Revólver
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Um crime bárbaro chocou o Brasil nos últimos dias. Um adolescente de 16 anos foi apreendido, na zona oeste de São Paulo, após matar os pais e a irmã. O crime ocorreu dentro da casa da família, na última sexta-feira (17). Em depoimento à Politica Civil, ele afirmou que não se arrepende e que “faria novamente”. Por ser menor de idade, o jovem foi encaminhado à Fundação Casa.

Após matar o pai e a irmã, o adolescente almoçou e foi para a academia. Ao retornar, esperou a mãe chegar, abriu o portão e a matou, quando ela viu os corpos do marido e da filha. Por ser integrante da Guarda Civil Municipal de Jundiaí, o pai possuía uma arma em casa, e o garoto sabia onde o armamento ficava guardado.

Em outro caso, um adolescente de 16 anos foi apreendido pela polícia após matar os pais a marteladas no fim da tarde desta quinta-feira (23), na Taquara, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Depois, ele ateou fogo no quarto do casal, segundo o registro policial.

O jovem foi apreendido por policiais militares do 18º BPM. Eles foram acionados na madrugada e, ao chegarem ao local, encontraram o corpo do casal carbonizado. O adolescente foi encaminhado à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).

O jovem já prestou depoimento, e ele teria dito que ocorreu uma discussão acalorada após ele não querer ir à escola, para descansar e se preparar para uma aula de jiu-jítsu. Os pais não concordaram com a decisão do adolescente.

Crimes envolvendo pais e filhos chocam a sociedade, principalmente quando o assassino é um adolescente que deveria possuir ligação afetiva com as vítimas. Esse tipo de tragédia, entretanto, tem ocorrido com certa frequência, no Brasil e ao redor do mundo, o que levanta a questão: “O que leva um filho a matar os pais?”. 

“A violência entre jovens e suas famílias pode ser atribuída à falta de valores espirituais e morais. A ausência de uma educação fundamentada nos ensinamentos cristãos, como amor, respeito e perdão, pode enfraquecer os laços familiares”, opina o pastor Rodolfo Capler, da Igreja Batista Alternativa, em Piracicaba (SP).

Além disso, segundo o líder religioso, há o pecado, que é uma força destrutiva que corrompe o coração humano, levando a ações imorais e violentas.”A quebra do quinto mandamento, por exemplo, ‘Honra teu pai e tua mãe’ (Êxodo 20.12), reflete a falta de respeito e reverência pelos pais, contribuindo para os conflitos dentro da família”, disse.

Capler destaca outro fator significativo: a desintegração da estrutura familiar e a falta de orientação espiritual. “Famílias que não têm uma base moral sólida, muitas vezes, deixam os jovens vulneráveis às influências negativas da sociedade, como a violência na mídia e uma cultura que glorifica o egoísmo”, avalia o escritor dos livros “Geração Selfie”, “O País dos Evangélicos” e “Projeto de Poder”, que acrescenta: “Esses fatores se combinam para criar um ambiente onde a violência pode surgir, afastando os jovens dos valores e princípios cristãos que promovem a harmonia e o respeito dentro da família”, comentou o pastor.

Desvalorização da vida 

Dentro dessa mesma linha de raciocínio, o pastor Doronézio Pedro de Andrade, da Primeira Igreja Batista de Vitória (ES), considera que os dias estão difíceis. Muitas pessoas perderam a capacidade de viver princípios e valores que norteiam a vida. “Como sociedade, estamos chocados com o ato criminoso desse adolescente, que, sem demonstrar nenhum arrependimento, ceifou a vida dos pais e da irmã”, disse.

De acordo com o líder religioso, nada justifica ou explica a atitude do adolescente. “A maldade arraigada no coração dessa pessoa extrapola o entendimento dos nossos corações”, pontua o pastor, que continua: “Uma pessoa que foi acolhida, amada, cuidada e orientada a viver em família deveria ser coerente nas relações e obediente nas disciplinas colocadas. Isso porque quem ama disciplina. O comportamento desse adolescente demonstra que a vida do outro não tem nenhum valor”, comentou Doronézio. 

Doronézio destacou que, mais do que nunca, é preciso reforçar que a vida vale muito. “Aqueles que não se sentem em condições de viver relações saudáveis, respeitosas e amorosas precisam falar e se afastar, sem cometer crime de qualquer natureza. Essa família que foi impedida de continuar vivendo jamais deveria receber o ato violento de alguém que foi acolhido com amor e dignidade”, disse.

Doronézio cita Mateus 10.21: Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão. “Precisamos ser proativos, evitando que situações semelhantes ocorram na sociedade”, ressalta.

‘Estímulos negativos’  

“Hoje em dia, a questão da violência tornou-se endêmica. Este mundo frenético em que vivemos está confuso e perigoso”, pontua o psicólogo Clovis Rosa Nery. O especialista considera, no entanto, que há alguns pontos que chamam atenção, especificamente no caso ocorrido em São Paulo. “O jovem era adotado, os crimes foram premeditados, e seu comportamento, antes e após, foi frio e calculista”.

Clovis diz que o ser humano carrega heranças genéticas que compõem os traços da  personalidade, forjados na fronteira de contato com o meio ambiente. “Há noticias de que ele foi chamado de ‘vagabundo’, após aplicação de uma punição, no caso a retenção de seu celular”, expõe e emenda: “Como isso o impediu de fazer uma apresentação escolar, segundo a mídia, certamente houve outras questões que interferiram na alteração de seu comportamento”, explicou.

De acordo com o psicólogo se verificam, notadamente, sucessivos estímulos negativos que, possivelmente, com uma pré-disposição genética, atuaram como gatilho para desencadear a resposta, ou seja, o crime macabro. Diante do fato de que o jovem disse não se arrepender da barbárie cometida, Clovis aponta que é possível levantar duas hipóteses que podem estar relacionadas entre si ou não.

“O rapaz possui um grave transtorno mental que somente exames apropriados esclarecerão e/ou ele já vinha sofrendo violência psicológica e, quem sabe, de outra natureza, de seus ‘familiares’, há algum tempo”, enfatiza o especialista.

Nery ressalta, no entanto, que é difícil fazer uma avaliação consistente à distância, sem exame detalhado dos fatos. “Até porque, ao que parece, o rapaz não se relacionava bem com os ‘pais’ adotivos, as brigas na família eram constantes, e ele mostrou experiência no uso de arma de fogo”.

Texto alterado do original escrito por Patrícia Scott publicado no site Comunhão. Acesse aqui.

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