Promotores do Ministério Público de Angola pediram a condenação de quatro bispos e ex-dirigentes da Igreja Universal mantidos naquele país, informa a coluna de Ricardo Feltrin, no UOL.
Há cerca de três anos eles vêm sendo acusados de formação de quadrilha internacional e de lavagem e contrabando de divisas.
No final de 2019, os angolanos destituíram o chamado “grupo brasileiro” e assumiram a Universal no país.
Em seguida, fecharam a TV Record, que não é mais transmitida lá.
Em 2020, autoridades locais começaram a fechar também uma série de templos pelo país.
Em abril do ano passado, mais de 50 pastores e bispos da igreja foram expulsos pelo governo. Todos estão proibidos de pisar outra vez em território angolano.
A Igreja Universal, em reiteradas notas divulgadas nos últimos três anos, disse enxergar o processo com extrema preocupação.
Ela acusa autoridades angolanas de “perseguição religiosa”, e afirma que Ministério Público local age com parcialidade e preconceito (veja nota mais abaixo).
Banco dos réus
Os quatro líderes brasileiros que estão sendo julgados são Honorilton Gonçalves (ex-chefão da TV Record, de onde saiu em 2013); Antonio Miguel Ferraz; Belo Kifua Miguel; Fernando Henriques Teixeira —ex-comandante da Record em Angola, e que é acusado de ter usado a emissora para lavagem de dinheiro. Todos negam as acusações.
Eles passaram a ser investigados e haviam sido proibidos de deixar o país.
Segundo o Portal R7, porém, após mais de um ano impedido de sair, Honorilton recebeu autorização e teria voltado ao Brasil em dezembro.
Não há informações se ele retornou àquele país para responder à ação, mas, antes de sair, ele teria enviado uma declaração dizendo que seguia “à disposição” das autoridades. Também não há informações do paradeiro dos outros líderes da igreja que estão sob julgamento.
A decisão final sobre o futuro dos quatro deve ocorrer no próximo dia 10 de março. Se condenados, segundo a imprensa de lá, poderiam ser presos por anos. Ou, naquela que hoje considerada a melhor das hipóteses, seriam apenas expulsos e proibidos de retornar (mais provável).
Membros e líderes angolanos da igreja fundada pelo bispo Edir Macedo no Brasil, em 1977, começaram a denunciar em 2019 que enormes quantias de dinheiro vinham sendo retiradas do país.
Governo Lourenço
A investigação contra a Universal é parte de um amplo programa de combate à corrupção iniciado com a posse do atual presidente, João Lourenço. 67 anos.
Ele foi eleito em 2017, no lugar de José Eduardo dos Santos, que governou o país de forma ditatorial por quase 40 anos.
Membros da família Santos são investigados por corrupção. Uma de suas filhas, por exemplo, era “sócia” da RecordTV em Angola. Santos e a Universal sempre tiveram um ótimo relacionamento. Quando Lourenço assumiu o poder, os anos de “bonança” acabaram para os dois lados.
Havia ainda uma outra acusação, de que os bispos teriam “obrigado” pastores e obreiros locais a fazer vasectomia. No entanto, Valente Luís, um líder angolano e membro do antigo Conselho de Direção da igreja, negou isso.
Segundo ele, todos que se submeteram a esse procedimento, o fizeram de livre e espontânea vontade.
Fortuna mensal sacada de Angola
A estimativa era de que ao menos US$ 10 milhões (cerca de R$ 50 milhões) eram tirados a cada mês de Angola,
O dinheiro era enviado em um suposto esquema complexo de diferentes rotas, que incluiria outros países africanos e da América Latina. O destino final seria sempre o mesmo: o Brasil.
Aqui, a, digamos, “holding” da Universal inclui a RecordTV, rádios, um portal (R7) e até um banco, o Digimais (antigo banco Renner).
Não é possível estimar o patrimônio da igreja, mas, segundo o que a revista “Forbes” divulgou em 2020, Edir Macedo teria um patrimônio pessoal de R$ 2 bilhões.
Como informou o jornalista Guilherme Ravache no ano passado, com exclusividade, desde que a emissora e o Banco Digimais (do qual Macedo é sócio) começaram a “misturar” seus negócios, o patrimônio líquido da Record cresceu 176%, passando de cerca de R$ 1,8 bilhão para R$ 5 bilhões em apenas um ano.
Nota da Universal
Na tarde desta sexta-feira (18) a Igreja Universal, por meio da UNIcom, seu departamento de Comunicação, enviou a seguinte nota a respeito do caso em Angola:
“Como o Ministério Público (MP) de Angola é o autor da ação, o pedido de condenação dos réus formulado por aquela instituição, por mais injusto e absurdo que seja, não é, propriamente, uma novidade.
A Igreja Universal do Reino de Deus de Angola e seus oficiais são vítimas de um grupo de ex-pastores que, com o uso de violência, documentos falsos e mentiras espalhadas pela imprensa, tentam expulsar a Universal do país africano e se apropriar do patrimônio da Igreja, construído graças ao suor dos fiéis.
Reafirmamos a inocência dos réus nessa ação. Ao longo do julgamento, depois de ouvidas todas as testemunhas (de acusação e de defesa), nenhuma das imputações que o MP fez foi confirmada.
Temos certeza de que o Judiciário angolano julgará a questão conforme as provas, com imparcialidade, e punirá os criminosos que têm patrocinado a xenofobia (preconceito contra estrangeiros) e o ódio religioso.
A Justiça prevalecerá.
Assina: UNIcom — Departamento de Comunicação Social e de Relações Institucionais da Universal”
Fonte: UOL (Coluna de Ricardo Feltrin)