Prelado disse que departamento do Vaticano encarregado do pagamento de salários e da administração dos bens da Igreja agiu de modo inadequado.
O departamento do Vaticano encarregado do pagamento de salários e da administração dos bens da Igreja agiu de modo inadequado, como um banco paralelo, concedendo contas correntes para pessoas de fora, disse a promotores italianos um prelado que está preso e trabalhou lá por 22 anos.
As mais recentes acusações de irregularidades surgem num momento em que o papa Francisco luta para combater anos de escândalos financeiros envolvendo o banco do Vaticano, que é investigado há bastante tempo por não cumprir os padrões internacionais contra evasão de impostos e acobertamento de fontes ilegais de rendimentos.
As alegações contra a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa) representam uma nova dor de cabeça para o papa, que designou duas comissões para aconselhá-lo sobre como limpas as finanças do Vaticano.
De acordo com a transcrição de um interrogatório de um suspeito-chave, como parte de uma ampla investigação realizada por magistrados italianos que examinam suposta lavagem de dinheiro por meio do banco do Vaticano, autoridades da Apsa permitiram que a instituição fosse usada por pessoas de fora, apesar de isso contrariar os regulamentos.
O prelado, monsenhor Nunzio Scarano, de 61 anos, está sendo investigado por magistrados em sua cidade natal, Salerno, onde ele é suspeito de se valer de estreitas relações com o banco do Vaticano para lavagem de dinheiro. Ele está sob prisão em um hospital de Salerno.
Os advogados de Scarano dizem que ele não fez lavagem de dinheiro.
Scarano foi preso em Roma em 28 de junho, com um agente do serviço secreto italiano e um corretor de finanças, em uma investigação separada relacionada a um suposto complô para contrabandear 20 milhões de euros (26 milhões de dólares) da Suíça para a Itália.
Questionado por magistrados em Roma, em julho, Scarano disse que algumas autoridades da Apsa, cujo objetivo é pagar os salários do Vaticano, custear seus departamentos e administrar os seus bens, permitiram que a instituição fosse usada de modo impróprio por pessoas de fora.
“Como Apsa, não somos autorizados a ter clientes de fora, mas, apesar disso, na realidade nós agíamos como um banco”, afirmou Scarano aos juízes, de acordo com a transcrição do interrogatório obtida pela Reuters.
“Nós pegamos dinheiro, o usamos e pagamos juros a depositantes”, afirmou.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse não ter nenhum comentário a fazer sobre o interrogatório de Scarano.
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Durante o interrogatório feito pelos magistrados, Scarano citou um banqueiro italiano que tinha uma conta na Apsa. Essa conta foi fechada quando uma investigação italiana apontou o envolvimento do banqueiro em market-rigging, acrescentou Scarano. Segundo o prelado, outro titular de conta no Apsa é um antigo benfeitor do Vaticano.
Fontes no Vaticano dizem que o papa quer que a Santa Sé coopere com os investigadores italianos no caso Scarano. Em declaração a repórteres no voo que o levou do Brasil de volta ao Vaticano, em julho, Francisco usou uma expressão argentina que significa que “ele não é nenhum santo”.
Por sua posição na Apsa, Scarano tinha acesso imediato ao banco do Vaticano, formalmente conhecido como Instituto para as Obras de Religião, no qual tinha várias contas.
O banco está sob pressão internacional para garantir mais transparência e cumprir os padrões internacionais contra a lavagem de dinheiro.
[b]Fonte: Exame.com[/b]