Guardião da Paz na praça das Nações Unidas em Nova York. (Foto: Twitter/Missão da ONU no México)
Guardião da Paz na praça das Nações Unidas em Nova York. (Foto: Twitter/Missão da ONU no México)

Semanas depois de ter sido exibida pela primeira vez na praça das Nações Unidas em Nova York, a polêmica escultura “Guardião da Paz e Segurança Internacional” que muitos cristãos compararam a uma “besta do Apocalipse” já não existe.

Relatórios iniciais para o jornal cristão The Christian Post sugeriram que a escultura foi removida da área externa da ONU no final de dezembro devido a reclamações do público. Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral, explicou, porém, que a exibição foi temporária e foi retirada conforme previsto.

“A estátua a que você se refere era uma exposição temporária organizada pela Missão Permanente do México nas Nações Unidas. Ela foi retirada, conforme programado e antecipado, em 20 de dezembro”, disse Dujarric em um comunicado.

O frenesi cristão conservador sobre a obra de arte começou a crescer depois que a ONU tuitou uma imagem da exposição em 9 de novembro, levando a referências a certas escrituras da Bíblia, incluindo Daniel 7:2–4 que destaca uma visão de bestas, representando governos; um dos quais é representado com um corpo de leão e asas de águia.

Os cristãos também citaram Apocalipse 13:2, que simbolicamente se refere a uma besta que recebeu poder e autoridade de Satanás. Outra referência também foi feita a I Tessalonicenses 5:3, que fala do Fim dos Tempos, quando as pessoas dirão: “Há paz e segurança”, apenas para experimentar a ruína inesperada.

A escultura, doada pelo governo de Oaxaca, no México, e criada pelos artistas Jacobo e Maria Angeles, provavelmente não é o prenúncio do apocalipse que alguns cristãos presumem.

Antes da exibição do Guardião da Paz e Segurança Internacional na ONU, ele estava em exibição junto com uma escultura de dragão de 3,3 metros no Rockefeller Center, um complexo de edifícios comerciais em Nova Iorque, de 22 de outubro a 2 de novembro, como parte do Día de los Muertos, ou Comemorações do Dia dos Mortos, relatou o Hyperallergic.

O monumento é um “alebrije”, um tipo de artesanato popular no México.

“O guardião é uma fusão de onça e águia, visto que são animais fortes e muito representativos em nossa história pré-hispânica e nacional”, explicou a Missão da ONU no México no Twitter.

O que são alebrijes?

Os alebrijes foram criados em 1936 pelo artesão Pedro Linares, na época em que estava com uma doença grave. Ele sonhou com animais híbridos que serviam como guias e gritavam: “alebrijes!”

Por isso, são considerados não apenas peças de arte, mas também guias espirituais, de acordo com o jornal argentino Clarín. No Dia dos Mortos, é comum que os alebrijes estejam “entre altares, velas acesas e jantares partilhados”, diz a publicação.

“Esse artesanato é considerado um ser tão espiritual quanto fantástico, cuja missão é acompanhar cada um de nós desde tenra idade. Com o passar do tempo, eles começam a ganhar sua própria alma e passam pelos ciclos da vida assim como nós”, explica o Clarín.

A ONU é o anticristo?

No entanto, considerar o monumento como representação da besta de Apocalipse não é unanimidade. “Não há um consenso entre os cristãos sobre as características exatas dessa figura e nem o contexto em que ele surgirá”, explica Igor Sabino, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e diretor da Philos Brasil, que promove o engajamento cristão no Oriente Médio.

Sabino observa que é comum ver pessoas “dizendo que a ONU é o anticristo”, especialmente por sua missão de estabelecer a paz global após a Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, ele tem algumas ressalvas.

“A ideia de que a ONU pode ser o anticristo, porém, parece piada para qualquer cristão que estuda Relações Internacionais. Embora de fato haja países que a usem para defender pautas progressistas e se opor a Israel, o poder da ONU na política internacional é bem reduzido”, avalia Sabino.

Ele acrescenta: “A organização basicamente faz apenas o que os países que a integram (e financiam) desejam. A prova disso é que a ONU não foi capaz de impedir a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003. Tampouco por um fim aos atuais conflitos na Síria, Iêmen, Somália, Etiópia e em várias partes do mundo”.

Ainda em sua reflexão, publicada no Instagram, Sabino lembra o que as Escrituras dizem quando se trata do anticristo: “Um líder mundial com poderes especiais que trará uma falsa paz às nações. Em seguida, irá se opor aos cristãos e aos judeus, perseguindo-os até que Jesus retorne.”

Folha Gospel com informações de The Christian Post e Guia-me

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