Pesquisa divulgada nesta terça (16) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que as mulheres negras recebem, em média, os menores salários e sofrem mais com o desemprego em relação a outros extratos da sociedade brasileira.
De acordo com o Ipea, em 2007, a taxa de desocupação entre mulheres negras chegava a 12,4%, contra 9,4% entre mulheres brancas, 6,7% entre os homens negros e 5,5% entre os homens brancos. Já a renda média das mulheres negras era de R$ 436, contra R$ 649 dos homens negros, R$ 797 das mulheres brancas e R$ 1.278 dos homens brancos.
Os números fazem parte do levantamento “Retrato das desigualdades de gênero e raça”, lançado por Ipea, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).
Segundo os pesquisadores, a diferença salarial entre mulheres brancas e negras não tem como única causa a discriminação, mas também a o nível de escolaridade.
Para a mulher negra é mais difícil tanto entrar no mercado como ocupar melhores postos. Mesmo no caso das ocupações preferencialmente femininas, como as que lidam diretamente com o público, como recepcionistas, por exemplo, as mulheres negras são preteridas.
Apesar de o desemprego atingir mais as mulheres, a pesquisa destaca que elas vêm aumentando a participação no mercado de trabalho nos últimos anos. Em 1996, 46% da população feminina estava ocupada ou à procura de emprego, mas essa proporção subiu para 52,4% em 2007.
Em 2007, enquanto as mulheres brancas ganhavam, em média, 62,3% do que ganhavam homens brancos, as mulheres negras ganhavam 67% do que recebiam os homens negros e apenas 34% do rendimento médio de homens brancos.
Porém, as diferenças de remuneração entre os grupos analisados vêm caindo ao longo dos anos. Entre 1996 e 2007, segundo o Ipea, as desigualdades de renda entre brancos e negros e entre homens e mulheres se reduziram em cerca de 13% e 10%, respectivamente.
A previsão é de que a equiparação salarial entre mulheres e homens aconteça em 87 anos, segundo os realizadores da pesquisa. Não há previsão, no entanto, para a equiparação salarial entre negros e brancos.
Em 2007, entre os 10% mais pobres da população, 67,9% eram negros. Essa proporção cai para 21,9% no grupo dos 10% mais ricos. Já no grupo do 1% mais rico da população, somente 15,3% eram indivíduos negros.
Em 2007, 41,7%, da população negra encontrava-se abaixo da linha da pobreza, enquanto 20% da população branca situava-se na mesma situação. No caso de indigência, 16,9% da população negra recebe menos de um quarto de salário mínimo per capita por mês, contra 6,6% dos brancos.
Trabalho doméstico
Segundo a pesquisa, mulheres têm altas proporções no trabalho doméstico (21,4%) e na posição de produção para próprio consumo e trabalho não remunerado (15,4%). Por outro, as mulheres têm as menores proporções de trabalho com carteira assinada (23,3%) e de empregador (1,2%).
Em 2007, do total de ocupados, somente 0,8% dos homens se dedicavam ao
trabalho doméstico remunerado. Em contrapartida, do total de mulheres ocupadas, 16,4% desenvolviam esse tipo de trabalho – queda de 1 ponto percentual em relação a 1996.
Segundo a pesquisa, o total de mulheres brancas ocupadas em trabalho doméstico remunerado caiu de 13,4% (1996) para 12,1% (2007), enquanto o de mulheres negras que desempenhavam essa mesma atividade passou de 23% (1996) para 21,4% (2007). Um efeito, segundo os pesquisadores do aumento da presença da mulher no mercado de trabalho.
O estudo destaca ainda que a proporção de trabalhadoras domésticas com carteira de trabalho assinada apresentou um relativo aumento entre 1996 e 2007, passando de 18,7% para 25,2% entre as negras e de 23,6% para 30,5%, entre as brancas.
De acordo com o levantamento, mesmo com o aumento positivo observado em ambos os universos, a disparidade entre as mulheres negras e brancas com carteira assinada permanece, o que reforça o aspecto da discriminação racial.
Bens duráveis
Dentre os bens duráveis, o mais disseminado é o fogão, presente em 99% dos domicílios brasileiros. Mas, segundo a pesquisa, enquanto 0,6% dos domicílios chefiados por brancos não possuíam fogão em 2007, esse percentual era mais de 1,4% entre os negros.
O Ipea enfatiza ainda que é alta a proporção de domicílios que não possuem geladeira – são 9,2% na média nacional -, sendo que entre os domicílios chefiados por negros na zona rural esse percentual chega a 38%. No caso dos domicílios chefiados por brancos na zona rural, o índice cai para menos da metade: 16%.
No entanto, segundo o instituto, o acesso da população brasileira a esse tipo de bem se ampliou. Em 1993, mais de 28% dos domicílios brasileiros e 79% dos domicílios chefiados por negros na zona rural não tinham condições de adquirir uma geladeira.
De acordo com o estudo, o acesso a microcomputador e internet nos domicílios, ainda é exclusivo de uma parcela muito pequena da população e teve um crescimento mais limitado, quando comparado ao do telefone celular, conforme o estudo.
Entre 2001 e 2007, a proporção de domicílios com microcomputador e internet cresceu, respectivamente 14 e 13 pontos percentuais. No caso dos domicílios com telefone móvel, o crescimento foi de 37 pontos.
Segundo o Ipea, em decorrência da ausência de microcomputadores, a proporção de domicílios que não possuíam acesso à internet é bastante elevada. Em 2007, o total de domicílios em área urbana sem acesso à internet foi de 76,7%, sendo que nas áreas rurais esse percentual chegou a 97,8%.
Afazeres domésticos
Em 2007, 89,9% das mulheres com 16 anos ou mais anos de idade afirmavam cuidar de afazeres domésticos, contra 50,7% dos homens. As mulheres dedicavam, em média, 27,2 horas por semana a essas atividades, contra 10,6 horas dos homens.
Segundo o Ipea, o número de horas dedicadas aos afazeres domésticos pouco se alterou entre 2001 e 2007. Na primeira vez em que o dado foi levantado, a média de horas era de 30,9 para as mulheres e 11,2 para os homens.
Fonte: G1