Uma exposição de quadros que retratam figuras bíblicas em cenas sexuais causou polêmica em Viena, na Áustria, e levou o cardeal da cidade a ordenar a retirada de uma das obras da mostra.

Os quadros do austríaco Alfred Hrdlicka estavam expostos no Museu da Catedral de São Estevão, órgão ligado à diocese de Viena, na mostra intitulada “Religião, Carne e Poder”.

Mas, no último dia 20 de março, o cardeal de Viena, Christoph Schönborn, ordenou a retirada de uma das obras, intitulada “A Última Ceia de Leonardo”, em que os apóstolos são retratados em uma cena descrita por críticos como “uma orgia homossexual”.

A medida foi tomada depois de pressões de entidades católicas. No site Gloria TV, por exemplo, o cardeal Schönborn é atacado por permitir uma “blasfêmia no Museu da Catedral, com a exposição perversa de Hrdlicka”. O site também critica o fato de o artista ser ateu.

Mas, segundo o diretor do museu, Bernard Böhler, a maior pressão veio de grupos católicos dos Estados Unidos.

Para Böhler, a polêmica pode ser comparada à que ocorreu na Dinamarca em 2005, quando uma caricatura de Maomé gerou protestos de mulçumanos em todo o planeta.

“Vejo algumas semelhanças entre os dois casos, especialmente no fato dos protestos serem tão calorosos e até ameaçadores”, disse Böhler. “Confesso que não esperava por uma reação dessas em pleno ano de 2008.”

“Como somos um museu ligado à Igreja Católica, é nossa responsabilidade respeitar os sentimentos dos fiéis, mas também queremos discutir temas polêmicos”, acrescentou. “Talvez não tenham compreendido isso.”.

Violência

A obra “A Última Ceia de Leonardo” faz parte de uma série batizada por Hrdlicka como “Pasolini”, que homenageia o cineasta e intelectual italiano.

Um outro quadro da série, ainda exposto no museu, retrata um Jesus Cristo crucificado que recebe chicotadas ao mesmo tempo em que é bolinado.

“Deve ser por seu passado ligado ao comunismo”, avalia o diretor do museu. “O fato é que Hrdlicka é um artista fascinado pela violência sofrida por algumas figuras bíblicas.”

“A violência, inclusive, é um tema recorrente em seu trabalho, como fica claro no “Monumento Contra a Guerra e o Fascismo”, em frente ao Museu Albertina, aqui em Viena”, acrescenta.

Alfred Hdrlicka completou 80 anos no dia 27 de fevereiro e comentou apenas que a polêmica que envolve sua obra “é assunto do museu”. Mas, de acordo com Bernard Böhler, o episódio acabou fazendo bem ao artista.

“Ele já tem uma certa idade e alguns problemas de saúde”, diz. “Mas tem acompanhado a polêmica e parece até renovado com tudo o que aconteceu.”

Fonte: BBC Brasil

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