Apesar do carisma do papa Francisco, diversos grupos estão contestando algumas decisões do líder da Igreja católica. Eles reivindicam regras claras dentro da instituição e acusam o pontífice jesuíta de confundir a defesa dos direitos dos pobres com a promoção do pauperismo.
[img align=left width=300]http://f.i.uol.com.br/folha/mundo/images/17052123.jpeg[/img]Recentemente foram colados centenas de cartazes em diversos bairros de Roma com uma foto do papa com uma expressão fechada. Abaixo da imagem, uma lista reclamações, em dialeto romano: “Francisco, você destituiu os chefes das congregações, removeu sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e a dos Franciscanos da Imaculada, ignorou cardeais. Onde está a sua misericórdia?”
Ao mesmo tempo em que os cartazes surgiam nos muros da cidade, diversos cardeais receberam pelo correio uma versão fictícia do jornal do Vaticano, o “L’Osservatore Romano”. Na capa, havia uma lista de perguntas ao papa feitas por um grupo de cardeais conservadores. Como resposta, “sic et non” (sim e não em latim), zombando do papa em seu próprio território.
[b]ACUSAÇÕES[/b]
As acusações contra Francisco se referem aos problemas que ele teve com os setores mais conservadores da Igreja Católica e da Cúria Romana, o governo central da Igreja. O cartaz cita a briga com a Ordem Soberana e Militar de Malta, uma organização que remonta há quase mil anos, formada hoje por laicos de famílias nobres dedicados a trabalhos humanitários.
O Grão-Mestre, Matthew Festing, acabou destituído pelo próprio pontífice porque, segundo a imprensa italiana, esta ordem distribuía preservativos na Ásia. Mas os dizeres do cartaz citam também a aposentadoria forçada do ultraconservador Stefano Manelli, 83, fundador em 1970 da ordem dos Frades Franciscanos da Imaculada.
Além disso, criticam o fato de que o papa “ignora cardeais”, em alusão aos quatro cardeais ultraconservadores que em setembro passado pediram publicamente em uma carta que Francisco corrija os “erros doutrinais” de sua encíclica Amoris Laetitia, em relação ao tema da comunhão dos divorciados que se casaram de novo.
A polícia está investigando quem está por trás da campanha dos cartazes e falsos jornais, mas até agora não descobriu quem comandou a ação. Uma das hipóteses é que se trate de um grupo conservador com dinheiro porque custou caro imprimir os cartazes, sem contar que tiveram que pagar várias pessoas para colar esses cartazes por toda a cidade.
[b]REAÇÃO[/b]
O grupo de cardeais encarregados pelo pontífice pelo estudo e o projeto das reformas da Igreja, o chamado C9, reuniu-se na semana passada. Normalmente estes encontros ocorrem sem a divulgação de grandes anúncios, mas desta vez eles divulgaram um breve texto dizendo: “Em relação aos recentes acontecimentos, o Conselho de Cardeais expressa o pleno apoio ao papa, assegurando, ao mesmo tempo, a adesão e o apoio pleno à sua pessoa e ao seu magistério”.
O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos, conhecido por suas posições conservadoras, condenou, em um programa de televisão, “os métodos anônimos, inspirados pelo diabo, que querem semear a divisão”.
O papa não fez uma referência direta ao caso, mas falou de “difamação e calúnia” entre os católicos. “Estas sementes arruínam a nossa comunidade, que deveria brilhar por sua acolhida, solidariedade e reconciliação”, disse Francisco durante o Angelus do último domingo (19).
[b]OPOSITORES DE FRANCISCO[/b]
O papa tem vários opositores ultraconservadores, entre jornais, sites da internet e outros. O pontífice foi eleito para reformar a Igreja católica depois dos escândalos que sacudiram o Vaticano e culminaram na renúncia de Bento XVI. As reformas de Francisco incomodam muita gente. Por exemplo, o presidente da Fundação Lepanto, Roberto De Mattei, declarou ao jornal italiano La Stampa que “A Igreja vive um dos momentos de maior confusão em sua história, e o papa Francisco é uma das causas. Segundo Mattei, a oposição tem se expandido para bispos e teólogos fiéis aos pontífices predecessores, Bento XVI e João Paulo II.
O ataque ao papa Francisco é global. Segundo Agostino Giovagnoli, professor de História Contemporânea na Universidade Católica e especialista em diálogo com a China, na galáxia da dissidência contra Francisco há um forte componente geopolítico. De acordo com esses críticos, o papa deve afirmar a liberdade de religião como um argumento político contra Pequim, em vez de buscar o diálogo através da diplomacia.
O pesquisador Flavio Cuniberto, autor de um livro crítico com a doutrina social do papa, afirmou que “Francisco não atualizou a doutrina, mas demoliu esta doutrina”. Segundo Cuniberto, “o papa confunde a pobreza com o pauperismo dogmático.”
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]