As comissões pastorais sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) protestaram contra a adulteração do documento da 5ª Conferência-Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe e pediram o restabelecimento do texto votado em maio pelos bispos do continente, em Aparecida.
As mais de 200 mudanças no Documento de Aparecida foram feitas pelo cardeal chileno Francisco Javier Errázuriz Ossa e pelo bispo argentino Andrés Stanovnik, respectivamente presidente e secretário-geral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), antes de ser entregue ao papa Bento XVI, conforme o Estado publicou.
“Consideramos que a alteração do texto foi um desrespeito aos participantes da Conferência de Aparecida e, por isso, estamos enviando uma carta ao secretário-geral da CNBB, d. Dimas Lara Barbosa, sugerindo que na tradução portuguesa seja publicada a versão original”, disse o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, d. Pedro Luiz Stringhini.
A questão será discutida na próxima semana, em Brasília, durante reunião do Conselho Episcopal Pastoral, constituído pela presidência da CNBB e pelos presidentes das Comissões Episcopais Pastorais. Os bispos que defendem o restabelecimento do texto original argumentam que, ao aprová-lo, o papa Bento XVI não sabia que ele havia sido alterado.
“Lamentamos principalmente as mudanças, com cortes e acréscimos, nos artigos referentes às Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), apresentadas no texto original como mananciais de fraternidade e de justiça”, afirmou d. Pedro Luiz. Segundo o bispo, os participantes da reunião das Pastorais Sociais manifestaram sua insatisfação com a “edição” do documento.
O bispo de Jales (SP), d. Luiz Demétrio Valentini, membro da Comissão para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, também está revoltado com as mudanças, mas propõe que os bispos procurem superar o incidente se não conseguirem a reposição do texto original.
“A interferência do Celam foi um equívoco que não poderia ter ocorrido, mas acho que Aparecida vale mais pelo contexto e, por isso, temos de assimilar o baque para não perder o clima positivo que a conferência trouxe”, argumenta d. Demétrio. “Embora se tenha mexido no texto, as Cebs continuam presentes no documento”, acrescenta.
O Documento de Aparecida, divulgado com exclusividade pelo Estado uma semana após sua aprovação, em 31 de maio, foi entregue a Bento XVI no dia 11 de junho pelos cardeais Errázuriz, Giovanni Battista Re e Geraldo Majella Agnelo, presidentes da 5ª Conferência-Geral.
D. Geraldo, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, disse que não sabia que o texto havia sido mudado e pede o restabelecimento da versão original.
Repercussão
D. Pedro Luiz Stringhini
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
“Consideramos que a alteração do texto foi um desrespeito aos participantes da Conferência de Aparecida (…) Lamentamos principalmente as mudanças nos artigos referentes às Comunidades Eclesiais de Base”
D. Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales
“A interferência do Celam foi um equívoco que não poderia ter ocorrido, mas acho que Aparecida vale mais pelo contexto e, por isso, temos de assimilar o baque para não perder o clima positivo que a conferência trouxe’
Fonte: Estadão