Em uma carta ao papa, 17 vítimas de abuso sexual e psicológico cometido pelo padre Lelio Cantini exigem que os bispos que acobertaram seus crimes sejam levados à Justiça na Itália. O pedido vem no dia em que o papa aceitou a renúncia do bispo da Irlanda, Joseph Duffy, que admitiu ter encoberto casos de abusos sexuais de crianças em seu país.
Na carta, as vítimas dizem que os bispos deveriam ser forçados a renunciar, como aconteceu não apenas na Irlanda, como em outros países europeus. “Nós pedimos esclarecimentos finais daqueles responsáveis por nossos casos e que os responsáveis sejam reconhecidos como culpados e isolados. Pedimos ainda que a Justiça, a irmã da verdade, siga seu rumo”.
O caso do padre Cantini, de 87 anos, é um dos mais escandalosos da Igreja Católica da Itália. As vítimas, que ficaram quietas por 30 anos, decidiram denunciar os crimes em 2004. Eles acusaram Cantini de criar uma espécie de seita na paróquia Rainha da Paz, em Florença, onde ele submeteu seus párocos a abuso psicológico e sexual.
Inicialmente, o então arcebispo de Florença Ennio Antonelli, mudou Cantini de paróquia por “razões de saúde”. Três anos depois das denúncias, Antonelli anunciou que Cantini foi considerado culpado em um julgamento canônico de “abuso sexual de garotas entre 1973 e 1987, falso misticismo e controle e domínio de consciências”.
Nenhuma acusação formal foi apresentada porque os casos prescreveram. Como punição, Cantini foi proibido de celebrar m,missas públicas e ouvir confissões por cinco anos, e foi forçado a recitar um longo salmo todos os dias, além de ofertas de caridade. Diante do ultraje pela punição leve, o papa decidiu demitir o padre m ano depois.
As vítimas comemoraram a demissão do padre, mas querem agora que os bispos que se calaram diante dos abusos também respondam na Justiça. Eles acusam, em especial, o vicário geral Claudio Maniago de ter tentado manter o caso em sigilo.
“Desde 2004, quando alguns de nós dolorosamente encontraram coragem de acusá-lo (Cantini), nossa Igreja tentou nos silenciar pela intimidação e ameaças, pedindo que nós ficássemos calados e, pior, pedindo que esqueceremos o passado doloroso e caminhássemos com fé”, disse uma das vítimas.
Irlanda
O papa Bento 16 aceitou nesta quinta-feira a renúncia do bispo Duffy, que havia pedido afastamento da Igreja em dezembro passado.
Duffy, 76, reconheceu recentemente que acobertou abusos de sacerdotes contra crianças em sua diocese. Ele é um dos quatro prelados que renunciaram nos últimos meses após a divulgação de dois relatórios oficiais irlandeses –o Relatório Ryan e o Relatório Murphy– que revelaram que durante 70 anos centenas de crianças da Irlanda sofreram abusos sexuais por parte de sacerdotes nesse país, sobretudo na arquidiocese de Dublin desde 1975 a 2004.
Os outros três são James Moriarty, bispo de Kildare e Leighlin; Donald Murray, bispo de Limerick, e John Magee, prelado de Cloyne, que foi secretário privado dos papas Paulo 6º, João Paulo 1º e João Paulo 2º.
A estas três a renúncia foi aceita em conformidade com o artigo 401/2 do Código de Direito Canônico, pelo que “se roga encarecidamente” aos bispos diocesanos que apresentem sua renúncia “se por doença ou outra causa grave ficasse diminuída sua capacidade para desempenhá-lo”.
Outros dois bispos auxiliares de Dublin, Eamonn Walsh e Ray Field, também em apresentaram sua renúncia e espera-se que em breve o papa Ratzinger as aceite.
A renúncia dos prelados ocorre após a carta enviada por Bento 16 aos católicos irlandeses em março, na qual pediu perdão às vítimas dos padres pedófilos, às que disse que sente “vergonha” e “remorso” pelo ocorrido.
O papa advertiu aos sacerdotes pedófilos que devem responder diante de Deus e os tribunais e ordenou uma inspeção das dioceses e seminários onde ocorreram os abusos.
O pontífice aceitou também hoje, por ter completado os 75 anos de idade, a renúncia ao governo pastoral da diocese de Derry, também na Irlanda, do bispo Francis Lagan.
Fonte: Folha Online