No dia 9 de dezembro de 2007, um homem armado entrou na Igreja Vida Nova em Colorado Springs e começou a atirar – o saldo foi de 3 feridos e 3 mortos. Veja o que aconteceu naquele dia e desde então.
Na manhã de domingo, Mattew Murray, 24, chegou à Igreja Vida Nova em Colorado Springs, Las Vegas, armado com um rifle automático, duas pistolas e mil balas de munição.
Antes disso, ele havia entrado no centro de treinamento de missionários de Jovens com uma Missão (Jocum), perto de Denver, e atirado em quatro funcionários, matando dois deles. Logo após, dirigiu durante aproximadamente 112 km no sentido sul, em direção a Igreja Vida Nova, cuja congregação conta com dez mil membros. Havia policiais locais conduzindo o trânsito da saída do segundo culto matutino. Murray estacionou e esperou.
Centenas de fiéis ainda estavam dentro da igreja, folheando os livros na livraria, conversando e tomando café na cantina, ou orando com os líderes.
De repente, Murray saiu de seu carro e, no estacionamento, começou a atirar. Entre os seriamente feridos estava David Works, atingido duas vezes no peito. Suas filhas, Stephanie, 18, e Rachel, 16, foram atingidas dentro da van da família. Stephanie morreu no local. Rachel, gravemente ferida, morreu mais tarde no hospital.
Então Murray entrou no prédio da igreja e atirou indiscriminadamente.
Desesperados, membros da igreja correram procurando abrigo.
Esse foi um dos momentos indeléveis de minha vida. Horrível como foi, sei que Deus estava lá. Passados três minutos, Jeanne Assam, uma segurança de plantão naquele dia, saiu em disparada e heroicamente seguiu em direção ao corredor, de cara com o rifle, e “o derrubou”, mas foi ferida múltiplas vezes.
Murray, um jovem tempestuoso que cresceu em um lar cristão, cometeu suicídio logo em seguida. O tiroteio na Igreja Vida Nova deixou três feridos e três mortos.
Brady Boyd, pastor da igreja, foi entrevistado por Phil e Pam Brown a respeito desse trágico episódio e seus efeitos na igreja. Também escreveram um epílogo.
Como você soube do tiroteio?
Por volta das 7h30 da manhã, uma de nossas equipes de segurança veio ao meu escritório e me contou sobre o tiroteio no centro missionário em Denver. Ele disse: “por causa disso, vamos intensificar a segurança aqui e trazer mais guardas”. Respondi: “Acho prudente” e voltei a orar pelos cultos daquele dia.
O Dr. Jack Hayford era um de nossos convidados para falar naquele dia. E os cultos foram ótimos. Ele e eu estávamos almoçando em meu escritório quando minha assistente, Karla, entrou correndo para dizer que tinha ouvido disparos no prédio. Mal ela acabou falar, ouvimos tiros no andar de baixo. Trancamos as portas e imediatamente liguei para descobrir onde minha esposa e meus filhos estavam. Fiquei aliviado quando soube que já haviam ido embora. Então comecei a ligar para os funcionários da igreja.
Foi quando nossa equipe de segurança informou que o atirador tinha sido atingido e dominado. Não soubemos naquele momento que ele havia morrido.
Após alguns minutos, a polícia chegou. Eu e o Dr. Hayford saímos da igreja com nossas mãos ao alto até a Tenda (o prédio dos jovens), onde aproximadamente cem pessoas haviam se reunido.
O que fizeram na Tenda?
Reuni todos e oramos. Observei bem à minha frente uma mulher muito perturbada que parecia estar em choque. Aquela senhora era Marie Works. Alguém disse que duas de suas filhas e seu marido tinham sido atingidos. Um médico da igreja puxou-me e disse: “Brady, eu estava lá e não acho que as duas filhas vão sobreviver”. Senti meu coração apertar.
O que vi foi o maior testemunho de perdão e redenção que jamais havia visto.
Só então soubemos que o atirador tinha morrido e que as duas garotas provavelmente não sobreviveriam.
Eu sabia que esse era um dos momentos indeléveis da minha vida. Horrível como foi, sei que Deus estava lá.
Também sabia que precisaríamos de conselheiros para tratar nossos traumas. Liguei para meu amigo e aliado, Matt Heard, pastor da Woodmen Valley Chapel, uma igreja próxima da nossa. Perguntei: “vocês podem nos emprestar o prédio de sua igreja?”
Matt respondeu que poderíamos usar o que precisássemos. Então pedi a um de nossos pastores para começar a ligar para todos os conselheiros profissionais licenciados que conhecíamos, para todo especialista em trauma que conhecêssemos e planejar a visita deles durante toda a semana.
De que maneira você via Deus agir?
De muitas maneiras. Um dos maiores milagres é que a maioria das pessoas ficou a salvo naquele dia. Se o atirador tivesse ido até a rotunda, teria armamento suficiente para machucar centenas de pessoas. Poderia ter feito reféns.
Sou grato pelo heroísmo de Jeanne Assam, que arriscou sua própria vida para descer o corredor onde o atirador estava e dominá-lo. Para mim, é uma verdadeira história de Davi e Golias. Jeanne tinha 14 anos de experiência na polícia e muito treinamento tático, mas nunca havia usado sua arma. O atirador tinha um rifle, mil balas de munição e duas pistolas. Acho que Jeanne tinha de dez a vinte balas e uma pistola 9 mm. Ela já estava com o jogo perdido. Mas vidas foram salvas por sua coragem. Agradeço a Deus por fortalecê-la e equipá-la para fazer o que fez.
Do meu ponto de vista, algo muito positivo foi ver os corações de nossos irmãos completamente ligados ao meu, e o meu aos deles. Certamente fiquei mais apaixonado pela igreja, pelas pessoas e pela cidade. Estamos mais próximos que nunca.
Também tivemos a oportunidade de compartilhar o evangelho com muitas pessoas. Tivemos que cancelar três de nossas apresentações de Natal, porque simplesmente não era apropriado comemorar enquanto estávamos enterrando duas jovens da igreja. Era hora de lamentar, não de comemorar. Mas, por causa de todas as notícias, tivemos a chance de compartilhar o evangelho com milhões de pessoas. O inimigo veio para pôr medo em nossos corações, mas tudo o que ele conseguiu foi dar-nos mais coragem e mais fé.
O inimigo veio para nos tirar uma oportunidade de compartilhar o evangelho com os perdidos, quando, na realidade, tudo o que ele fez foi dar-nos um palanque maior para compartilhar o evangelho.
E agora, você é a favor de ter armas na igreja?
Já me perguntaram várias vezes sobre minha opinião a respeito de ter armas no campus da igreja. Lembro-me então da estória de Jesus um pouco antes de ser preso, dizendo aos discípulos para desembainharem a espada. Por que ele fez isso? Talvez porque precisassem se proteger. Não creio que Jesus veja algum problema em nos protegermos.
Bom, não confiamos nas armas humanas, “carruagens ou cavalos”, confiamos em Deus para nos proteger. Certamente foi Deus quem encheu Jeanne Assam de coragem e deu-lhe a firme decisão de descer aquele corredor.
Qual o impacto que esta tragédia teve sobre sua fé?
Tudo isso veio confirmar minha fé. Você não sabe em que acredita até que você tenha de caminhar em meio à adversidade. Uma coisa é você se colocar em pé e dizer que a graça de Deus é suficiente e que a força de Deus é tudo de que você precisa quando as coisas vão bem. Quando as coisas vão mal, aí é necessário provar. E provamos ser verdade.
Esse não foi o único trauma que a Vida Nova experimentou recentemente…
Nos últimos dois anos, fomos severamente testados duas vezes. O primeiro pensamento de muitas pessoas quando elas ouviram falar do tiroteio na Igreja Vida Nova foi “como a igreja vai suportar tudo isso? Essa igreja nunca mais será a mesma”.
Bem, realmente [a igreja] nunca será a mesma. A Vida Nova perdeu sua inocência em alguns sentidos, porque toda vez que um ato de violência acontece a um grupo de pessoas o que é normal muda para sempre.
Muitas pessoas mencionaram as decisões ruins que o Pastor Ted Haggard tomou e certamente as foram. Mas, se conversarmos a respeito dessas coisas, também vamos ter de salientar que, por 22 anos como pastor dessa igreja, Deus o usou para cavar um poço profundo de espiritualidade nos corações das pessoas.
Tenho consciência disso. Tenho consciência de que estou sentado embaixo de uma árvore que não plantei nem cultivei, mas estou usufruindo de sua sombra e frutos hoje. Sou grato a Deus por ter permitido a Haggard fazer algo tão profundo nos corações das pessoas da Vida Nova. Se ele não tivesse feito isso, a igreja bem poderia colocar uma placa de “vende-se” agora.
Eu realmente acredito que a glória desta casa será maior que da anterior. Nenhum de nós, homens ou mulheres, pode ficar em pé e levar qualquer crédito por isso, já passou. É exatamente o meio onde Deus faz algo muito especial – quando não há competição para a glória daquilo que Ele faz.
Acho que a Igreja Vida Nova vai ter um tremendo derramamento do Espírito Santo nos dias por vir. As pessoas vão ser mais resolutas, mais estimuladas e mais fiéis. Nossa teologia vai ser mais simples.
Não vamos discutir pequenas diferenças de opinião. Vamos concordar sobre as coisas mais importantes e deixar que isso seja o suficiente. Creio que essas coisas vão acontecer na Vida Nova e, falando honestamente, acho que já começaram.
Se algo grandioso acontece, obviamente é Deus agindo. Acho que isso dá a Deus um grande espaço para vir e fazer grandes coisas entre nós. Então recebo tudo muito bem.
Epílogo: cuidado pastoral
Alguns dias depois dessa entrevista, o pastor Boyd cuidadosamente contatou a família de Matthew Murray: “vocês gostariam de vir e conhecer a Igreja Vida Nova… ver o lugar onde seu filho faleceu?”
Surpresos e gratos, Ron e Loretta Murray admitiram que havia muito tempo desejavam aquilo, mas sentiam que estariam invadindo o que eles sabiam ter sido uma situação trágica e difícil para a igreja. Então se mantiveram afastados.
Naquele momento concordaram em ir. Boyd então lhes perguntou se desejariam conhecer a família Works. Disseram que sim. Por sua vez, ele perguntou aos Works se eles gostariam de conhecer os Murrays. Surpreendentemente, também concordaram.
Antes do encontro, Boyd passou algum tempo sozinho com a família Murray, repassando os passos de Matthew no campus da igreja até o lugar no corredor onde o filho havia falecido. Muitas lágrimas e abraços foram trocados enquanto choravam e oravam juntos a respeito de toda aquela tragédia.
Mais tarde, no escritório do pastor Boyd, David e Marie Works se juntaram aos Murrays.
“O que aconteceu ali em duas horas no meu escritório… foi o momento mais significante que já experimentei no meu ministério, talvez em toda minha vida”, disse Boyd. Logo que as duas famílias entraram no meu escritório, todos se abraçaram. Sentaram, lamentaram, choraram juntos “por não sei quanto tempo”, disse Boyd.
Depois oraram juntos. Mais tarde, Jeanne Assam foi convidada a se juntar a eles. Quando Jeanne, que indubitavelmente havia salvado muitas vidas, mas tinha sido forçada a atirar no filho dos Murray, entrou na sala, os Murray foram até ela, abraçaram-na e livraram-na de toda culpa e remorso. O pai olhou para Jeanne e disse: “por favor, saiba que sentimos muito que você tenha sido obrigada a fazer o que fez. Sentimos muito.”
A Bíblia nos lembra que não devemos pagar o mal com o mal – não nos deixar vencer pelo mal, mas vencer com o bem. As famílias envolvidas nesses eventos trágicos estão mostrando como viver sua fé agarrando-se ao que é bom diante de uma dor inimaginável.
“Podemos conversar filosoficamente sobre arrependimento e redenção e continuar com Deus”, disse Boyd, “mas o que eu vi naquela sala do meu escritório foi o maior testemunho de perdão e redenção que eu jamais havia visto. Foi o testemunho de que Deus realmente pode restaurar e redimir”.
Fonte: Cristianismo Hoje