Muitos eleitores norte-americanos ficaram chocados com as opiniões manifestadas pelo pastor de Barack Obama, pré-candidato do Partido Democrata à presidência dos EUA, mas não deveriam se surpreender, afirmaram líderes religiosos que conhecem as igrejas negras do país.
O ódio da discriminação, real ou imaginada, e as vivas memórias das injustiças sociais representam um traço comum do discurso dos negros norte-americanos e refletem-se em sua vida religiosa, dizem.
Obama criticou na terça-feira os comentários de seu pastor, Jeremiah Wright, e pronunciou um longo discurso sobre a questão racial nos EUA, realizado a fim de acabar com a polêmica que ameaçava tomar conta de sua campanha para conquistar a vaga do Partido Democrata nas eleições presidenciais de novembro.
Vídeos com os sermões de Wright, pastor da Igreja Unida da Trindade de Cristo em Chicago, têm sido reprisados nas TVs e vistos com bastante frequência na internet. As imagens mostram o líder religioso denunciando com veemência as políticas norte-americanas e a história do país em relação às raças.
Em um sermão, ele usa a frase “Deus amaldiçoe a América”, um anátema para muitos moradores desta nação extremamente patriótica. O impacto das palavras dele ganha uma força ainda maior devido ao alto volume de sua voz e à qualidade ruim de grande parte dos vídeos.
Obama, senador pelo Estado de Illinois, frequentou a igreja de Wright durante duas décadas. Segundo comentaristas, a ligação do pré-candidato com o pastor representa um problema porque coloca em dúvida seu bom senso, levanta perguntas a respeito do patriotismo dele e mina sua reputação de ser um político franco.
Esse fato ainda atinge um dos temas centrais de sua campanha, permitindo que os leitores questionem como Obama poderá ser um candidato da paz e da unidade raciais quando, durante duas décadas, manteve-se profundamente envolvido com um pastor cujas opiniões parecem contradizer a mensagem dele.
No entanto, as frustrações ligadas às questões raciais somadas a um desejo de ver corrigidas as injustiças alimentam os sermões de muitas igrejas negras, afirmou em uma entrevista o líder evangélico progressista Jim Wallis, que é branco.
“Há um grande montante de ódio na comunidade negra e nas igrejas negras. E o que incomoda neste caso é que a maior parte dos norte-americanos brancos se sentiria muito desconfortável na maioria dos sermões de domingo proferidos nas igrejas negras”, disse Wallis, fundador da comunidade e da revista Sojourners.
Fonte: Reuters