de ação afirmam defender os valores ocidentais. Segundo o coletivo Cidadãos para Munique, “as concepções muçulmanas de submissão da mulher, de casamento forçado, de crime de honra, além das suas regras em matéria de abate de animais e de alimentação são contrárias à Constituição”.
Ou ainda, de maneira mais prosaica, muitos são os habitantes que temem ver o seu bairro perder o seu valor imobiliário, ou ainda prevêem ocorrências de novos problemas como o barulho, o trânsito… Ou ainda se mostram preocupados, assim como ocorreu em Berlim-Pankow, com uma “islamização” da Europa ocidental.
A mesquita de Colônia-Ehrenfeld, que vai se tornar uma das maiores da Alemanha com 2.000 lugares, causa divisões nesta cidade que conta 120.000 muçulmanos, mas que é mais conhecida pela sua catedral gótica. Defendido pelo prefeito conservador, Fritz Schramma, pelo motivo de que o novo local de culto permitirá fazer com que o islã saia dos “quintais escondidos”, nos quais ele enxerga as verdadeiras “tocas” da militância islâmica, o plano inicial foi rejeitado por ocasião de uma consulta popular, ainda que esta não tivesse valor legal.
O arquiteto comprometeu-se a apresentar um novo projeto no qual a altura dos minaretes não será superior a 50 metros, contra 55 metros previstos inicialmente. A organização que encomendou a construção, a Ditib (União Turca Islâmica para a Religião), a mais importante organização muçulmana na Alemanha, controlada pelo Estado turco, se diz disposta a fazer concessões.
Diálogo das culturas
As críticas são também proferidas pelos muçulmanos laicos, que acusam as autoridades de terem feito “vistas grossas” por um tempo excessivo em relação aos excessos e às perdas de rumo do Islã, em nome de uma política desmedida de multiculturalismo que foi implantada como se fosse uma evidência na Alemanha a partir do pós-guerra.
A socióloga Necla Kelek, autora de um livro que chama a atenção para os crimes de honra, intitulado “A Noiva Importada”, avalia o projeto do novo edifício de maneira negativa. “Os muçulmanos passam a lidar com a sua mulher de um modo muito diferente quando eles começam a freqüentar assiduamente a mesquita. Eles ensinam as menininhas de seis anos que elas devem trajar o véu”, sublinha a autora.
Contudo, no bairro de Ehrenfeld, onde ele mora há anos, um homem acredita que o projeto pode contribuir para o diálogo das culturas: Günter Wallraff, o autor de “Cabeça de Turco”, uma pesquisa sobre os imigrantes que vieram trabalhar na Alemanha durante os anos 1980. “Em toda a minha obra, e até mesmo ao longo de toda a minha vida, eu lutei em favor de uma melhor integração dos imigrantes”, afirma.
Hoje, ele está decidido a “pegar ao pé da letra” os muçulmanos da Alemanha quando eles afirmam ser modernos. Assim, “com o objetivo de dar início a um debate”, ele pretende promover neste outono leituras públicas nas dependências da atual mesquita, que incluiriam trechos de “Os Versos Satânicos”, de Salman Rushdie.
Wallraff explica ter hospedado este autor em várias oportunidades depois que uma “fatwa” (edito religioso) condenando-o à morte foi lançada contra ele. “Isso não é um sacrilégio”, defende-se. “Esta iniciativa poderia representar o começo de um Islã europeu”.
Fonte: Le Monde