As eleições deste ano vão colocar em posições antagônicas integrantes do clero do país. De um lado, a Igreja, que reprova o envolvimento de sacerdotes na política; de outro, os padres que concorrem na disputa

O novo Código de Direito Canônico –que vigora desde 1983 e serve como base da Igreja– diz que “os clérigos são proibidos de assumir cargos públicos que implicam participação no exercício do poder civil”.

O assessor para assuntos canônicos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Hugo Cavalcante, diz que há “limitação” nas funções do padre quando ele se filia a um partido. “Quando isso ocorre, ele assume as diretrizes impostas pelo partido e limita a amplitude da missão de atender a todos. Uns serão privilegiados em detrimento de outros.”

Mas, segundo ele, não há punição preestabelecida. “As dioceses avaliam caso a caso.”

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) informa que 31 candidatos a prefeito do país declararam ter como profissão “sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa”. No levantamento, no entanto, não é especificada qual a religião.

A Folha ouviu quatro padres candidatos a prefeito. Dois deles –Aldo Mariano (PMDB), de São Bento do Una (PE) e Milton Alves da Silva (PT), de Guaraí (TO)– tentam a reeleição.

Jocimar Dantas (PMDB), participa do pleito em Jardim do Seridó (RN) e Sóstenes Arruda (PSOL), em Jaboatão dos Guararapes (PE).

Padre Jocimar, 30, como é conhecido, diz que os “obstáculos” colocados pela Igreja foram tão grandes que, por várias vezes, pensou em desistir da candidatura.

Filho de político, diz que a Diocese de Caicó (RN) não queria dar a licença para que ele se afastasse da paróquia da cidade vizinha, São José do Seridó, o que, no fim, acabou ocorrendo. “Não queria ir contra a Igreja, mas acho que é direito do sacerdote pedir licença para concorrer a um cargo.”

Prefeito de Guaraí (TO), padre Milton, 45, diz que a partir de 1º de agosto se afastará da paróquia onde exerce suas funções, em Presidente Kennedy, para se dedicar à campanha. “Procuro não realizar o culto para falar de questões políticas, para não ter nenhum tipo de confusão entre o mundo religioso e o político.”

Aldo, 44, padre-prefeito de São Bento do Una, diz que tem de “lidar com a pluralidade da sociedade”. “Na minha administração, tento aplicar princípios éticos, que não são separados da religiosidade”, diz.

Já padre Sóstenes, 43, que já estava licenciado da Igreja antes da candidatura por trabalhar como diplomata, diz que “não existe nada neutro”. “Nem na política, na imprensa ou na Igreja.”

Fonte: Folha Online

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