Os políticos não estão dispostos a ceder em uma questão tão polêmica quanto o aborto, ainda mais em um país conservador e de profundas raízes católicas.

Dezenas de borboletas de papelão percorreram há alguns dias o centro de Manágua. Foram utilizadas por um grupo de mulheres nicaraguenses que protestavam para exigir do Parlamento a restituição do aborto terapêutico (justificado por razões médicas), penalizado em 2006. Mas nenhum dos candidatos, mergulhados na campanha eleitoral para as presidenciais de 6 de novembro, está disposto a arriscar os votos.

Para Jaqueline, 32 anos, originária de Matagalpa, no centro da Nicarágua, esta é sua luta. Chegou de sua cidade para dizer aos deputados que restituam o que ela chama de direito das mulheres nicaraguenses. “Muitas morreram por não se praticar um aborto terapêutico. Os políticos são desconsiderados. Como não são mulheres, não podem se colocar no nosso lugar”, disse.

Para os analistas, os nicaraguenses estão à frente da campanha mais vazia e conservadora da frágil democracia alcançada depois da queda do primeiro governo sandinista, em 1990. “As campanhas não oferecem nada que possa atrair os eleitores”, afirma o sociólogo Oscar René Vargas.

[b]Partidos “pró-vida”
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O atual presidente, Daniel Ortega, continua à frente nas pesquisas, com 45,8% das intenções de voto, com uma cômoda vantagem de mais de 10 pontos sobre seu principal adversário, segundo uma pesquisa recente da CID Gallup. Em segundo lugar vem o empresário de oposição Fabio Gadea (33,5%) e depois o ex-presidente Arnoldo Alemán (10,1%).

Os políticos não estão dispostos a ceder em uma questão tão polêmica quanto o aborto, ainda mais em um país conservador e de profundas raízes católicas, onde até os guerrilheiros que antes lutaram contra a ditadura de Somoza carregavam crucifixos no pescoço enquanto atiravam coquetéis Molotov.

Na Nicarágua, a Conferência Episcopal tem um peso tão grande que nenhum candidato está disposto a contradizer os bispos. De fato, todos os aspirantes à presidência deste pequeno país se pronunciaram contra o aborto, incluindo o terapêutico, e se autodenominam “pró-vida”, inclusive Ortega, que participa da eleição apesar de o artigo 147 da Constituição proibir a renovação do mandato de um presidente ou a eleição de alguém que já tenha governado o país duas vezes.

[b]Fonte: El País[/b]

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