Igreja Católica proíbe padres de realizar casamentos em chácaras ou salões de festas; regra divide opiniões e desagrada noivas de Rio Preto/SP.
No próximo dia 8 de setembro, às 20h30, a estudante Jaqueline Barros dos Santos, 23 anos, e o vigilante Marco Aurélio Abreu Canzela, 29, realizam o sonho de se casar. Mas a burocracia da Igreja Católica pode fazer com que a cerimônia dos dois, católicos praticantes, seja realizada por um pastor.
A atitude radical foi provocada pela própria Igreja. O bispo de Rio Preto, dom Paulo Mender Peixoto, proibiu que padres realizem casamentos fora de paróquias. Não é mais permitido, portanto, que haja uniões católicas em chácaras ou salões particulares.
O fato provoca críticas de religiosos, mas Jaqueline não vê outra saída. “Em junho do ano passado já havia combinado de fazer o sacramento na chácara. Já e paguei toda a cerimônia”, afirma.
Padre Guido Bogotobel, 75, é incisivo. “Não é agora que a igreja está proibindo o casamento fora da igreja. Nunca foi permitido, mas alguns padres teimavam em desobedecer as ordens, o que resultou até em casamentos nulos”, afirma o padre.
De acordo com ele, a decisão não muda de acordo com o padre. “Está escrito no direito canônico: o matrimônio como sacramento deve ser celebrado na igreja paroquial ou capela que tenha autorização do papa.”
Para a Igreja, o sacramento fora da igreja está sendo muito descaracterizado. “Nossa intenção é evitar abusos e mostrar o verdadeiro sentido da união”, diz.
Cúpula quer combater o ‘tráfico de coisas sagradas’
A palavra “simonia” significa tráfico de coisas sagradas ou espirituais. É dessa forma que o Tribunal Eclesiático de Rio Preto caracteriza a ação de fiéis que insistem em oferecer quantias elevadas de dinheiro para convencer padres a realizar sacramentos fora de paróquias e capelas autorizadas.
“É notável a falta de consciência sacramental das pessoas. Elas chegam a agredir padres com propostas indecorosas”, afirma o juiz eclesiástico Aparecido José Santana. Para ele, muitos desconhecem a existência de um lado jurídico durante o ato do sacramento.
Para o bispo de Rio Preto, dom Paulo Mendes Peixoto, essa não deveria ser uma situação polêmica. “O casamento fora da igreja, em chácaras e clubes, sempre foi proibido. O que acontece é que tem padres que desobedecem”, diz. “Já soube de padre que recebeu oferta de R$ 700 para ir até o local. É um desrespeito”, afirma.
Na opinião do bispo, o católico que não vê o lado sagrado do casamento realizado na paróquia não deve se casar na religião. “Estão transformando o sacramento em ato social e muitos padres estão sofrendo pressão. O modismo não pode interferir em um ato sagrado como acontece, principalmente, no universo de artistas”, afirma dom Paulo.
O assunto é tão polêmico que o bispo vai além e fala sobre o casamento de Daniela Cicarelli e Ronaldo. “Esses famosos são responsáveis pelo modismo. Casaram em um castelo e levaram o padre Antônio Maria para realizar o sacramento, mas nem divorciados eram. O padre deveria ser punido”, diz.
Quanto à bênção, jeito que alguns tentam dar para levar o padre, o bispo enfatiza: “Bênção é uma coisa, simulação é outra. Algumas pessoas chamam o padre para dar a bênção, mas fazem todos os rituais do sacramento. Isso não pode. Se o padre fizer isso, será punido e o casamento, anulado”.
Noivo com câncer é exceção para a regra
Padre Francisco, do Solo, tem permissão para realizar um casamento fora da igreja. Mas a exceção se deu porque um dos noivos tem câncer.
Fonte: Bom Dia Rio Preto