Em uma longa e esclarecedora entrevista ao site Universo Musical, o cantor, compositor e pastor Marcos Góes faz um resumo dos 20 anos de carreira, fala de seu mais recente CD, o relacionamento com as gravadoras, critica a comercialização da música evangélica, dá sua explicação para o processo que vem enfrentando, na justiça, sobre um suposto uso indevido de imagem e aponta as novidades para 2007.

Fonte: Universo Musical (www.universomusical.com.br)
Por Marcos Paulo Bin

Nem tudo é “Bem Querer” na vida do hitmaker Marcos Góes. Autor de canções que ultrapassam as barreiras do segmento gospel, como Autoridade e Poder – regravada pelo católico Padre Zeca e pelo evangélico Alex Gonzaga – Marcos Antonio Góes de Araújo é um homem de opiniões fortes.

Numa época em que a música gospel sofre as conseqüências da superexposição – entre elas, o modismo – Góes mantém-se fiel aos seus princípios musicais e espirituais. Pastor, ele defende o crescimento do número de artistas cristãos que buscam o ministério pastoral, mas reconhece que há enganadores.

“Lembrem-se: ‘Nem tudo que reluz é ouro’, diz o ditado popular. Eu completo: ‘Nem tudo que é fama é bênção’”, dispara o cantor, que nem sempre vê com bons olhos a relação artista-gravadora.

“Hoje, faz-se música para vender”, afirma. “Há pressões da gravadora, do próprio público e o artista fica amarrado mais ao fato da venda do que a fazer uma música que está na raiz do seu estilo, de sua identidade e do que está em seu coração. Nós, artistas evangélicos, precisamos urgentemente voltar a gravar o que sentimos de verdade, e não o que exigem de nós.”

Ex-dono de gravadora, Marcos Góes vai além. Para ele, o tempo em que as companhias fonográficas tinham praticamente um monopólio sobre a obra do artista está chegando ao fim.

“Creio que o papel das gravadoras está sendo facilmente substituído pelo próprio artista, que aprendeu a cuidar de si, vendo que o lucro financeiro e em sua imagem é maior quando ele produz e zela pelo seu papel no meio musical, bastando às gravadoras a divulgação e distribuição do produto, o que também é vantajoso para elas”, avalia.

Góes é um dos artistas do meio gospel que mais acompanham de perto a controversa questão dos direitos autorais, problema que persegue compositores de qualquer segmento musical.

Recentemente, ele teve seu nome envolvido numa ação judicial movida por um percussionista. O músico, convidado para participar do DVD “A Vigília 6 – Damos Honra a Ti”, lançado pela Graça Music, moveu um processo contra a gravadora – e contra o artista, por tabela – alegando uso indevido de sua imagem.

“Não sou responsável pela produção, direção, gravação, fabricação e distribuição do DVD”, justifica o cantor, atribuindo qualquer responsabilidade à gravadora.

Dois DVDs à vista

Falando de música, 2007 promete ser agitado para Marcos Góes. Prevista inicialmente para 2006, a sétima edição do consagrado projeto “A Vigília” deve acontecer este ano.

O disco terá o subtítulo “Vento e Fogo” e virá no formato DVD. Será o segundo lançamento de Marcos Góes em sua nova fase de MK Music, iniciada em 2005, quando lançou o CD “Amado da Minh’alma”.

“O repertório já está aprovado. Aguardo apenas o OK da gravadora para fazer a gravação”, explica o artista.

Marcos Góes também prepara o relançamento de todos os seus CD. Até o momento, já voltaram para as lojas os álbuns “Collection” e “Adoracústico”.

Por falar no assunto, Góes ainda planeja para este ano a gravação de um DVD acústico, com releituras ao estilo voz-e-violão para alguns de seus inúmeros sucessos.

“Canções como Autoridade e Poder, Bem Querer 1 e 2, Senhor Formoso És e Vai e Não Peques Mais certamente farão parte do repertório”, adianta o hitmaker.

Antes de tudo isso, entretanto, Marcos Góes vai colocar no ar seu site oficial, www.marcosgoes.art.br (já em construção), que será desvinculado ao endereço eletrônico que possui na MK Music. Com isso, ele poderá mostrar um pouco de tudo que produziu ao longo de mais de 20 anos de carreira – e não só o que fez na gravadora – além de aumentar a interatividade com o público.

Entrevista com Marcos Góes: “Os compositores estão se esmerando para compor com autenticidade”

Confira a íntegra da entrevista com Marcos Góes. Nesta primeira parte, ele fala de seu mais recente CD, o relacionamento com as gravadoras, o site que está construindo e direitos autorais.

Seu último CD foi Amado da Minh’alma, de 2005. Você ainda o divulga?

Ele está em evidência por ser meu único projeto, neste momento, na gravadora MK Music. Ainda estou divulgando o CD em todo o Brasil, apesar de todos já o conhecerem. Foi um trabalho feito com o máximo de apuração técnica e instrumental, pelo fato de haver quatro arranjadores no estúdio. Isso fez com que as músicas tivessem características bem distintas, tornando o trabalho eclético e gostoso de ouvir.

Esse disco marcou sua volta para a MK. Você tem contrato para outros trabalhos na gravadora?

Sim, meu contrato com a MK é de três trabalhos em estúdio e dois ao vivo, chamados “A Vigília”. Fora isso, também produzi um trabalho para crianças chamado “O Clubinho”, conjuntamente com a Rádio 93, que contou com a participação dos principais artistas da gravadora.

Como é sua relação com a MK e com as gravadoras gospel, de forma geral?

Além de ter sido dono de uma gravadora, a Góes Produções, já participei das principais companhias do cenário nacional: MK, Line Record, TopGospel, Graça Music etc. Em todas elas sempre fui respeitado como artista e ministro evangélico; uma das provas disso é o fato de eu ter regressado à MK e recebido todo o apoio. Sempre estou em contato e revendo os diretores dessas empresas, pois criamos um forte vínculo de amizade nos momentos em que estivemos juntos.

Ainda falando de MK, um de seus principais sucessos, Autoridade e Poder, voltou à tona (embora nunca tenha saído…) na voz de Alex Gonzaga. Como você costuma encarar as regravações de suas músicas? Geralmente gosta, tem críticas?

Nunca tive problemas com as regravações de minhas músicas, pois não as considero minhas, mas algo que pertence a Deus. Ele pode usar outro intérprete para cantar a mesma mensagem e assim alcançar outras classes e gêneros de pessoas. Minhas canções já foram gravadas por artistas evangélicos e também católicos, como no caso do padre Zeca, que também gravou Autoridade e Poder. Ultimamente, tenho canções no CD de Pamela (Demorou) e no CD “Arrebatados 3” (Crente Que É Crente e Bonde de Jesus). Não gosto apenas quando, por descuido, cantam a letra de forma errada. Isso aconteceu, infelizmente, na gravação da música Autoridade e Poder por Alex Gonzaga. Mas isso já foi comunicado à gravadora e tudo será resolvido. Em resumo, fico sempre feliz por ver minhas músicas gravadas por outros intérpretes.

Você está para lançar seu site oficial. O que pensa colocar nele? Acredita que será uma forma de interagir melhor com seu público?

Esta é a intenção! Tenho um site feito pela gravadora que é muito bom, mas procuro algo excelente ao ponto de poder colocar tudo a respeito do meu ministério e não somente o que se refere à gravadora em si. Todas as minhas músicas em cifras, novidades, fotos, maior interação, lançamentos e até trabalhar com a venda pessoal dos meus antigos trabalhos em CD. Há muito venho sendo cobrado por este novo site, e tenho certeza de que ele vai suprir o que todos os meus irmãos em Cristo e intercessores têm necessitado e esperado.

Você acompanha de perto a questão dos direitos autorais. Que panorama traça do assunto?

Fico muito feliz por existirem, hoje, editoras que zelam pelos nossos direitos. De forma geral, as gravadoras também estão compreendendo e respeitando as leis, reconhecendo o direito artístico e autoral com atenção e carinho.

Você não acha que os artistas estão descumprindo seu papel nessa questão, ao cometer plágio, sobretudo de canções populares? É algo cada vez mais freqüente em CDs evangélicos…

Já foi maior o número de músicas populares traduzidas em versões evangélicas totalmente diferentes do original. Isso causava realmente desconforto e problemas de direitos. Uma vez, quando eu era diretor artístico da Rádio Melodia (fui diretor de lá entre 1992 e 1994 e da Nossa Rádio FM em 2004), um ouvinte ligou reclamado de uma música, pois era uma versão evangélica que ele, antes de se converter, ouvia quando estava nos motéis. A música foi retirada e o dono da rádio, a partir daquela ocasião, proibiu versões na programação. Ainda existem versões, mas graças a Deus os compositores estão se esmerando cada vez mais para compor com autenticidade.

Continuação da entrevista: “Nem tudo que é fama é bênção”

Na segunda parte da entrevista, Marcos Góes critica a comercialização da música evangélica e dá sua explicação para o processo que vem enfrentando, na justiça, sobre um suposto uso indevido de imagem.

Você tem mais de 20 anos de carreira. Que avaliação faz do mercado gospel ao longo desse tempo? O que evoluiu, o que retrocedeu, o que está bom e o que precisa melhorar?

Evoluiu bastante. Houve momentos em que a música era de qualidade e respeitada tanto pelo próprio povo evangélico como pelo secular, mas hoje creio que o segmento tendenciou tão somente ao comércio e não mais à edificação de pessoas. Hoje, faz-se música para vender. É claro que há exceções, mas na maioria das vezes é assim. Há pressões da gravadora, do próprio público e o artista fica amarrado mais ao fato da venda do que a fazer uma música que está na raiz do seu estilo, de sua identidade e do que está em seu coração. Letras repetitivas, refrãos que são feitos para marcar de tal maneira que se tornam quase um “mantra”, levando assim as pessoas a se acostumarem e a não entenderem a verdadeira mensagem. Essas letras, muitas vezes, são construídas em cima de conceitos humanos e não na essência genuína da palavra de Deus. Nós, artistas evangélicos, precisamos urgentemente voltar a gravar o que sentimos de verdade, e não o que exigem de nós. Só assim a identidade será restaurada e preservada, e a unção será exercida por completo através dos louvores.

Uma tendência do mercado secular é a criação de selos por parte dos artistas. Alguns procuram suas antigas gravadoras para distribuição, outros cuidam disso pessoalmente. Você acha que o mercado gospel tende a incorporar essa tendência?

Já tive um selo, mas parei de distribuir pois não tinha tempo para atender ao ministério e ao comércio. Por isso, fiquei somente com minha missão como cantor e pastor. Creio que o papel das gravadoras está sendo facilmente substituído pelo próprio artista, que aprendeu a cuidar de si, vendo que o lucro financeiro e em sua imagem é maior quando ele produz e zela pelo seu papel no meio musical, bastando às gravadoras a divulgação e distribuição do produto, o que também é vantajoso para elas. Algumas companhias evangélicas já trabalham com contratos tão somente de distribuição, como por exemplo a MK Music.

É comum ouvir críticas de pessoas do meio quanto ao fato de os cantores virarem pastores, como se essa atitude fosse obrigatória ou até mesmo uma estratégia de marketing. O que você pensa do assunto?

Até hoje, em algumas programações aonde vou, as pessoas não me reconhecem como pastor e me chamam de Marcos Góes, e nem por isso meu ministério tem sido mais ou menos respeitado e estimado. O fato de ser pastor requer uma responsabilidade maior de ensino, caráter, responsabilidade e testemunho, e na minha visão quem almeja ter este “título” deve pensar muito no que está querendo. Vejo que no nosso meio já existem cantores que têm esta missão e mostram, com atitudes verdadeiras, que foram chamados por Deus a este ministério. Com isso, em suas apresentações, realizam algo maravilhoso e abençoado para todo o povo. Mas, por outro lado, existem, sim, aqueles que assumem o “rótulo” para ter mais respeito, evidência, valorização, e assim falam heresias, enchem o mundo da música gospel de testemunhos de vida terríveis e assim espalham a dúvida e o questionamento nas mentes de que todos são “farinha do mesmo saco”. Por onde passei, no Brasil e no exterior, já presenciei e ouvi fatos vergonhosos de pessoas que se autodenominam pastores e deixam, em vez de uma bênção, um rastro de vergonha e mau testemunho, ferindo e magoando o povo de Deus. Aconselho os pastores das igrejas e aos líderes a observarem o testemunho dos “cantores-pastores”, a fim de levar a suas ovelhas tão somente o que é bênção e não o que é fama. Lembrem-se: “Nem tudo que reluz é ouro”, diz o ditado popular. Eu completo: “Nem tudo que é fama é bênção”.

Voltando ao assunto dos direitos autorais, seu nome foi envolvido em uma pendência sobre exposição de imagem. O que aconteceu? Como está a situação hoje?

Realmente isso me deixou bastante triste. A história é a seguinte: um músico da Igreja Internacional da Graça de Deus foi contratado ou chamado pela minha antiga gravadora, a Graça Music, para a gravação do DVD “A Vigília 6 – Damos Honra a Ti”, na função de percussionista figurante. Ele processou a gravadora pelo uso de sua imagem – creio que pelo fato de não ter havido um contrato – e me incluiu na ação. Mas eu não sou responsável pela produção, direção, gravação, fabricação e distribuição do DVD. Hoje estamos aguardando a intimação oficial e meu advogado já está instruído e preparado para que possamos nos reportar e esclarecer à justiça. Mas, em função deste equívoco, já sinto a repercussão clara e extremamente negativa sobre a minha imagem, conduta e caráter por causa de um erro no qual não tive nada a ver e não cometi. Ainda não sei como isso vai terminar, mas espero que em Deus a justiça seja feita e que realmente a verdade prevaleça.

Quer acrescentar algo?

Continuo torcendo para que todo intérprete, músico, compositor e artista em geral tenha seus direitos mais e mais honrados e reconhecidos. Desejo que assim vivamos recebendo as bênçãos de Deus e, com trabalho honesto, os devidos direitos pela inspiração e talento que nos têm sido agraciados pelo Senhor.

Fonte: Universo Musical (www.universomusical.com.br)

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