Cadastrados e com inscrição municipal, pelo menos 38 templos religiosos obtiveram alvará de funcionamento definitivo nos últimos meses. A informação é do Setor de Rendas Imobiliárias, do Departamento Tributário da Secretaria da Fazenda, que emite as autorizações.
O próprio chefe do setor, Édson Roberto Ferrari, confirmou à Gazeta, que tem observado um número significativo de pessoas buscando informações para obtenção de alvará neste segmento religioso.
O fato revela uma suposta “explosão” de novas igrejas na cidade. Sem contar as que já conseguiram alvará, há ainda quatro templos com alvará de funcionamento provisório e mais cinco com autorização de funcionamento provisório. Ferrari explicou que estas ainda não têm o documento definitivo porque há pendências em relação ao imóvel. “Ou precisam de vistoria do Corpo de Bombeiros, ou da Vigilância Sanitária (se for o caso); pode também faltar algum documento como planta do imóvel ou o Habite-se, por exemplo”. Ele pôde ainda afirmar que a maioria é Evangélica.
Evangélicas
A reportagem entrou em contato com três representantes religiosos. O primeiro deles é um pastor da igreja Universal do Reino de Deus, que inclusive, é uma das que mais tem se expandido nos últimos anos. O pastor preferiu não se identificar, mas contou que, em Limeira, há cinco templos da Universal, sendo o maior, localizado no Centro, ao lado dos Correios.
Ele não esboçou reação de surpresa ao ser comunicado do aumento de igrejas na cidade. Para ele, as pessoas estão abrindo o coração para Deus e se convertendo. Contudo, há necessidade de mais templos. Ainda segundo o pastor da Universal, o que tem atraído os fiéis para esta igreja, é “a prova do poder. Mostramos a cura, a mudança de vida das pessoas, a restauração dos casamentos. Quando as pessoas chegam na Universal, vêem que prosperam. Há inúmeros testemunhos”. Há pouco mais de 4 mil fiéis da Igreja Universal em Limeira.
Mercado de sobrevivência
Para o pastor Jonas Zulske da Igreja Presbiteriana Batista, Metodista e Luterana, um dos principais motivos dessa grande quantidade de templos, é o excesso de divisão ‘partidária’ entre as igrejas evangélicas. “Alguém discorda da liderança e resolve abrir um novo templo”.
O fato, de acordo com ele, foge totalmente dos princípios de igrejas centenárias como a própria Presbiteriana, que exige dos pastores, por exemplo, curso superior. “A gente sabe que existe aqui em Limeira mesmo, um pastor que vende pinga. É totalmente contraditório”.
Associado à facilidade de obtenção de alvará da Prefeitura, segundo Zulske, a igreja, como um todo, acaba se transformando em um mercado de sobrevivência. “Se o pastor é o dono do templo, também é dono da arrecadação”. Para ele, esse tipo de liderança religiosa é um gerador de renda e de problemas, o que foge totalmente da visão evangélica. De acordo com Zulske, a igreja existe para melhorar o ser humano para Deus, sem nenhum tipo de interesse.
O pastor Jonas achou oportuno informar que a côngrua pastoral (salário) de um pastor da Presbiteriana, atualmente, é de R$ 1.952. Ainda disse, que um levantamento informal da própria igreja, revelou que um pastor leva em média 25 anos para conseguir casa própria no valor inferior a R$ 100 mil. “Por isso que sempre dizemos: ‘Se alguém encontrar um pastor presbiteriano rico, é porque ou casou-se com uma mulher rica ou é ladrão”. Zulske ainda fez questão de dizer que há uma grande necessidade das pessoas estarem atentas para não serem enredadas por filosofias e sutilezas, que surgem do coração do homem.
Há cerca de 3,8 mil fiéis espalhados por 12 Igrejas Presbiterianas em Limeira e mais 19 pontos de congregações e pregações. (RR)
Para Igreja Católica, critérios deveriam ser mais rígidos
A Igreja Católica Apostólica Romana também se pronunciou sobre o assunto através do vigário geral da Diocese de Limeira, Reynaldo Ferreira de Mello. Para ele, a legislação para o fornecimento de alvará de funcionamento para templos religiosos deveria ser muito mais rígida, justamente para evitar que a igreja se torne um meio de vida. “Deveria ser atestada por exemplo a origem, objetivos, qual o trabalho social, entre outros, porque senão, o próprio povo é prejudicado”.
De acordo com a Prefeitura, para essa licença é preciso o Estatuto de Fundação, ata lavrada e CNPJ. Ao mesmo tempo que muitas surgem, o padre disse que já viu muitas fecharem. Por causa da discórdia, já relatada pelo pastor Jonas Zulske, o padre disse que até o nome da Igreja Católica é usado em templos. Diante desse cenário, o vigário geral da Diocese falou da importância do catolicismo estar presente em locais onde ainda não existe uma igreja construída. “E é essa a intenção de Dom Vilson. Precisamos encontrar os católicos afastados”. Em Limeira há mais de 100 igrejas entre paróquias, comunidades e pontos de oração, além de pouco mais de 100 mil católicos atuantes. (RR)
Fonte: Gazeta de Limeira