Em um templo cheio de homens vestidos com uma espécie de beca e avental, o aprendiz tem que avançar com a perna direita em passos contados. O ritual de iniciação também inclui sons que deixam o novato apreensivo, como se um raio fosse cair sobre o salão – mas, no final, não acontece nada fora do normal. Ferramentas de pedreiro, régua, esquadro e prumo ficam expostos. E o venerável mestre segura um martelo.
Afinal de contas, o que é isso? É apenas uma sessão da maçonaria. Uma associação fundada oficialmente em 1717, na Inglaterra, mas com raízes ainda na Idade Média (até o século XV). De acordo com os maçons, o principal objetivo dessa “sociedade secreta” é aperfeiçoar intelectual e moralmente seus integrantes. Em segundo plano, estão as ações de ajuda social.
Embora pareça ter saído de um túnel do tempo, a maçonaria consegue novos adeptos no estado, principalmente no interior. Segundo a própria associação, o número de maçons paulistas passou de 44 mil, em 2007, para 48 mil neste ano. No interior, encontram-se pelo menos 70% dos integrantes.
Para o grão-mestre José Maria Dias Neto, do Grande Oriente Paulista, um dos três segmentos da maçonaria no Brasil, a sociedade “discreta” – como seus integrantes preferem se autodesignar – avança mais no interior porque, como as cidades são menores, os adeptos mantêm contato dentro e fora da loja maçônica.
– Na capital, o relacionamento entre as pessoas muitas vezes fica limitado à maçonaria – explica.
O fazendeiro e dono de motel Paulo Costa Kehdi, de 52 anos, é um maçom de Barretos, a 424 quilômetros de São Paulo. Ele acrescenta que a maçonaria é mais popular no interior porque, em municípios menores, a ajuda a pessoas carentes aparece mais.
– Aqui em Barretos, pagamos quartos na Santa Casa para pessoas que precisam. Se isso fosse feito na capital, ninguém perceberia – diz.
A quantidade de maçons, no entanto, é considerada pequena no Brasil. Existem hoje 180 mil membros da “sociedade secreta” no país, que tem cerca de 190 milhões de habitantes. Nos Estados Unidos, os maçons somam 5 milhões de pessoas – os EUA têm população de 300 milhões de habitantes.
A maçonaria não é uma religião, ao contrário do que muita gente pensa. Mas, para entrar na associação, é preciso, antes de tudo, acreditar em Deus. São aceitos católicos, evangélicos, muçulmanos, judeus, espíritas e praticantes de outras crenças.
Para entrar, também é preciso ser indicado por um maçom. Em seguida, uma comissão investiga a vida do pretendente, para saber se ele tem algo que prejudique sua reputação, como uma dívida não paga no prazo.
As reuniões são feitas nas chamadas lojas maçônicas, onde ficam os templos, uma vez por semana. Só homens podem integrar o grupo, mas, atualmente, suas mulheres participam de ações sociais e eventos abertos, como palestras e jantares. Os integrantes se comprometem a não revelar a pessoas de fora o que acontece nas sessões fechadas. Daí vem o mistério em torno da associação.
A maçonaria foi criada em Londres pelos pedreiros livres, operários que sabiam lapidar as pedras com perfeição.
– Por isso as mulheres não participam, pois não existe pedreiro mulher – explica Antonio Carlos Mendes, de 67 anos, mestre no segmento maçônico Grande Oriente do Brasil.
Fonte: Globo Online