Apesar de estar entre os três senadores que podem perder o mandato por suspeita de participação na máfia das ambulâncias, o senador evangélico, Magno Malta (PL-ES), comemorou nesta quinta-feira o envio das representações ao Conselho de Ética que darão início aos processos de cassação.

O senador disse que, ao contrário da CPI dos Sanguessugas, no conselho terá oportunidade de se defender das denúncias.

‘No conselho poderei dizer as minhas verdades. E a verdade está comigo. Só quem me deu o mandato pode me tirar. Estou esperando a hora de falar’, disse.

Malta disse estar tranqüilo para a escolha do senador que vai relatar o seu processo no Conselho de Ética. O senador Sibá Machado (PT-AC) já sinalizou que vai desistir da relatoria. O presidente do conselho, senador João Alberto (PMDB-MA), está conversando com vários senadores para definir quem será o relator.

Magno Malta subiu hoje à tribuna do Senado para se defender das acusações. Com o plenário vazio, já que o Congresso Nacional está em recesso branco, ele discursou apenas para o senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB), único presente no plenário naquele momento.

Da tribuna, Malta negou mais uma vez todas as denúncias reveladas por Luiz Antonio Vedoin, sócio da Planam, empresa acusada de operar o esquema de fraudes. Segundo Vedoin, o senador teria feito acordo com a Planam para liberar emenda no valor de R$ 1 milhão para a empresa.

Em troca, teria recebido 10% do total em propina. Malta também é acusado de receber, como adiantamento, um carro Fiat Ducato –que é de propriedade do deputado Lino Rossi (PP-MT), também denunciado pelo Ministério Público.

O senador admite que usou o carro do deputado, mas argumenta que não sabia da origem do veículo. ‘Eu não sou um senador com capacidade de premonição. Eu não sabia de quem era esse carro’, afirmou.

Senadores sanguessugas ainda podem renunciar para escapar da cassação

Os três senadores acusados de participação na máfia das ambulâncias ainda podem renunciar aos mandatos para escaparem dos processos de cassação.

Segundo o advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, mesmo com o envio das representações ao Conselho de Ética na manhã de hoje pela Mesa Diretora do Senado, o regimento da Casa permite a renúncia até que os processos sejam efetivamente instalados.

“Representação é uma coisa, processo é outra. Só quando se dá início ao processo a possibilidade de renúncia fica prejudicada”, disse o advogado.

Para que os processos sejam instaurados, basta o presidente do Conselho de Ética, senador João Alberto (PMDB-MA), assinar comunicado de que dará início às investigações –o que pode ocorrer a qualquer momento.

O advogado do Senado disse que João Alberto não precisa esperar até a próxima reunião do Conselho, marcada para o dia 5 de setembro, para instaurar os processos de cassação. “Isso se dá por despacho do presidente, sem a necessidade de sessão [do Conselho]. Mas ele precisa enviar ao Senado um documento original, com a assinatura, para não dar brechas à nulidade dos processos”, afirmou.

Cascais não soube esclarecer se os processos podem ser reabertos no ano que vem, caso os senadores decidam renunciar aos mandatos, mas sejam reeleitos ao Senado. “Teria que se estudar essa hipótese”, disse.

Entre os senadores suspeitos de participação na máfia dos sanguessugas, apenas Ney Suassuna (PMDB-PB) é candidato à reeleição. A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) é candidata ao governo do Mato Grosso e o senador Magno Malta (PL-ES) não vai concorrer nas eleições de outubro.

Defesa

O advogado saiu em defesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi acusado de retardar o início das investigações. “Não houve manobra alguma como chegou a se cogitar”, disse.

As críticas sobre Renan ganharam destaque esta semana, quando o Conselho de Ética percebeu que o presidente do Senado tinha enviado denúncias, e não representações contra os senadores, o que atrasou o início da abertura dos processos e forçou a Mesa Diretora a decidir pelo início das investigações.

CNBB vai pedir para eleitor não votar em mensaleiro e sanguessuga

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) vai alertar os eleitores a não votar em candidatos envolvidos em denúncias de corrupção. O presidente da CNBB, cardeal Geraldo Magella, disse hoje que a instituição não vai se posicionar contra nenhum dos candidatos com exceção dos que são “corruptos declarados”.

Segundo o Secretário-Geral da CNBB, dom Odilo Pedro Scherer, a instituição não vai apontar os nomes dos corruptos; a intenção é alertar os eleitores de que o voto “não tem preço, mas tem conseqüência e não pode ser decidido por uma amizade”.

“Não é necessário que a CNBB diga quem são os corruptos, os sanguessugas e mensaleiros. Não vamos fazer listas, mas orientar que a sociedade escolha as pessoas idôneas”, disse Dom Odilo.

Apesar da orientação, o vice-presidente da CNBB, dom Antônio Celso de Queiroz, disse que nem todos os parlamentares que foram apontados pelo Congresso como mensaleiros ou sanguessugas estão comprovadamente envolvidos com esquemas de corrupção.

“Há casos em que é preciso ficar atento. Não basta [o parlamentar] estar indicado [pelas CPIs]. É preciso averiguar, analisar as provas. É uma pena que [o escândalo dos sanguessugas] tenha aparecido na proximidade da campanha eleitoral”, disse.

Segundo dom Antônio, “não é de hoje que políticos roubam”. “Isso faz parte da cultura política”, disse. Por isso, ele recomenda que os eleitores estejam atentos, mas “não sejam inconseqüentes”.

Na avaliação do vice-presidente da CNBB, dificilmente as denúncias contra os sanguessugas serão julgadas neste ano pelo Congresso. “Não sei se vai haver tempo para esclarecer tudo isso. O importante é que seja dado um alerta claro de que a impunidade não é tão simples como parece”, disse.

Fonte: Folha Online

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