Pela primeira vez na História da Argentina, um integrante da Igreja Católica será levado a julgamento por ter participado de graves violações aos direitos humanos durante a última ditadura militar (1976-83).

O clérigo que sentará no bancos dos réus é o padre Christian Von Wernich, acusado de ter participado ativamente nas torturas de prisioneiros políticos, em 19 assassinatos e 33 seqüestros, incluindo o de filhos de desaparecidos. A Procuradoria de La Plata pediu pressa no início do julgamento, que, segundo fontes extra-oficiais, começará em dezembro.

Von Wernich, ex-capelão da Polícia Bonaerense, agia sob as ordens do ex-delegado-geral, Miguel Etchecolatz, que há 11 dias foi condenado à prisão perpétua por assassinatos e torturas. Ambos eram subordinados ao general Ramón Camps, que pregava uma ‘limpeza étnica de subversivos’. Von Wernich também era confessor dos torturadores e os absolvia com facilidade de eventuais culpas.

Jacobo Timmerman, empresário argentino já falecido, foi vítima do padre – que o torturava com especial sadismo por ele ser judeu . ‘Era um canalha’, dizia Timmerman. Outro preso que teve contato com o padre foi Luis Velasco, que disse que o padre ‘ria dos torturados com choques elétricos’.

A Igreja Católica colaborou ativamente com a ditadura. Padres e bispos assistiam a sessões de tortura e pediam aos prisioneiros que se confessassem para ‘salvar suas almas’.

O próprio arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio – ‘papável’ argentino no conclave que elegeu Joseph Ratzinger – é acusado pelo prestigiado jornalista Horácio Verbitsky de ter delatado dois jesuítas, depois seqüestrados e torturados.

Caso López

Duas testemunhas que prestariam depoimento no caso, desistiram, por temor a represálias de grupos da extrema direita. A decisão foi tomada depois do desaparecimento, na última segunda-feira, de uma testemunha crucial do caso Etchecolatz, o pedreiro aposentado Jorge Julio López, de 77 anos.

Tanto o presidente Néstor Kirchner como organismos de defesa dos direitos humanos suspeitam que ele foi seqüestrado por simpatizantes de Etchecolatz.

O governo fez um acordo com empresas telefônicas para transmitir cerca de 25 milhões de mensagens de texto a celulares com os dados de López.

Fonte: Estadão

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