A ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, criticou ontem as declarações do papa Bento 16 sobre as mulheres e disse que ele precisa “olhar para o mundo real”.
Na ultima missa que rezou no Brasil, o papa defendeu que o Estado adote políticas para que as mães possam se dedicar inteiramente ao cuidado dos filhos sem precisar trabalhar fora de casa.
A ministra disse que “respeita” as opiniões do papa, mas que ele está desconectado com a realidade mundial. “O papa precisa olhar para o mundo real. Nesse mundo real as mulheres participam da economia dos seus países que precisam do talento, da qualificação e da mão de obra feminina”, afirmou.
Na avaliação da ministra, a discussão não pode ser sobre “o retorno das mulheres ao lar”, mas sim sobre o tratamento igualitário a ambos os sexos. “Que a sociedade compreenda que compartilhar tarefas é absolutamente essencial para garantir o desenvolvimento econômico dos países. As mulheres têm que dar conta de tudo”, disse.
Um exemplo de que a realidade se choca com o discurso do papa, segundo ela, é que hoje 47% das mulheres participam da economia, enquanto que antigamente eram 5%.
Na missa, em Aparecida (SP), o papa disse: “A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação dos filhos. As mães que querem dedicar-se plenamente à educação de seus filhos e ao serviço da família têm de gozar das condições necessárias para poder fazer, com o direito de contar com o apoio do Estado. O papel das mães é fundamental para o futuro da sociedade”.
Aborto
A ministra comentou ainda sobre as declarações do papa acerca do aborto. Segundo ela, o papa “traz a posição da Igreja sobre” o assunto, que deve ser respeitada, mas não pode ser adotada pelo Estado que é laico. “Não se pode confundir Estado e Igreja. É preciso permitir alternativas às pessoas”, disse.
Nilcéia afirmou que o governo brasileiro já discutiu o assunto e encaminhou para o Congresso suas sugestões, entre elas a permissão para que a gravidez seja interrompida com até 12 semanas de gestação. Agora, observou, cabe ao Congresso e a sociedade avançarem no tema.
A ministra ressaltou ainda que o debate não pode se concentrar na discussão do contra ou a favor do aborto, mas deve levar em conta outra premissa. “Na base do contra ou a favor ninguém vai dizer que é a favor. A discussão precisa se dar a luz de outras premissas como, por exemplo, se as mulheres pobres desse país podem ser submetidas a condições inseguras mediante um momento de gravidez indesejada”, disse.
Fonte: Folha Online