O Ministério Público Eleitoral fez a primeira denúncia por abuso de poder religioso na eleição municipal de São Paulo desde pelo menos 2012 contra um candidato a vereador do PRB.
[img align=left width=300]http://f.i.uol.com.br/folha/poder/images/16290198.jpeg[/img]O cantor católico Tiago Silva (centro na foto), que não se elegeu, é acusado de fazer propaganda eleitoral em ao menos 12 showmícios durante missas com o apoio de padres da Igreja Católica, entre maio e setembro deste ano.
A lei 9.504, de 1997, veda a realização de propaganda em bens de uso comum como templos e igrejas.
Ligado à Canção Nova, comunidade católica que segue a linha da renovação carismática, Silva realizou os atos ao lado de Tony Allysson (esquerda na foto), cantor católico com carreira nacional que também foi citado na peça da Promotoria, datada do dia 10.
Além disso, sete padres foram denunciados. O envolvimento das autoridades religiosas nos atos eleitorais realizados dentro de paróquias difere esta ação das anteriores, em que candidatos foram multados por propaganda irregular em templo.
“O que apuramos é a igreja fazendo campanha”, disse o promotor José Carlos Bonilha, que assina a denúncia ao lado da promotora Vera Lúcia Taberti e a analista de promotoria Camila Penteado.
Vídeos anexados à denúncia, entregue à Justiça Eleitoral, exibem padres falando com o candidato no altar durante a pregação.
São mostrados também a defesa que Allysson fez da candidatura para a promoção de valores cristãos e um anúncio, no final da missa, sobre a distribuição de santinhos do lado de fora do templo.
“O apoio do padre Marcos Miranda [da paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no Parque Doroteia] é tamanho que, não apenas permitiu a realização de campanha do candidato durante a missa celebrada, como também a transmitiu ao vivo pelo Facebook”, explicou a queixa.
“Justamente por ter plena ciência da conduta ilícita, [o padre] cortou os trechos em que o Silva e Allysson fizeram campanha eleitoral”, afirmou a promotoria, que teve acesso à íntegra da missa.
Também foram apontadas irregularidades em publicações patrocinadas em redes sociais, uma vez que a legislação proíbe propaganda eleitoral paga na internet.
Tiago Silva obteve a segunda suplência da coligação PRB-PSC com pouco mais de 14 mil votos. Caso dois dos cinco vereadores eleitos pela chapa deixem a Câmara, ele assume a vaga. Além de multa, a Promotoria pede inelegibilidade por oito anos, o que impediria a posse.
O PRB via potencial em Silva por sua representatividade na Igreja Católica. A legenda deu cursos aos candidatos sobre a ilegalidade de campanha em ambientes religiosos.
[b]OUTRO LADO
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Tiago Silva negou ter feito campanha dentro de igrejas. “Nunca pedi voto”, disse. “Às vezes, as pessoas extrapolam”, admitiu. “Não tenho culpa. Não posso tomar o microfone de quem quer que seja para falar ‘não’, né [risos].”
Allysson disse que não se manifestará antes de ser notificado. O padre Fábio Francisco (paróquia Santa Cruz, em Parelheiros) negou ter feito campanha. “Posso apoiar fora, mas dentro é outra coisa.”
O padre Alexandre Fernandes (paróquia Jesus de Nazaré) e Leandro Ribeiro (São Francisco de Assis) negaram pedido de voto. Maurício Ferreira (São Carlos Barromeu) e José Inácio (São Pancrácio) não foram localizados. Marcos Miranda (Santa Terezinha do Menino Jesus) e Edimilson Leite Alves (igreja São João Batista) não retornaram.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]