A pesquisa indica que o apoio para o complexo de 13 andares, que os organizadores disseram que promoveria o Islã moderado e o diálogo inter-religioso, é tépido na cidade.

Dois terços dos moradores de Nova York querem que o centro comunitário muçulmano e mesquita sejam transferidos para um local menos controverso, distante do Ponto Zero na Baixa Manhattan, incluindo muitos que dizem ser favoráveis ao projeto, segundo uma pesquisa do “New York Times”.

Quase nove anos após o 11 de Setembro de 2001, ataques que provocaram uma onda de ansiedade em relação aos muçulmanos, muitos na maior e supostamente mais cosmopolita cidade do país têm uma relação incômoda com o Islã. Um quinto dos nova-iorquinos reconhece animosidade em relação aos muçulmanos e 33% disseram que, em comparação a outros cidadãos americanos, os muçulmanos são mais simpatizantes dos terroristas. E quase 60% disseram que seus amigos têm sentimentos negativos em relação aos muçulmanos por causa do 11 de Setembro.

No geral, 50% dos entrevistados são contrários à construção do projeto a duas quadras ao norte do terreno do World Trade Center, apesar da maioria acreditar que os empreendedores têm o direito de fazê-lo. O percentual de pessoas favoráveis é de 35%.

A oposição é mais intensa nos distritos mais externos da cidade –54% no Bronx– mas é forte até mesmo em Manhattan, considerada um bastião da tolerância religiosa, onde 41% são contrários.

A pesquisa foi conduzida de 27 a 31 de agosto entre 892 adultos. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Ela sugere que o prefeito Michael R. Bloomberg, o mais ardoroso e público defensor do centro, ainda não conseguiu unir a opinião pública em torno do assunto. Ao serem perguntados se eles aprovavam ou desaprovavam a forma como ele está lidando com o assunto, os moradores da cidade ficaram igualmente divididos.

Apesar da maioria ter dito que os políticos de Nova York precisam tomar uma posição a respeito do assunto, a maioria desaprova a opinião de pessoas de fora da cidade: Newt Gingrich e Sarah Palin, entre outros, tentaram mobilizar oposição ao centro.

O debate em torno do centro religioso cativou grande parte da cidade: 66% disseram que ouviram ou leram muito a respeito e entrevistas posteriores com os entrevistados mostraram que o assunto tem provocado conversas emocionais nas salas de estar e nos locais de trabalho.

“Minha neta e eu estávamos conversando a respeito, e ela disse que impedir a construção violaria a liberdade de religião garantida pela nossa Constituição”, disse Marilyn Fisher, 71 anos, que vive no Brooklyn. “Eu concordo com ela neste caso. Eu acho que tudo neste mundo não é preto e branco; há sempre uma área cinzenta e a área cinzenta no momento é a sensibilidade dos afetados pelo 11 de Setembro, os parentes das pessoas que morreram.”

Os sentimentos a respeito do centro parecem fortemente moldados pelo histórico e experiências pessoais. Os nova-iorquinos que já visitaram mesquitas ou têm amigos muçulmanos apresentam maior probabilidade de apoiar o centro do que aqueles que têm poucas interações com o Islã.

Mais da metade –53%– dos moradores da cidade com rendas acima de US$ 100 mil apoiam o centro; apenas 31% daqueles com renda abaixo de US$ 50 mil apoiam. Os protestantes estão divididos pela metade, enquanto a maioria dos católicos e judeus nova-iorquinos são contrários ao centro.

A idade também exerce um papel. Aqueles com menos de 45 anos estão igualmente divididos (42% a favor; 43% contra); entre aqueles com mais de 45 anos, quase 60% são contrários.

Os desenvolvedores do centro e seus defensores têm buscado retratar os oponentes como um grupo pequeno, mas ruidoso.

Mas a pesquisa revela um retrato mais complicado da oposição em Nova York: 67% disseram que apesar dos muçulmanos terem o direito de construir o centro próximo do Ponto Zero, eles deveriam encontrar um local diferente.

De forma mais notável, 38% daqueles que expressaram apoio ao plano de construção na Baixa Manhattan, disseram em uma pergunta posterior que prefeririam que ele se mudasse para um local mais distante, sugerindo que até mesmo aqueles que defendem o plano questionam a sabedoria da localização.

Richard Merton, 56 anos, um corretor de imóveis que mora no Upper West Side de Manhattan, exemplifica esses sentimentos ambíguos e aparentemente contraditórios.

“Liberdade de religião é uma das garantias que damos neste país, de forma que eles são livres para adorar onde quiserem”, disse Merton. “Eu apenas acho que é insensibilidade da parte deles a construção de uma mesquita naquela área.”

Os oponentes oferecem opiniões diversas a respeito de quão distante do Ponto Zero o complexo deve ser construído. Um quinto disse que a pelo menos 20 quadras, enquanto quase o mesmo número disse que a pelo menos 10 quadras e 7% disseram que a pelo menos cinco quadras.

“Pessoalmente, eu preferiria que não fosse construído, mas se for, deveria ficar a pelo menos 20 quadras”, disse Maria Misetzis, 30 anos, do Brooklyn.

À medida que a disputa em torno do centro passa de uma disputa de zoneamento para uma batalha das guerras culturais, ela divide os nova-iorquinos segundo as divisões partidárias, com 74% dos republicanos contrários, e os democratas divididos, com 43% a favor e 44% contrários.

Apesar do presidente Barack Obama ser altamente popular em Nova York, os moradores estão divididos em relação à forma como ele tem tratado o assunto (ele primeiro defendeu o centro, depois pareceu recuar um pouco). A abordagem de Obama é aprovada por 32%, enquanto 27% desaprovam.

Não está claro, entretanto, se algum político está explorando com sucesso os fortes sentimentos em torno da questão. Apesar de ambos os candidatos republicanos ao governo de Nova York, Rick A. Lazio e Carl P. Paladino, terem buscado tornar o centro islâmico um tema de campanha, dois terços dos entrevistados disseram que o assunto não influenciará a escolha deles para governador. A pesquisa mostrou que a economia e os empregos continuam sendo as preocupações mais urgentes.

Mas aqueles que disseram que o assunto afetaria seu voto apresentavam quatro vezes mais probabilidade de apoiar um candidato contrário ao centro.

A intensidade do sentimento é claramente maior entre os oponentes. Enquanto quase três quartos dos oponentes terem dito que sentem isso fortemente, isso ocorre apenas com metade daqueles que o apoiam.

“Dê um dedo e eles tomam um braço”, disse Misetzis. “Eles querem construir uma mesquita onde bem entendem. E assim que começarem a orar lá, ele será considerado solo sagrado e não poderá ser removido. Nunca. Este é o motivo para este cabo-de-guerra entre os nova-iorquinos e os muçulmanos.”

John Dewey, 65 anos, do Queens, um despachante aposentado da Autoridade de Trânsito de Nova York, expressou sua posição em termos mais práticos.

“Nós não podemos dizer que todos os muçulmanos são terroristas”, disse Dewey. “Há uma população imensa de muçulmanos por todo o mundo e teremos que lidar constantemente com eles no futuro. Se fizermos inimigos constantemente, então estaremos constantemente em guerra.”

[b]Fonte: The New York Times[/b]

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