Eles defendem bandeiras como tolerância religiosa, direitos civis para homossexuais, flexibilização da política de drogas e descriminalização do aborto. Tudo isso, asseguram, em nome de Deus. Evangélicos estão se mobilizando para dar visibilidade a iniciativas progressistas do universo crente, cuja pluralidade, afirmam, não se traduz por manifestações conservadoras que vêm sendo associadas a essas religiões.

— A postura conservadora não é algo uniforme, mas tem vencido o discurso de quem tem recursos para vociferar melhor, o que acaba passando uma impressão errada sobre os evangélicos — avalia Clemir Fernandes, pastor da Igreja Batista e sociólogo.

Uma das primeiras iniciativas será uma plataforma virtual que quer colocar em evidência ações evangélicas na área de cidadania e direitos humanos em todo o Brasil. O projeto mapeará atividades progressistas desenvolvidas por pastorais e formará uma rede de articulação. Deve se chamar Entre Nós e entrar no ar até dezembro.

— A ideia é fazer uma espécie de contraprojeto à identidade evangélica que vem sendo desenhada. Movimentos sociais e até políticos têm nos cobrado essa reação. Nós acreditamos que a defesa de pautas conservadoras é ideológica e, não, bíblica — afirma Fellipe dos Anjos, pastor da Igreja Batista e um dos jovens teólogos à frente do projeto.

— Nossa intensão é provocar a sociedade e a imprensa em relação a essas iniciativas progressistas. Os evangélicos sempre fizeram isso, mas precisamos tornar essas ações conhecidas — completa Ronilso Pacheco, estudante de teologia da PUC-Rio.

Além da plataforma, há projetos por germinar. Cursos de formação, grupos de estudo e discussão e um canal de imprensa para divulgar conteúdo desenvolvido por evangélicos progressistas estão entre os planos.

Também pastor batista, André Decotelli diz que a proposta é entrar numa “disputa de discurso”. A chamada bancada evangélica no Congresso, assegura, não o representa:

— Sou totalmente contra as pautas que eles defendem como evangélicas. Esses deputados e senadores não reproduzem o nosso espectro. Representam classes mais conservadoras e poderosas. Porém, Jesus foi um revolucionário e deu voz aos oprimidos. Buscamos um retorno a isso.

O movimento encontra simpatia mesmo entre membros de denominações pentecostais. Pastor da Assembleia de Deus, César Moisés aprova a discussão.

— Não me rotulo nem como conservador nem como progressista — autoavalia-se, dizendo ser contra a redução da maioridade penal e a favor do diálogo com religiões de matriz africana.

Para ele, questões como a descriminalização do aborto merecem ser discutidas:

— Numa sociedade plural, temos de conviver e respeitar. Aprendi que, para dialogar, não é preciso converter.

Evangélicos citam exemplos na História brasileira recente do envolvimento de crentes em iniciativas progressistas. Uma delas é a criação, em 2006, da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (Renas), que reúne organizações e igrejas evangélicas com atuação na promoção e na defesa dos direitos humanos. Membro da rede, Sueli Catarina de Carvalho, da Igreja Anglicana do Brasil, também defende que a pluralidade de opiniões das igrejas se torne visível.

— Deus ama as pessoas, sem distinções. Venho do movimento de mulheres. Sou a favor da descriminalização do aborto, por acreditar que mulher alguma faz essa opção de forma tranquila e que se trata de uma questão de saúde pública — opina.

Membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, Lusmarina Campos Garcia concorda:

— Historicamente, protestantes têm posições avançadas. Em um contexto democrático, a descriminalização do aborto é absolutamente necessária. Não concordo com a redução da maioridade penal, por achar que criminalizar jovens não resolve a violência. E espero que a gente consiga caminhar na direção de mostrar que homossexuais são tão criados à semelhança de Deus quanto heterossexuais.

[b]Fonte: [url=http://oglobo.globo.com/sociedade/religiao/evangelicos-planejam-acoes-para-dar-visibilidade-projetos-de-igrejas-na-area-de-direitos-humanos-17541315]O Globo[/url][/b]

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