A organização cristã responsável pelo navio Logos Hope, Operação Mobilização Brasil (OM Brasil), se comprometeu, nesta segunda-feira (4), a realizar ações de reparação após se envolver na postagem em que acusou a cidade de Salvador, capital da Bahia, de ser conhecida pela crença em demônios.
De acordo com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público estadual, a OM Brasil deverá publicar um pedido de desculpas oficial em dois jornais impressos de Salvador até a próxima quarta (6). Além disso, a organização deverá produzir e custear um vídeo de três minutos sobre a temática do racismo religioso com representantes de diversas crenças.
O vídeo deverá ser difundido nas redes sociais e nas principais emissoras locais de televisão a partir do dia 18 de novembro. O roteiro e as versões finais dos materiais deverão ser aprovados pelo Ministério Público. Em caso de descumprimento, a OM Brasil estará sujeita ao pagamento de uma multa de R$1.000 por dia.
O acordo foi assinado pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (Caodh), promotora de Justiça Márcia Teixeira, pela coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e de Combate à Discriminação (Gedhdis), promotora de Justiça Lívia Vaz e pelo advogado Isaías Andrade, que representou o presidente da OM Brasil, o pastor Geremias Bento da Silva.
Durante a assinatura, a promotora Márcia Teixeira ressaltou a necessidade de se diferenciar o discurso ofensivo do direito de manifestar uma crença. “O discurso de ódio e a intolerância são um abuso da liberdade de manifestação de crença. O direito à liberdade religiosa não pode ser usado para autorizar a discriminação”, afirmou.
Já a promotora Lívia Vaz explicou que, apesar de não citar uma religião específica, a mensagem ofende principalmente os praticantes de religiões de matriz africana. “Algumas pessoas entendem que a mensagem não trouxe uma ofensa específica. Mas sabemos que, historicamente, são essas religiões que sofrem com essa associação a figuras como ‘demônios’ ou ‘diabo’”, disse.
No MP, 90% das denúncias de intolerância religiosa recebidas pelo aplicativo Mapa do Racismo tiveram como vítimas praticantes de religiões afro brasileiras. Segundo informações dos representantes da OM Brasil, a postagem discriminatória foi elaborada por integrantes da equipe alemã da OM e postada na rede social. Mas o escritório brasileiro, que representa a organização no país, assumiu o compromisso de reparar os danos causados.
Na manhã desta segunda-feira, 4, no Terminal da França, no porto onde o navio Logos Hope está atracado, um grupo de defesa das religiões de matriz africana realizou um protesto contra a declaração da OM Ships International, organização responsável pelo navio, considerado a maior livraria flutuante do mundo.
O caso
Com a chegada do navio Logos Hope, que abriga uma “livraria flutuante”, a Salvador, uma postagem, considerada preconceituosa, feita pela proprietária da embarcação começou a circular nas redes sociais.
“Ore por uma partida segura e uma simples viagem de dois dias para Salvador. Ore pela proteção, força e sabedoria para os membros da tripulação durante a estadia do navio em Salvador – uma cidade conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios. Ore pela equipe de eventos enquanto eles se preparam para um novo porto e que Deus possa ser glorificado através de cada um dos eventos que estão chegando”, diz a organização em uma mensagem postada no Facebook na manhã de terça-feira, 22 de outubro.
Em meio a diversos comentários de pessoas dizendo “amém” ou que estão “orando”, tinha também uma série de comentários de brasileiros, em português e inglês criticando o trecho em que afirmam que a cidade de Salvador é “conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios”.
Após a publicação desta nota, às 11h40 de sexta (25), a postagem foi apagada. Mas o site Bahia Notícias fez um registro antes da exclusão. (imagem abaixo)
Aberto na sexta-feira, 25 de outubro, o Logos Hope deve ficar em Salvador até hoje, 5 de novembro.
Fonte: Bahia Notícias