Urna eletrônica
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A pesquisa Panorama Político 2024 – Posicionamento Político do Brasileiro mapeou o perfil ideológico dos cidadãos no país, trazendo também o comportamento conforme a identidade religiosa. Nesse recorte, 35% dos evangélicos disseram se identificar com a corrente ideológica de direita; 8%, de esquerda; 9%, de centro e, a maior parcela, 42%, afirmou não ter qualquer posicionamento político.

O estudo foi realizado pelo Instituto de Pesquisa DataSenado em parceria com a Nexus, área de Pesquisa e Inteligência da FSB Holding. A pesquisa foi feita por telefone com 21.808 pessoas, entre os dias 5 e 28 de junho deste ano.

Para o professor da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) Marcos Simas, é preciso analisar a pesquisa considerando alguns fatores que dizem respeito ao contexto social e político que perpassa o Brasil e à multiplicidade do universo evangélico. Segundo Simas, que também é Doutor em Ciências da Religião, é preciso levar em conta que o conceito do que é “ser de direita ou de esquerda”, assim como o de “ser evangélico”, pode não ser o mesmo para todas as pessoas, pois pode variar conforme o grau de conhecimento e de educação formal de cada um.

“Nessas pesquisas, há uma tentativa de unificar pessoas que supostamente pensam os mesmos conceitos da mesma maneira. Quando uma pesquisa tenta levantar aquilo que um grupo A, B ou C é, está fazendo uma amostragem, ou seja, naquela pesquisa deu aquele resultado. Mas não quer dizer que no dia a dia a base seja exatamente essa”, ressaltou Simas.

O professor pontuou que o fato de 42% dos evangélicos entrevistados não se identificar com nenhum posicionamento ideológico pode estar relacionado à decepção deste segmento com a política no país, desapontamento que, segundo ele, inclusive, não diz respeito apenas aos evangélicos, mas à população como um todo. Tanto que, segundo o estudo, 40% de todos os respondentes não se consideram nem de direita, nem de esquerda, nem de centro.

“Por que, muitas vezes, o brasileiro – e o evangélico brasileiro, que representa aproximadamente um terço da população – não se posiciona? Porque a questão pragmática, para ele, é o que de fato importa. Se ele tem um governo que dá segurança, um governo que cuida e mantém bem a cidade, um governo que dá educação, que dá saúde, esse é um bom governo. Se é de esquerda ou de direita, para ele não interessa de fato”, exemplificou Simas.

Fluidez das ideologias e partidos

O cientista da religião também destacou que a fluidez que caracteriza as ideologias e os partidos políticos na atualidade, tendo como norte uma política baseada em interesses econômicos, acaba por desacreditar a população.

“A sensação dos eleitores é a de que a ideologia está fundamentalmente ligada a poder e dinheiro, e não a sistemas teóricos históricos. O cidadão hoje está num partido, amanhã está em outro. O partido que é, supostamente, de direita, flerta com um Estado grande. O partido que é de esquerda, algumas vezes, faz privatizações de algumas empresas, de outras não, tem ações que têm mais a ver com a direita e nem tanto a ver com a esquerda”, salientou Simas.

Nesse contexto, o professor acredita que a população em geral, na qual estão incluídos os evangélicos, acompanha o cenário de interesses que atravessa a cena política, marcada por um grupo que visa a ser eleito para cargos públicos em busca, sobretudo, de poder. “A política partidária, que deveria ser um serviço à população, torna-se, na verdade, uma excepcional ferramenta para a perpetuação de poder e enriquecimento ilícito, muitas vezes”, completou.

No caso dos evangélicos, a valorização do Evangelho, que tem como preceitos valores de paz, amor e honestidade, contribui para que sua análise do cenário social esteja mais voltada para aquilo que se direciona à mensagem bíblica. “Quando o brasileiro, e o evangélico brasileiro, não faz muita distinção entre direita e esquerda, é porque ele é prático. Para ele, o que importa é que haja honestidade, boa gestão do dinheiro público e ações em prol daqueles que realmente são carentes”, realçou Simas.

Direita e esquerda

Marcos Simas pontuou que o baixo percentual de evangélicos que se identificou com o posicionamento de esquerda pode estar relacionado ao fato de que muitas pautas associadas a esse espectro ideológico vão de encontro a valores cristãos que são inegociáveis, como a família tradicional e algumas questões morais. No entanto, não está claro para a sociedade como um todo o que significa esquerda e direita, politicamente.

“Eu avalio que é meio genérica uma pesquisa que diz ‘tantos são de esquerda, tantos são de direita’. Porque não se sabe a delimitação do problema, o que é ser de direita e o que é ser de esquerda. Assim como é difícil determinar o que é ser evangélico, porque em uma sociedade líquida como a nossa, definições são um dos maiores problemas”, concluiu o cientista da religião.

Fonte: Comunhão

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