Um carro novo, cercado por paredes descascadas e pintura velha, chama a atenção de quem entra na Igreja Nossa Senhora da Consolação, no Centro de São Paulo.
Também pudera. O veículo está estacionado num local inusitado: dentro do templo, ao lado dos bancos, à espera do fiel ganhador da rifa. Cada bilhete custa R$ 10 e quem tiver o número sorteado leva o automóvel. O objetivo dessa ação, conta o pároco, é levantar fundos para o restauro da igreja. No ano do centenário da igreja, ele quer ainda que o local seja tombado.
“A rifa é um meio de envolver a comunidade”, explicou o padre José de Assis Batista, de 48 anos. Ele tem um desafio grande pela frente e pouco tempo. O carro foi “emprestado” por uma concessionária e será devolvido em 90 dias se a igreja não conseguir arrecadar os R$ 27.500 que ele vale. O sorteio será em 30 de agosto.
“É um desafio. Vamos torcer para a comunidade se empenhar”, disse Batista, que está há dois anos na Igreja Nossa Senhora da Consolação. Desviado para a lateral direita da igreja, o olhar curioso dos fiéis é inevitável. O padre ri. “Afastamos os bancos e colocamos o carro aqui dentro. Não tínhamos condições de deixá-lo fora”.
Centenário
Em setembro, a comunidade celebra um século da construção da igreja atual. Seja pelo desgaste sofrido pela obra nestes 100 anos ou pelas falhas na conservação, há problemas por todos os cantos. Rachaduras no teto e pinturas desfiguradas revelam onde o dinheiro deve ser investido. “Em 1995, caiu um pedaço de reboco do teto”, contou o padre. Segundo ele, os últimos reparos internos e externos foram feitos entre 2000 e 2002.
Os recursos da rifa e de doações que Batista espera conseguir “batendo à porta de todo mundo” também servirão para pagar os especialistas que fazem atualmente um levantamento do que precisa ser arrumado na igreja. “Estamos fazendo a topografia da igreja e vendo a questão hidráulica e elétrica”.
Arquiteto e um dos coordenadores dos projetos de reforma, Cleiton Honório de Paula explicou que “não há risco iminente” na estrutura da igreja, que há 210 anos, naquele mesmo lugar, era uma capelinha. “A cidade cresceu e houve a necessidade de uma igreja maior”, contou o padre Batista.
De acordo com o arquiteto, o para-raios do telhado foi roubado e ali não foram instaladas calhas para escoar água da chuva. O resultado são pequenas infiltrações. “De mogo geral, as instalações hidráulicas e elétricas estão em ordem, mas precisam melhorar muito. Chovia dentro da igreja e isso causa degradação química [na pintura]”.
Tombamento
O custo da obra, incluindo todos os projetos e os reparos em si, foi estimado entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões. Para tentar conseguir parte desse dinheiro, o padre entrou há um mês com o pedido de tombamento da Igreja Nossa Senhora da Consolação junto ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp). “Essa igreja é um patrimônio da cidade. A reforma é um impulso para a comunidade e para o Centro de São Paulo”.
Fonte: G1