Ex-presidente Lula
Ex-presidente Lula

Jamil Chade
Colunista do UOL

Depois de visitar o papa Francisco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fecha acordo com as igrejas protestantes tradicionais.

Na sexta-feira da semana passada, Lula manteve encontros fechados em Genebra com o reverendo Olav Tveit, o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, e lideranças religiosas como os luteranos.

Num comunicado, o Conselho se limitou a indicar que o debate se concentrou na “atual situação do Brasil” e nos “problemas de justiça global”. Ele ainda teve encontros com representantes religiosos da Alemanha.

O assunto central foi a questão da desigualdade e, entre os representantes das igrejas protestantes, até mesmo o discurso do papa sobre a economia foi mencionado como referência. No encontro, o ex-presidente insistiu que tal estratégia não é apenas teórica e que, com decisões políticas, tais desafios podem ser superados.

Mas ele também defendeu que a igreja evite adotar uma postura de um partido. “Sou contra as igrejas serem partidarizadas”, disse. Acho que na hora da eleição os pastores votam com a consciência deles. Mas na pregação precisam defender os mais pobres”, disse.

Lula ainda insistiu que uma liderança política não precisa ser evangélico para defender a população evangélica. No mesmo tom, ele insistiu sobre a liberdade religiosa.

A realidade é que o ex-presidente e os protestantes tradicionais têm um interesse comum: evitar que a extrema-direita se aproprie do discurso religioso, das igrejas e que as transforme em suas bandeiras. Para o petista, o objetivo é recuperar parte dos votos que migraram para outros grupos políticos. Para o movimento religioso, evitar que a fé justifique atos de discriminação e retomar a ideia do evangelho como uma base para lidar com as desigualdades sociais.

No ano passado, o mesmo Conselho se reuniu de forma extraordinária com representantes religiosos brasileiros para lidar com a situação. O temor era de que uma versão fundamentalista do cristianismo estaria legitimando medidas do governo de Jair Bolsonaro que iriam justamente contra as bases da religião — entre elas a discriminação, violação aos direitos humanos e mesmo a proteção do planeta.

Lula, de seu lado, também sabe que o PT terá de voltar a dialogar com os movimentos evangélicos brasileiros. Numa recente entrevista ao UOL, ele defendeu que o PT volte às periferias e busque aproximação com as igrejas.

“Tenho dito que o PT precisa voltar para a periferia para aprender a conviver com esse movimento. O que é a Igreja Pentecostal, hoje, no Brasil? O que eles representam? Já são 30% ou 35% da população religiosa. No começo do século passado, era praticamente zero. E o pentecostal da prosperidade tem uma linguagem fácil para conversar com o povo. Porque você tem, de um lado, o autor de todos os problemas, que é o diabo, e a solução toda, que é Deus. E se não tiver solução, o cara é culpado porque não tem fé”, disse.

Fonte: Jamil Chade – UOL

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