Colaboradores da Portas Abertas se unem a outras missões no Oriente Médio. O objetivo? Conectar os cristãos isolados e fortalecê-los em sua fé.
Ser cristão no mundo árabe pode ser um tanto quanto solitário. Novos crentes têm uma necessidade extrema de comunhão e alimento espiritual, porém não sabem onde encontrar. A Portas Abertas faz parte do GRMS (Global Response Management System). Diversas organizações participam desse sistema coletando informações sobre os cristãos na região árabe.
Por meio deste sistema, cristãos de uma das áreas de maior perseguição no mundo podem encontrar alguém para conversar sobre sua nova fé e, mais importante: eles se conectam com outros crentes da região. Um colaborador da Portas Abertas compartilhou sua experiência: “Nós esperamos ajudá-los a encontrar um lar dentro da igreja local”.
Chris Millan* tem trabalhado com cristãos no mundo árabe há quase 30 anos. Como missionário no norte da África, ele observou que as possibilidades para a população local ouvir o evangelho eram limitadas, e as chances de acompanhar aqueles que porventura se tornassem cristãos eram pequenas. Por esta razão, ele começou a trabalhar com esses novos crentes através de correspondência.
Antes da existência da Internet, essa era uma tarefa que consumia muito tempo. “Quando começamos este trabalho usávamos correspondência postal”, Chris explica.”Queríamos receber cartas longas, respondê-las e enviá-las de volta, e esperar por algumas semanas por uma resposta para podermos continuar o contato”. Hoje em dia esse contato é muito mais fácil. “Apenas faço login no sistema e vejo minhas mensagens”, diz Chris. “Encontro muitas questões genuínas de novos crentes interessados em manter acesa essa chama, mas também recebo respostas negativas”.
“Por que você diz que Jesus é o filho de Deus? Ele é só um profeta!” e “A Bíblia é um livro corrompido, por que você o lê?” Estes são alguns dos comentários mais comuns que Chris encontra ao abrir seu e-mail. “Embora muitas pessoas nos façam essas perguntas, elas querem protestar contra o que estão vendo nos meios de comunicação cristãos; nós tentamos responder até os comentários negativos, mas de uma forma gentil, na esperança de tocar o coração dessas pessoas”.
Chris admite que o trabalho, às vezes, pode ser frustrante: “É difícil se comunicar à distância e, algumas vezes, parece que você não consegue nenhum resultado”. Porém, é gratificante quando ele abre o e-mail e recebe a resposta de alguém. “Ver que eu pude encorajar um cristão em sua fé e sentir que sou parte de algo grande é a melhor recompensa”.
Trabalhando em correspondência com crentes árabes por tantos anos, Chris notou que o que acontece na região influencia o relacionamento, mesmo à distância: “Vemos isso de uma maneira muito direta no número de respostas que obtemos, por exemplo. Hoje em dia, nós não recebemos mais respostas da Síria. As pessoas têm outras coisas em suas mentes, como sobreviver à guerra”.
Uma época da qual Chris se recorda muito bem foi quando os mulçumanos extremistas estavam em conflito com o governo militar na Argélia, nos anos 1990. Naquela época, coisas horríveis estavam ocorrendo no país: aldeias inteiras foram massacradas. “Pessoas diziam para si mesmas: ’se isso é o Islã, não quero mais fazer parte’”, relata o colaborador da Portas Abertas. “Alguns correspondentes expressaram claramente sua revolta”. No presente, ele está esperançoso que muçulmanos da região possam ser contestados em sua fé da mesma forma: “Agora a irmandade muçulmana tem dominado algumas áreas, administrando países com ideias islâmicas, políticas, sociais e a situação econômica desses países está piorando. Sem dúvida, isso irá desafiar os mulçumanos a se perguntarem se essas ideias são verdadeiras ou não”.
Chris agora vive na Europa, sendo que a maioria das várias centenas de pessoas que trabalham no sistema de correspondências são moradores das nações árabes, os crentes locais. Chris está coordenando uma dessas equipes locais e tenta viajar para a região para conhecê-los sempre que possível. Isso faz com que ele continue vendo o quanto significa o seu trabalho e o da equipe local para os cristãos que recebem o contato.
Como exceção à regra, recentemente, ele pôde visitar uma das pessoas com quem ele estava se correspondendo: “Um homem muito comum, em seus 40 anos, dirigindo um táxi. Fiquei encantado em conhecê-lo e também sua família. É bom ver que as pessoas com quem me correspondo estão conectadas com os crentes locais”.
Relacionar novos crentes com os outros irmãos e igrejas do país – se existir – é o objetivo final: “Um novo crente não deveria permanecer por muito tempo ligado à pessoa que está respondendo suas mensagens; ao invés disso, ele deveria estar face a face com irmãos que estão próximos a ele”, disse Chris. Esta é a razão pela qual Chris e sua equipe tentam organizar, o mais rápido possível, o encontro entre o cristão solitário que envia a carta e o crente local, que atua nesse processo em auxílio a Chris: “Pode parecer um pouco arriscado nas áreas de perseguição, mas, pela minha experiência e fazendo as perguntas certas por e-mail, temos um bom senso sobre qual dos remetentes é alguém interessado realmente ou é algum espião”.
A igreja, em alguns casos, acompanha os crentes através do sistema de correspondências durante um longo período: “Tempos atrás, estava supervisionando a correspondência com um jovem e com um irmão da igreja local que estava em contato com ele”, recorda Chris, “mais de 200 e-mails foram trocados, o que é excepcionalmente longo para o sistema”. Este jovem fugiu, de país a país, depois de se converter a Cristo. “Ele estava sendo explorado, passando por uma situação extremamente difícil; mas poderíamos apoiá-lo, encorajá-lo e colocá-lo em contato com os irmãos por onde quer que ele fosse. Nesses tempos difíceis, o sistema GRMS providenciou a ligação dele com a igreja em todo o mundo”.
Agora, esse cristão voltou para o seu país de origem e mora com um amigo que não sabe que ele se tornou seguidor de Jesus. “Há poucos meses, seu correspondente local solicitou uma visita e a rede de acompanhamento local está em processo para que esse encontro seja realizado de forma segura”.
Sem o sistema GRMS é muito difícil para os novos crentes encontrarem amizade e alimento espiritual. Chris conta: “Na maioria dos países árabes você não pode simplesmente ir até uma igreja e dizer ‘olá, sou novo aqui’. Mudar sua religião para o cristianismo é algo muito delicado e pode ser bastante perigoso, quando revelado. Além disso, não há muitas igrejas, e mesmo quando há, elas são bastante isoladas da sociedade, não é fácil para um ex-muçulmano entrar”.
O GRMS é um caminho para se conectar com os cristãos evitando essas restrições: “Deus nos deu os meios de comunicação cristãos como uma porta para as pessoas e nós temos a responsabilidade de cuidar daqueles que decidirem passar por ela. Não acompanhar esses novos crentes seria como deixar um bebê na rua para morrer”.
*Por razões de segurança, o nome do cristão foi modificado.
[b]Fonte: Portas Abertas Internacional [/b]