Milhares de fiéis convocados por igrejas evangélicas na Argentina se manifestaram neste sábado (4) em repúdio ao projeto de legalização do aborto, uma demonstração que buscou inclinar a balança a cinco dias da análise no Senado de um projeto de lei pró-descriminalização aprovado na Câmara dos Deputados.
No país do papa Francisco, as igrejas evangélicas tomaram a cena, ao convocar os ativistas a se manifestar sob o lema “Salvemos as duas vidas” no centro de Buenos Aires, onde se somaram também muitas paróquias da Igreja Católica, a confissão majoritária na Argentina.
“O aborto é uma prática criminosa e não uma política de saúde, como se tenta instalar”, disseram os organizadores, ao rechaçar um dos argumentos favoráveis, segundo o qual é a clandestinidade da prática que provoca a morte de dezenas de mulheres por ano.
O Senado se prepara para analisar na quarta-feira o projeto de lei, já aprovado pelos deputados, mas a mais conservadora das duas Câmaras parece se inclinar majoritariamente pela rejeição.
O debate, que divide a sociedade e atravessa horizontalmente os partidos políticos, foi lançado pelo presidente Mauricio Macri, mas sua coalizão concentra muitas vozes contrárias.
“Duvido que se aprove a lei porque é um atropelo à nossa Constituição e sei que os senadores não vão permiti-lo. A Argentina é pró-vida”, disse à AFP Josefina Blanco, usando um lenço azul que identifica aqueles que se opõem à legalização.
Na reta final antes da definição parlamentar, a disputa se concentra em “ganhar a rua”, depois que em 14 de junho na Câmara baixa foi chave a pressão das manifestações maciças de lenços verdes, que identificam a luta pela legalização, para definir o voto a favor de vários legisladores (129 a 125).
“Sim às duas vidas. Educação sexual para prevenir, contenção para não abortar e adoção para viver”, propuseram as igrejas evangélicas para contrabalançar o lema do grupo contrário que reivindica “Educação sexual para decidir, anticoncepcionais para não abortar, aborto legal para não morrer”.
Na Argentina, o aborto é descriminalizado em caso de gravidez decorrente de estupro ou quando põe em risco a vida da mulher, mas segundo ONGs são realizados cerca de 500.000 abortos clandestinos ao ano no país.
“Queremos um país onde não se veja o aborto como uma opção”, declarou à AFP Sebastián Staropoli, outro manifestante, que pediu maior acompanhamento do Estado e ajuda social às mães como saída para evitar a interrupção da gestação.
Com a filha pequena nos braços, Lucía Cabusari advertiu que se a lei for aprovada, “o Estado estará avalizando um crime”.
Fonte: AFP