De 95 a 2005, perfil tradicional de família diminui de 57,6% para 50% do total; cresce proporção de casais sem filhos e mães solteiras. Maior expectativa de vida e emancipação das mulheres são fatores que explicam essa mudança no cenário do país apontada pelo IBGE.

Pai, mãe e filhos. Esse modelo tradicional de família perde, a cada ano, espaço para novas formas de arranjos familiares. No ano passado, essas famílias passaram a representar 50% do total. Em 1995, eram 57,6%. Isso significa que, pela primeira vez, esse modelo, apesar de continuar sendo o mais comum, já divide o mesmo espaço dos outros tipos de famílias, que, somadas, representam também 50% do total.

Cresceram, nos últimos dez anos, as famílias com um único morador (10,4% do total), os casais sem filhos (15,2%), as mulheres solteiras com filhos (18,3%) e outras formas de arranjos (6,3%).

Esse avanço tem a ver com o aumento da expectativa de vida e com a emancipação feminina.

No caso dos idosos, como os brasileiros estão vivendo mais, aumenta o número deles morando sozinhos ou com o cônjuge sem filhos. No caso das mulheres, elas estão aumentando sua presença no mercado de trabalho (portanto ficando mais independentes financeiramente) e adiando o projeto de ter filhos, o que faz, também, com que a fecundidade caia.

A emancipação feminina ajuda a explicar por que, de 1995 a 2005, foi de 20,2% para 28,5% o percentual de mulheres entre o total de chefes de família.

Esse aumento aconteceu mesmo em famílias onde havia cônjuge. Em 1995, do total de mulheres chefes de família, 3,5% viviam com seus maridos. No ano passado, esse percentual aumentou para 18,6%.

Entre as regiões metropolitanas, as mulheres chefiavam proporcionalmente mais lares em Salvador, 42%. O índice é alto também em Belém (40,9%). Em Curitiba, estava em 30,3%.

Esse movimento a favor das mulheres, no entanto, não as livrou de ficarem sobrecarregadas com os afazeres domésticos. No ano passado, 92% das mulheres, além de trabalhar, realizavam afazeres domésticos em casa. Entre os homens, esse percentual era de 51,6%.

Essa sobrecarga da dupla jornada de trabalho é verificada também quando se analisa as horas dedicadas às tarefas domésticas. Para mulheres, foram em média 21,8 horas por semana. Para homens, 9,1 horas.

Gaúcho ajuda mais

Tais indicadores variam bastante de acordo com o Estado. Os homens gaúchos, por exemplo, são os que mais ajudam as mulheres nos afazeres domésticos, com 71,7% declarando fazer esses serviços. O tempo que eles gastavam com esses afazeres, no entanto, não era muito: 8,6 horas, enquanto as gaúchas trabalhavam em casa, em média, 20,9 horas semanais.

No outro extremo está Alagoas, onde apenas 28,4% dos homens ajudam as mulheres com os afazeres domésticos. O tempo dedicado pelos homens alagoanos a esses afazeres, no entanto, era maior do que o dos gaúchos: 10,3 horas semanais.

Para o psicólogo social Bernardo Jablonski, professor da PUC-Rio e autor do livro “Até que a Vida nos Separe – A Crise do Casamento Contemporâneo”, as mulheres conquistaram o direito de trabalhar fora. A participação masculina nos afazeres domésticos, no entanto, nunca foi um pleito dos homens, o que faz com que a divisão das tarefas fique injusta.

Na maioria das vezes, quando o homem faz alguma tarefa, Jablonski afirma que ele tende a encarar isso como uma “ajuda”.

Para o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, a intensa urbanização brasileira das últimas décadas está por trás dessa e de outras mudanças na estrutura social do país.

Fonte: Folha de São Paulo

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