Embora a Igreja Católica negue possuir candidatos, um encontro entre Eduardo Paes (PMDB) e cerca de 100 padres, na tarde da quarta-feira (15), revela que a aliança entre religião e política partidária não ficou relegada ao primeiro turno das eleições no Rio de Janeiro.
Durante o almoço, na casa do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), foram tratadas “questões da cidade”, segundo o peemedebista, mas vários sacerdotes saíram com material de campanha nas mãos.
“Esse encontro que aconteceu ontem foi uma grande arapuca. Eu fui convidado, mas não pude ir. No convite, também não foi dito sobre o que se tratava a reunião e sobre seu uso político. Nós temos que tomar muito cuidado, porque querem nos instrumentalizar nesta campanha”, acusou, na quinta-feira, Frei Neylor, sacerdote franciscano do Convento de Santo Antônio.
“Trata-se de um apoio público ao Eduardo Paes”, revelou o padre Jorjão, líder da Renovação Carismática na Igreja carioca, ao deixar o evento na casa de Dornelles.
Segundo o padre Leandro Cury, assessor de imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, “a Arquidiocese não possui candidatos e também não indica candidatos”. “Como ela é membro da sociedade e como seus fiéis são também cidadãos, a Igreja Católica sempre os orienta para prestarem atenção nos candidatos comprometidos com valores humanos”, informou.
De acordo com religiosos, que não quiseram se identificar, ouvidos pelo UOL Eleições, contudo, essa neutralidade formal externada pela Igreja não prevalece nos encontros fechados. Dois titulares de paróquias da zona sul e outro de uma paróquia da zona oeste do Rio informaram que, ao longo da semana anterior à votação do primeiro turno, no dia 5, o Cardeal arcebispo do Rio, Dom Eusébio Oscar Scheid, promoveu reuniões nas quais orientou religiosos submetidos à Arquidiocese a votarem no candidato do PMDB.
Questionada pela reportagem, a Arquidiocese do Rio de Janeiro reiterou que “não possui candidatos e também não indica candidatos”.
“Houve orientação, sim, mas aquele era outro momento. Havia ameaças sérias de candidatos não comprometidos com a vida e com valores religiosos sérios”, confirmou um seminarista.
Cerca de 15 dias antes do primeiro turno, Dom Eusébio já havia entregado uma bênção do Papa Bento XVI, solicitada pelo próprio Cardeal, ao peemedebista. Tanto Paes quanto Fernando Gabeira (PV), minimizam as manifestações da Cúria:
“Foi um encontro informal, até porque a Igreja Católica não apóia oficialmente nenhum candidato. Ela é aberta a todos”, declarou Paes.
“Não creio que a Igreja tome posição oficial em favor de algum candidato”, concluiu Gabeira, que se encontrou com o Cardeal Dom Eugênio Salles, Arcebispo emérito do Rio, no início desta semana.
Apoio de Crivella gera mal-estar
Se a formalização do apoio do senador Marcelo Crivella (PRB), candidato derrotado à Prefeitura e autodeclarado bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, à candidatura de Paes pode atrair o voto evangélico, por outro lado, esse apoio já tem afastado parte do eleitorado católico.
“Paes está dando tiros no pé, faz um discurso, mas anda com quem faz o contrário do que ele diz defender”, comentou uma autoridade ligada à prelazia pessoal do Opus Dei, no Rio, acerca dos atos de campanha nos quais o peemedebista apareceu junto com Jandira Feghali (PCdoB).
O padre Luiz Corrêa Lima, jesuíta vinculado à Pontifícia Universidade Católica do Rio, onde Paes graduou-se em Direito, também manifestou a existência de um “mal-estar” entre a comunidade universitária católica.
Fonte: UOL Eleições