Apesar da diferença entre ricos e pobres ter caído nos últimos anos, as desigualdades sociais que afetam mulheres e negros seguem em patamares muito elevados, mostrou uma pesquisa do governo em parceria com a Organização das Nações Unidas.

De acordo com a sondagem, as mulheres tinham em 2006 uma renda média de dois terços da renda de um homem. Já a renda média dos negros era a metade da de um branco.

“A discriminação motivada por sexo e por grupo de cor ou raça encontra-se disseminada em diversos campos da vida social”, apontou o levantamento, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).

Há dois anos, os homens recebiam em média cerca de 885 reais ao mês, enquanto as mulheres, 577 reais. Em 1996, a proporção era de 962 reais para os homens e 561 reais para as mulheres.

No mesmo período, os negros como um todo recebiam cerca de metade do rendimento dos brancos, perfazendo 502 reais por mês, contra 986,50 reais. Dez anos antes, a distância era um pouco maior: os negros ganhavam uma média de 482 reais ao mês, e os brancos, 1.044 reais.

“Os negros trabalham durante mais tempo ao longo da vida, entrando mais cedo e saindo mais tarde do mercado de trabalho”, diz o estudo.

Em agosto deste ano, o próprio Ipea divulgou um estudo que apontou queda na diferença de salário entre ricos e pobres. O crescimento econômico e programas sociais como o Bolsa Família foram apontados na ocasião como responsáveis pelo cenário.

A atual pesquisa, no entanto, indica que essa melhora não provocou mudanças tão efetivas nas condições de vida entre mulheres e negros, que constituem a maioria da população brasileira.

“O Bolsa Família tem um corte de renda, mas não é uma ação afirmativa”, afirmou Jorge Abrahão, diretor de estudos sociais do Ipea.

Geladeira e fogão

Considerada um dos principais obstáculos ao desenvolvimento econômico do Brasil, a educação é outro fator diferencial.

Os indicadores educacionais mostram que as mulheres apresentam melhores condições do que os homens. Essa vantagem, no entanto, não se traduz em cargos de melhor qualificação e em maiores salários.

“São as mulheres e os negros os que apresentam os maiores níveis de desemprego –11 por cento e 7,1 por cento, respectivamente, comparados a 6,4 por cento entre os homens e 5,7 por cento entre os brancos”, indicou a pesquisa.

Em 1996, 46 por cento da população feminina estava ocupada ou à procura de emprego, saltando para 52,6 por cento em 2006. A marca ainda é significativamente inferior à dos homens, de 72,9 por cento no mesmo ano.

Já os negros e negras estão menos presentes nas escolas e apresentam taxas de analfabetismo maiores. As desigualdades ficam ainda mais acentuadas quanto maior for o nível de ensino.

Apesar dos esforços do governo para desenvolver o Nordeste, os dados apontam diferenças significativas, com 24,5 por cento dos homens negros com 15 anos ou mais de idade na região não sendo capazes de ler um bilhete simples.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemora em seus discursos o crescimento da classe média e a diminuição da pobreza no país.

Hoje, já é possível encontrar geladeira e fogão na maioria dos lares brasileiros, mas enquanto somente 5,5 por cento dos domicílios chefiados por brancos não possuíam geladeira, essa situação alcança 17 por cento dos domicílios chefiados por negros.

“Esses números impressionam uma vez que se trata de um bem considerado de primeira necessidade.”

Família

A proporção de famílias chefiadas por mulheres aumentou de 19,7 por cento em 1993 para 28,8 por cento, em 2006. Ao mesmo tempo, apesar de tímido, o levantamento mostrou que também cresceu o número de famílias monoparentais masculinas.

Cada vez mais, os homens têm assumido a responsabilidade tanto pela provisão quanto pelo cuidado dos filhos e filhas, tarefa tradicionalmente realizada pela mulher.

Em 13 anos, o número de famílias formadas por casais com filhos chefiadas por mulheres aumentou 10 vezes, passando de 3,4 por cento em 1993 para 14,2 por cento em 2006.

“Supondo-se um padrão de família tradicional formado por mãe, pai e filhos, sem considerar os novos arranjos familiares contemporâneos, esse dado nos leva a pensar num horizonte cultural mais igualitário entre homens e mulheres dentro das famílias, seguidas de um maior empoderamento para as mulheres.”

Longevidade

E as desigualdades continuam também na expectativa de vida.

Em 2006, enquanto 9,3 por cento das mulheres negras tinham 60 anos ou mais de idade, entre as brancas essa proporção era de 12,5 por cento. Em 1993, essa diferença era de 7,3 por cento e 9,4 por cento, respectivamente.

“Apesar de a expectativa de vida da população ter aumentado, tendo crescido a proporção de idosos nos diferentes grupos populacionais, as desigualdades entre os grupos permanecem”, diz o levantamento.

No grupo masculino, a tendência é similar. Em 1993, os negros com 60 anos ou mais correspondiam a 6,5 por cento. Em 2006, a 7,8 por cento. Entre os brancos, no entanto, os idosos passaram de 8,2 por cento para 10,6 por cento no mesmo período.

“Esta constitui, portanto, uma das mais perversas facetas das desigualdades raciais existentes em nosso pas, pois as únicas justificativas para essas diferenças residem nas piores condições de vida a que negros e negras são submetidos.”

Fonte: Reuters

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