[img align=left width=296]http://cdn.ruvr.ru/2014/04/24/1504083414/5148144196_64f6594b5d_b.jpg[/img]O premiê britânico, David Cameron disse que a Grã-Bretanha é um país cristão e que o Cristianismo contribuiu para a formação do Estado britânico.
Um grupo de 50 conhecidas personalidades, incluindo um prémio Nobel, vários diplomatas, escritores, artistas e atores endereçou-lhe uma carta aberta contestando seus enfoques religiosos tradicionais. A mensagem realça que as declarações do primeiro-ministro “vêm provocando uma cisão, menosprezando a contribuição dada por representantes de outras confissões religiosas – muçulmanos, hinduístas, judeus, budistas, ateus, etc. para o desenvolvimento do país”.
Importa acentuar que Cameron, membro da Igreja Anglicana, evocou a contribuição dos cristãos, na véspera das celebrações da Páscoa, tendo publicado um vasto artigo na maior edição anglicana, The Church Times. Mas a polémica gerada pela publicação continua até hoje. Após um “fogo de artilharia”, aberto contra Cameron por partidários da tolerância religiosa, para o seu lado passaram os fiéis da Igreja. Embora presentemente os hierarcas anglicanos não sejam aprovados pela família real ou o governo mas sim pelo parlamento, as candidaturas de párocos e bispos devem ser acordadas com o primeiro-ministro.
“Podemos ver que na sociedade contemporânea nem tudo está bem e em harmonia se nós temos de defender os direitos dos cristãos”, anunciou a esse propósito Christina Rees, da Câmara de Leigos do Sínodo Geral da Igreja Anglicana:
“O primeiro-ministro tem razão: somos um país cristão. Durante séculos, a Grã-Bretanha foi e continua sendo, em termos históricos e culturais, um Estado cristão. Me apraz muito o fato de que o chefe do Executivo não receia falar, em alto e bom som, da sua fé cristã. No que tange aos críticos, estamos habituados às suas afrontas, que são bastante frequentes. Os críticos de Cameron não teriam dito nada se ele dissesse, por exemplo, que as práticas budistas “o ajudavam a se reconciliar consigo próprio”. Já se tornou fácil tecer críticas tanto ao premier, como à fé cristã”.
Convém dizer que, em todo o caso, tal passo empreendido pelo chefe do governo, não é típico dos primeiros-ministros da atualidade. A Downing Street nunca sentiu o fardo das vestes religiosas próprias ou alheias. É verdade que o premier laborista, Tony Blair, anunciou que terminaria as suas intervenções com a frase “God bless you” (“Que Deus vos abençoe”). E continuou distribuindo “bênçãos finais” até que o acusaram de “imitar os americanos”. Mas ele, com certeza, não era um chefe do Gabinete “clássico”. Depois das eleições de 1997, terá abandonado o protestantismo, se convertendo ao catolicismo, professado pela sua esposa. Foi um caso sem precedentes na história da Inglaterra.
Os “más-línguas” do campo oposicionista afirmam “não ter havido nada de religioso” por trás do discurso de David Cameron. As eleições autárquicas estão agendadas para o mês de maio e o Verão e as legislativas gerais, para 2015. Pelo visto, nessas campanhas, os conservadores se defrontarão com candidatos radicais da direita. Após a crise econômica, o aumento de desemprego e os múltiplos problemas com a imigração ilegal, os eleitores estão convencidos de que estes males terão sido causados pelo rumo liberal do Partido Conservador.
O líder do Partido da Independência do Reino Unido, Nigel Farage, de ânimos nacionalistas, tem prognosticado um “abalo político” no caso da vitória de seus adeptos nas eleições para o Parlamento Europeu em 2015. Ele defende a aplicação de outras receitas, evidentemente não religiosas, preconizando slogans como “Grã-Bretanha para os britânicos” e “Não vamos pagar mais aos gatos gordos da UE”:
“Precisamos de um país pós-comunitário que conduza uma política migratória sensata e franca. Tal política se resume ao seguinte: saudamos os imigrantes, mas vamos controlar a qualidade e a quantidade daqueles que chegam à Grã-Bretanha”.
Por isso, a religiosidade de Cameron tem um certo cariz político. Ele tem de procurar novos adeptos em todas as camadas sociais. Todavia, os cristãos não deixam de constituir a maioria religiosa. Segundo um inquérito mais recente, cerca de 54-59% dos questionados na Inglaterra e Escócia se identificam como cristãos.
O exemplo de Cameron tem sido seguido por vários políticos da Alemanha, Holanda, Espanha, Dinamarca e Áustria. Na véspera das eleições, os valores religiosos parecem estar gozando de elevada demanda.
[b]Fonte: Voz da Rússia[/b]