“Ele arrancou minhas roupas, me jogou na cama e abusou de mim. Depois, pediu para eu guardar segredo, senão, não me levaria para São Paulo”. O relato é de uma garota de apenas 11 anos, moradora da zona sul de Franca. O autor da agressão sexual, um padre.
O segredo veio à tona e caiu feito uma bomba na Igreja Católica. Integrante do clero da Diocese de Santo Amaro, a mesma do padre Marcelo Rossi, Juscelino de Oliveira, 38, o acusado, nega. A Polícia Civil não tem dúvidas de seu envolvimento e o indiciou pelo crime de estupro. Exames médicos comprovaram que a menina manteve relações sexuais.
O abuso sexual foi denunciado à polícia pelos pais da garota em outubro do ano passado e divulgado ontem pela DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). A princípio, os policiais não sabiam que o acusado era um padre. Juscelino Oliveira foi ordenado no dia quatro de dezembro de 2004. Atualmente, é o administrador da Paróquia de Santa Edwiges, situada no Jardim Noronha, em São Paulo.
Ele vem a Franca duas vezes ao ano em média, normalmente durante as férias, para visitar a mãe, uma aposentada que mora no Jardim Aeroporto. Quando está na região, costuma se hospedar na fazenda de um tradicional político da cidade. O padre é primo do pai da garota que o acusa e tinha o hábito de freqüentar a casa da família.
Foi numa dessas visitas que ele teria deixado a batina de lado e perdido a cabeça. “Foi durante as férias. Ele não tinha telefone e pediu a chave de casa para fazer uma ligação para São Paulo. Minha filha foi junto para abrir a porta. Era só uma desculpa. O sem-vergonha a levou para a minha cama e abusou dela”, disse a dona de casa Otacília Pereira de Oliveira, 50. Na oportunidade, a filha dela ainda tinha dez anos.
A menina guardou segredo por alguns meses, mas revelou a história em outubro durante uma inocente brincadeira de criança com uma prima da mesma idade. Elas estavam no quarto e brincavam de trocar confidências sobre quem já teria levado o namorado para cama. Em determinado momento, a menina disse para a prima que já havia transado com o padre.
A outra garota contou a descoberta para a mãe dela, que ligou na mesma hora para a mãe da vítima. A família da menina ficou revoltada e denunciou o caso à polícia no dia seguinte. “Abrimos um inquérito para apurar a ocorrência e submetemos a garota ao exame de corpo de delito. O laudo feito pelo IML constatou que ela manteve conjunção carnal”, contou a delegada Graciela Ambrósio.
Com base no resultado do laudo e no relato de testemunhas, a delegada indiciou o padre por estupro e disse que pediria sua prisão preventiva caso não se apresentasse para prestar depoimento. Na tarde de quarta-feira, temendo ser preso, ele compareceu à delegacia acompanhado de um advogado. Admitiu que freqüentava a casa da menina, mas disse que nunca tocou no corpo dela.
A delegada Graciela enviará o inquérito com as denúncias à Justiça até o fim do mês. Caso seja condenado, o padre poderá pegar de seis a dez anos de reclusão. Na tarde de ontem a reportagem procurou por padre Juscelino na casa de sua mãe. Ela atendeu e disse que ele havia saído de casa e não sabia quando voltaria. O advogado do padre, Wilson Inácio da Costa, disse não ter ‘nada a declarar’. A Arquidiocese de São Paulo informou que não tem conhecimento do caso e que só vai comentar o assunto quando a investigação estiver concluída.
Vítima conta detalhes da intimidade com o padre
A garota que afirma ter sido abusada pelo padre Juscelino completou 11 anos no dia três de setembro. Ela foi adotada em Sorocaba (SP) quando tinha três anos. Aparenta ser uma garota normal, embora agitada. Tem um biotipo normal para uma pessoa de sua idade, magra e alta. Disse que não gosta de brincar com bonecas e passa o dia em casa ajudando a mãe nos afazeres domésticos. Está um pouco atrasada na escola e só agora passou para a quarta série.
Ela falou com naturalidade sobre o caso e voltou a afirmar que manteve relação sexual com o padre. Disse também que o religioso já havia passado as mãos em suas partes íntimas anteriormente. “Um dia, minha mãe estava atrasada e ele foi me levar na escola. No meio do caminho, me falou um monte de coisas e passou as mãos nas minhas partes baixas”.
A garota não se lembra com exatidão quando foi violentada, mas afirma que teria sido durante o período das férias. “Meus pais estavam na casa de minha tinha e ele disse que queria ligar. Meu pai deu a chave de casa e eu fui com ele de carro. Ele entrou comigo e trancou a porta. Logo depois, disse que a ligação não tinha dado certo. Foi quando me levou para o quarto”.
Ela disse que tentou resistir, mas que não adiantou. Também chegou a gritar, em vão. “Eu não queria, mas ele me levou à força. Falou que se eu não fosse, não me levaria para São Paulo. Arrancou minha roupa e me jogou na cama dos meus pais. Eu gritava, gritava e ninguém escutava. Não sei quanto tempo ficamos juntos. Ele não falava nada. Nós dois ficamos pelados e ele enfiou o pênis em mim. Depois que terminou, pediu para eu guardar segredo”.
A menina disse que nunca ficou com outra pessoa e que não mais encontrou o padre após a ocorrência. “Estou brava com ele”.
Mãe diz que padre Juscelino é inocente
O padre Juscelino de Oliveira não se manifestou publicamente sobre as acusações. A mãe dele, a aposentada CMO, recebeu a reportagem em sua casa no Jardim Aeroporto e disse que ele havia saído com outros padres da cidade pela manhã e não informou quando retornaria.
Três números de telefones foram deixados à disposição para contato, mas o religioso não retornou. Coube à mãe dele fazer sua defesa. “Meu filho é inocente. Essa menina é louca e está inventando essa história. Ela sempre ficava na rua dando em cima dos meninos”, disse.Em depoimento à polícia, Juscelino de Oliveira admitiu que esteve na casa da menina em janeiro. Em julho, voltou ao local acompanhado de sua mãe e de um sobrinho para convidar a menina para um passeio até Rifaina. A mãe dela não deixou. A padre também contou ter ligado várias vezes de São Paulo para a residência dos pais da menina e que, quase todas às vezes, ela atendia. “Nunca toquei no corpo e não abusei sexualmente dela”, afirmou.
O padre disse também que sempre conversou muito com a garota sobre a escola e ela falava de namorados e dizia estar a fim de um menino. Na semana passada, ele foi novamente até a casa da família, mas não conseguiu conversar. Foi expulso pelo pai da garota.
Fonte: Jornal Comércio da Franca – SP