O reverendo Joseph Hayap, secretário da Associação Cristã da Nigéria e pastor da Convenção Batista Nigeriana , tem testemunhado conflitos religiosos no estado de Kaduna, norte da Nigeria, desde 1987 e, segundo ele, esses conflitos resultaram na morte de mais de 25 mil cristãos e na destruição de cerca de 500 igrejas.
Joseph faz alusão à crise constitucional desencadeada com a imposição da sharia (código legal islâmico) em 12 Estados do norte do país. Ele identifica o desejo muçulmano de colocar o Alcorão acima da Constituição nigeriana como a causa principal do conflito religioso.
Para Joseph, essa atitude leva os muçulmanos a acreditarem que estão acima da lei.
“O problema que nós temos na Nigéria é a falta de aplicação da lei”, disse ele. O islamismo é visto como uma religião cujos seguidores não podem estar sujeitos à lei.
O Estado de Kaduna agora opera com um sistema legal duplo: o sistema legal comum e o da sharia. O governo de Kaduna afirma ter estabelecido cortes comuns para servir os cristãos e os animistas.
Contudo, Joseph disse que as cortes comuns estão atuando conforme as práticas religiosas de animistas e, conseqüentemente, não atendem aos interesses dos cristãos. Ao permitir o sistema dual, o governo apenas tenta criar a impressão que estava se dirigindo à injustiça feita aos cristãos.
“A verdade é que a lei da sharia, ou as cortes da sharia no Estado de Kaduna, foi dada muçulmanos. Mas, os cristãos não receberam nada, porque que as cortes comuns não são para eles”, disse Joseph.
Ele diz que os cristãos rejeitam a sharia não por oposição às cortes ou às suas proibições. Os cristãos na Nigéria rejeitaram a sharia porque ela impede o evangelismo. “Com a sharia, se um muçulmano ouvir o evangelho e decidir receber Jesus, ele será morto pelos muçulmanos por se converter ao cristianismo”.
Desvio de Fundos Sociais
Uma outra razão que os líderes cristãos se opõem à sharia é que os recursos doados para serviços sociais podem ser desviados para a propagação do islamismo.
Além de Joseph, outras pessoas pensam assim: Ali Buba Lamido (bispo anglicano da diocese de Wusasa em Zaria); o diácono Saidu Dogo (secretário-geral do CAN no norte da Nigéria); e o Dr. Bitrus Gani (presidente dos Governadores da Esperança para o Centro de Cegos em Zaria). Esses líderes cristãos afirmam que os recursos destinavam-se para serviços tais como hospitais, escolas, estradas e utilidades públicas. Os recursos são desviados agora para a construção de instituições islâmicas, pagamento de juízes muçulmanos e para atrair ao islamismo cristãs e órfãos pobres.
Eles declaram que os cristãos inocentes e incultos são levados diariamente para as cortes islâmicas. São citados numerosos casos de cristãos processados e presos por cortes islâmicas – ou julgados nessas cortes – enquanto o governo nigeriano parece incapaz de intervir.
O diácono Saidu confirma o fato de que os cristãos do campo, inocentes e pouco instruídos, se tornam vítimas da lei islâmica.
“De maneira geral, descobrimos que a sharia foi introduzida para enganar pessoas que não são cultas o suficiente para entender a implicação dessa lei”, disse Saidu. Ele conta que líderes muçulmanos, com o uso da sharia, punem de maneira injusta os menos privilegiados no norte da Nigéria, principalmente os cristãos.
Saidu acrescentou que os governos controlados por muçulmanos proíbem o ensino do Conhecimento Religioso Cristão aos alunos cristãos em escolas, e as agências de mídia nestes Estados são proibidas de transmitir programas cristãos.
Ele disse que as autoridades de planejamento da cidade não permitem que igrejas construam em suas propriedades, e, por isso, os prédios de igrejas foram demolidos.
“Agora as igrejas tornaram-se alvos dos responsáveis pelo planejamento da cidade”, disse ele. “Essas agências de governos islâmicos derrubam igrejas à vontade, alegando que tais igrejas são estruturas ilegais”.
Além disso, disse ele, sempre que os cristãos constroem casas e as convertem em igrejas, (já que o governo reprova as solicitações para os prédios de igrejas), essas casas são marcadas como estruturas ilegais e demolidas.
“Todavia, muçulmanos em todos os lugares constroem mesquitas e sem precisar de aprovação”, disse Saidu. “Isso é o que significa ser um cristão em Estados islâmicos como o de Kaduna.”
Cristãos sentem-se discriminados no Oriente Médio
Muitos cristãos estão fugindo do Oriente Médio e de alguns países asiáticos devido à discriminação social e econômica, segundo um relatório da organização católica “Ajuda à Igreja que Sofre”, apresentado recentemente numa conferência em Lisboa.
Segundo o documento intitulado “Relatório 2006 Sobre A Liberdade Religiosa no Mundo”, o êxodo dos cristãos no Oriente Médio e em alguns países asiáticos deve-se, em larga medida, à pressão e à discriminação social e econômica das minorias cristãs em países onde o islamismo é considerado (constitucionalmente) religião oficial do Estado.
“Atingidos também pela ameaça do terrorismo, os cristãos escolhem, em muitos casos, o caminho do exílio para o Ocidente. É o caso do Iraque e da Palestina, onde é elevado o risco de extinção das comunidades católicas de rito oriental”, refere o documento.
No Irão, os católicos batizados que em 1973 representavam 0,1% da população hoje são apenas uma ínfima percentagem (0,01%).
No mesmo período, no vizinho Iraque, a presença cristã diminuiu em dois terços e na Palestina passou de cerca de 12% para 1%.
Contudo, a perseguição às minorias religiosas não é uma exclusividade dos países islâmicos, verificando-se igualmente em alguns países majoritariamente budistas ou ateus na Ásia e na Europa de Leste, na América Latina e até mesmo em alguns países ocidentais, ainda que em menor expressão.
Na Índia a atividade missionária é objeto de violência sistemática, chegando ao homicídio, como no caso de um sacerdote católico e de um pastor protestante.
Dependente do Vaticano, a organização católica Fundação Ajuda à Igreja que Sofre foi criada em 1945 pelo padre belga Werenfried para dar auxílio a pessoas perseguidas pelas suas crenças religiosas.
O relatório aborda a situação em 190 países ao nível dos direitos constitucionais e da legislação nacional em matéria religiosa e foi elaborado com base em testemunhos de representantes religiosos, documentos oficiais, dados de agências noticiosas internacionais e organizações de defesa dos direitos humanos.
Os extremismos da perseguição por motivos religiosos e das violações à liberdade de culto encontram-se referenciados ao longo de todo o relatório, que indica a ocorrência de assassinatos, atentados, seqüestros e detenções de representantes religiosos ou de crentes.
Relativamente ao Oriente Médio, o relatório refere que as violações à liberdade religiosa praticadas derivam de legislação restritiva e discriminatória, como as leis contra as conversões (mudança de uma religião para outra) e contra a blasfêmia (difamação de caráter religioso), que na prática muitas vezes são utilizadas para outro fim: a discriminação das minorias religiosas.
Na Europa, o documento analisa 14 países, dando especial destaque aos países de Leste e à Turquia.
Diz o relatório que em alguns países da antiga União Soviética é ainda difícil abrir-se o caminho à idéia da autonomia da religião em relação ao Estado, embora na Geórgia e na Rússia se registrem alguns avanços na desnacionalização das Igrejas.
Na Rússia, a posição do Estado a respeito das comunidades religiosas registrou melhorias, sendo apoiado o diálogo entre as igrejas, mas no interior da sociedade russa surge ainda com alguma expressão o anti-semitismo, que registrou u m ponto alto no grave atentado à Sinagoga de Moscovo, no dia 11 de Janeiro de 2006.
Na Turquia, foram dados passos no sentido de atribuir mais direitos às comunidades religiosas cristãs, tendo sido aprovado em Junho de 2005, pelo Parlamento, um pacote de reformas que reafirma o respeito pela liberdade religiosa, instituindo como delito o impedimento à expressão do credo religioso, que passou a ser punido com uma pena até três anos de prisão.
A Comissão Européia, na proposta para a admissão da Turquia como parceiro, especificou que Ankara terá de assegurar o reconhecimento da plena “liberdade de religião”.
No entanto, em 05 de fevereiro de 2006, na cidade de Trebisonda, um rapaz muçulmano matou a tiro um sacerdote católico italiano na Igreja de Santa Maria.
O relatório faz ainda uma referência a França, país europeu que baniu inteiramente o ensino da religião das escolas públicas, por ter aplicado com dureza a lei de Março de 2004 sobre a ostentação dos símbolos religiosos em ambientes públicos, levando a inflamadas polêmicas conseqüentes à proibição de usar o véu feminino islâmico nas escolas da república.
Na América, o relatório destaca a Venezuela, Cuba e Colômbia.
Apesar dos esforços de pacificação, prosseguem os homicídios e a violência por parte de organizações terroristas contra os expoentes religiosos na Colômbia.
Na Venezuela, é visível o agonizar das tensões entre o Estado e a Igreja Católica, enquanto Cuba reduz fortemente o papel da igreja nos espaços educativos e social, impedindo a livre evangelização.
O “Relatório 2005 Sobre a Liberdade Religiosa no Mundo” foi apresentado em junho, pelo diretor da ACS na Itália, Attilio Tamburrini, pelo diretor da AsiaNews, Bernado Cervellera, pelo presidente da ACS internacional, Hans-Peter Roethlin, e pelos jornalistas Magdi Allam e Orazio Petrosillo.
Fonte: Portas Abertas e Diário Digital/Lusa